Meu amor pela escrita, criatividade, universos fantásticos, enigmas sombrios e personagens inusitados, criados pela mente habilidosa de Caitlín R. Kiernan, não é segredo para ninguém. Desde o momento em que me deparei com a belíssima e misteriosa capa de A Menina Submersa, me percebi encantada, definitivamente fisgada por uma escritora que, embora naquele momento me fosse desconhecida, acabaria por se transformar na autora que carrego no coração como uma das preferidas de minha existência!
Confira a resenha de A Menina Submersa
Através da leitura de uma única história, de um único livro, Caitlín R. Kiernan me cativou. Suas personagens problemáticas, diversificadas, belíssimas em cada detalhe e cada “defeito” e, acima de tudo, verdadeiramente humanas, me ensinaram empatia, me deixaram confusa, me fizeram torcer por seus sonhos, amores e objetivos mesmo quando não apoiava os caminhos escolhidos ou compreendia suas motivações.
Os universos sombrios, fantásticos e misteriosos criados e interligados ao longo de toda a narrativa de A Menina Submersa me encantaram, me fizeram acreditar que, mesmo se tratando de um mundo ficcional, com protagonistas, pintores, cultos e telas ficcionais, ainda assim poderiam se tornar reais, ainda assim poderiam ser reais. Embora trabalhe de maneira criativa e habilidosa com elementos de fantasia, terror e mistério, Caitlín R. Kiernan sempre me conquistou pela forma com que, mesmo em histórias absurdas, bizarras e curiosas, foi capaz de inserir ares de realidade, entregando ao leitor a confusão maravilhosa de enxergar mundos impossíveis coexistindo em sua própria mente.
Após finalizar a leitura de A Menina Submersa. Após escrever, gravar, editar e revisar resenhas que demonstravam meu arrebatamento, amor e confusão perante suas palavras. Após realizar verdadeira campanha para que mais e mais leitores buscassem essa obra e se arriscassem por entre os enigmas de suas páginas, acabei me transformando naquele tipo de pessoa que, a cada oportunidade, clamava pela publicação de outras histórias criadas pela mente de Caitlín R. Kiernan. Imaginem então qual foi minha alegria quando, num belo e ensolarado dia, em meados de janeiro ou fevereiro, descubro que minha amada Darkside Books presentearia os leitores brasileiros com outra obra da escritora!
O Mundo Invisível entre Nós direciona não somente a atenção e olhares do leitor por entre uma diversidade de histórias, personagens, elementos e universos, mas também sua imaginação e sentimentos, permitindo que únicas experiências de leitura resultem do virar de páginas. Por entre reinos fantásticos escondidos em meio a bosques e poços abandonados; doenças infecciosas que transformam amigos e colegas em zumbis; bizarros museus de horrores ou mesmo no encontro entre meninas albinas e monstros e criaturas das sombras, perceberemos a criatividade, inspirações e habilidade com que a autora interliga diversos elementos de maneira a tecer histórias maravilhosamente sombrias.
Embora muitas vezes o estabelecimento de comparações possa irritar leitores que amam determinado autor, confundir aqueles que desconhecem o exemplo citado e até mesmo criar algumas injustiças ao longo do caminho – seja por incompatibilidade dos exemplos ou diminuir uma obra em detrimento de outra – gosto de comparar as histórias e mundos de Caitlín R. Kiernan com as criações de H.P. Lovecraft. Assim como o famoso escritor de contos de terror e mistério, a autora constrói narrativas capazes de nos inserir em mundos inimagináveis. Os detalhes, características de personagem e ambientação são empregados para garantir que a atmosfera desejada se estabeleça no momento exato, para que o leitor enxergue aquele ou aquela que lhe acompanha ao longo das páginas de outra história como a um conhecido ou amigo, para que seja capaz de criar este universo fantástico e sombrio em sua mente, contudo, deixando sempre espaço suficiente para que nem tudo seja dito, explicado, apresentado e exista sempre um mistério no ar, além de perguntas curiosas a serem respondidas.
