Um importante magnata de uma imprensa irlandesa da década de 50 é encontrado morto. Ao que tudo indica ele teria cometido suicídio, estava com a boca em frangalhos, com um buraco em sua nuca e agarrado na sua espingarda. Este é começo do livro, uma síntese do que Benjamin Black descreve em seu primeiro parágrafo, claramente mostrando a tônica que dará em suas páginas seguintes, claramente preparando o leitor para mais cenas assim.

O homem morto se chama Richard Jewell, enquanto metade da cidade comemora a notícia e a outra metade não se importa com ela. Incluindo sua própria família, onde muitas pessoas tinham motivos para apertarem o gatilho. O detetive Hackett é chamado às pressas para ver a cena, e logo de cara passa a ter certeza que não foi suicídio, afinal, ninguém que atira em si mesmo consegue repousar abraço à arma que disparou contra seu rosto. A não ser, é claro, que alguém tenha preparado toda a cena. Para que ele consiga dar um fim ao mistério, só uma pessoa poderia ajudá-lo, e é aí que aparece Garret Quirke, o patologista presente em outros livros do autor.

Este é o enredo de Morte no Verão, o novo livro de Benjamin Black, pseudônimo do escritor William John Banville. O autor já é consagrado no seu país natal e na Grã-Bretanha como um todo, mas eu ainda não tinha lido nada dele. Morte no Verão faz parte da série Quirke, iniciada com o livro O Pecado de Christine, também lançado pela Rocco.

Achei o livro extremamente forte, o primeiro parágrafo da obra já revela uma cena fortíssima, mostrando todo peso que o livro trará, sem medir palavras na descrição das cenas de ação, uma verdadeira maravilha para os fãs do estilo. Tudo é muito visceral, aliás, a ambientação, assim como a descrição das cenas, é o ponto forte do livro, o autor detalha os móveis das locações do livro, bem como as roupas da época. Há realmente uma preocupação em inserir o leitor no realismo da década de 50.

E se a ambientação e a descrição são os pontos fortes da obra, também acabam sendo o que mais incomoda. É! A quantidade de interrupções nas investigações para descrever o ambiente e as ações de cada personagem toma muito tempo do livro, deixa ele bem chato. Apesar de ser algo que me atrai muito nos livros, esse detalhamento em explicar com cuidado a mente de cada personagem e a percepção que o investigador vai criando conforme entrevista os suspeitos, acaba que isso quebra, de certa forma, completamente o desenvolvimento do enredo, prejudicando muito o livro e deixando sua leitura bem difícil.

Em contrapartida esta análise minuciosa da personalidade dos personagens projeta ao leitor uma visão diferenciada de cada um deles, o problema é que a maioria dos personagens apresentados são completamente dispensáveis.

Como disse, apesar de gostar muito deste estilo de escrita, com detalhes, achei que o autor não utilizou este artifício da maneira correta, não teve o cuidado necessário para construir o desenvolvimento da sua obra, equilibrando descrição e desenvolvimento. Mas o que mais me deixou chateado  com o livro foi o fato dele ser repleto de clichês de livros de suspense, o desfecho da obra era bem claro pra mim desde o seu primeiro terço, sem contar que toda o formato armado para a resolução do caso já foi exaustivamente utilizado neste estilo literário, desde os primórdios, fazendo o autor pecar, e muito, na originalidade do seu livro.

A obra poderia ser maravilhosa, inclusive tem uma premissa muito interessante e curiosa, sem contar que o cenário onde se passa é absurdamente lindo, em uma época grandiosa da Europa, mas a maneira como ele escreve e o caminho que escolhe para o livro decepcionam e fazem a leitura ser maçante e bem fraca.

Claro que estás opiniões são minhas, ou seja, para mim o livro não funcionou, porém você pode arriscar a leitura mesmo assim, tem boas chances de o livro ser agradável para você. Eu acredito que ele seja uma boa porta de entrada para o gênero, pois realmente vejo muitos pontos positivos nele, e a história, apesar de tudo, é bem envolvente. Mas para leitores mais experientes dentro do gênero, poderá ser um belo balde de água fria.

A série conta com seis volumes ao total e aqui, estamos no quarto. Espero que o próximo, chamado Vengeance, não demore muito para ganhar sua versão nacional.

  • A Death in Summer
  • Autor: Benjamin Black
  • Tradução: Ryta Vinagre
  • Ano: 2020
  • Editora: Rocco
  • Páginas: 256
  • Amazon

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