Graças a esta aliança entre o dito e não dito, entre elementos fantásticos e característicos de nossa própria realidade, somos fisgados. Nos encontramos fascinados por tudo o que acompanhamos, por cada novo personagem, por tudo o que não compreendemos. E é exatamente por estas características que tanto amo e tanto indico a leitura de toda e qualquer história publicada pela autora.
Apesar de tudo o que destaquei até o momento, confesso que meu maior contentamento ao longo da leitura de O Mundo Invisível entre Nós volta-se para a maneira com que a autora amplia universos, atmosferas, elementos e personagens criados em histórias específicas nos limites outras narrativas. Muito mais do que contribuir com a apresentação de novos detalhes acerca do universo que observamos, de oferecer informações e possíveis respostas para os mistérios e personagens que acompanhamos ao longo da história anterior, ou mesmo de nos confundir e estabelecer novas perguntas, a forma com que a autora constrói novos enredos para personagens e mundos conhecidos é cativante e encantadora pois adquire contorno de reencontro com bons e queridos companheiros de viagem. Todos os mistérios e perguntas sem respostas nos instigam a acompanhar as novas aventuras e desafios delineados nestas novas narrativas, mas é o sentimento em torno de cada personagem ou universo que transforma toda a experiência.
E, uma vez que abordamos a questão dos mistérios, detalhes e perguntas que dominaram nosso coração e mente ao longo de capítulos e enredos específicos, vale ressaltar que o livro nos presenteia com três contos relacionados à aspectos e personagens da primeira obra da autora publicada no Brasil. Para aqueles que já finalizaram a leitura de A Menina Submersa – e aqui incluo os amantes da história bem como aqueles que não a compreenderam ou não curtiram sua escrita – destaco que em O Mundo Invisível entre Nós acompanharemos acontecimentos interligados não somente ao pintor das obras sombrias e peculiares da narrativa anterior, mas também a mãe da personagem Eva. Agora, se estas informações e eventos serão capazes de responder suas perguntas com relação aos mistérios envolvendo as personagens, artistas, pinturas e cultos religiosos de A Menina Submersa, não serei capaz de dizer. Mas afirmo que elas transformam toda e cada história em algo ainda mais inusitado, misterioso e fantástico.
Com projeto gráfico impecável, daqueles que fazem os olhos de apaixonados por belas edições brilharem de alegria e contentamento, O Mundo Invisível entre Nós faz transbordar em cada página, cada ilustração e em cada detalhe as características únicas e maravilhosas das histórias que carrega. Seja no cuidado para com a elaboração da capa, na escolha dos elementos que decoram suas páginas ou mesmo no processo de tradução e revisão, o livro estende a experiência do leitor para o plano físico, complementando o talento e criatividade de Caitlín R. Kiernan.
Se você aguardava pelo momento certo para conhecer a escrita da autora, já é apaixonado por suas histórias ou buscava informações acerca de por onde começar – uma vez que A Menina Submersa pode se transformar em leitura verdadeiramente desafiadora – aqui está minha indicação: se aventure por O Mundo Invisível entre Nós! Graças a diversidade de personagens, elementos, universos, detalhes e estilos presentes nos contos deste livro, você terá a oportunidade perfeita para se adaptar à escrita da autora, conhecer suas características e, ainda, descobrir algumas informações sobre a história de A Menina Submersa. O que posso garantir, contudo, é que nada mais será o mesmo após esta experiência de leitura e, com todo o meu amor, espero e desejo que este livro te faça gostar de Caitlín R. Kiernan tanto quanto eu.
- Two Worlds and in Between
- Autor: Caitlín R. Kiernan
- Tradução: Regiane Winarski
- Ano: 2020
- Editora: Darkside Books
- Páginas: 512
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