O Ninguém é a releitura de Jeff Lemire do clássico O Homem Invisível, de H.G. Wells, publicado originalmente em revistas em 1897. A obra já foi adaptada diversas vezes para o cinema e entre as mais conhecidas estão as de 1933, 2000 e a mais recente, de 2020 que com Elisabeth Moss (The Handmaid’s Tale) como protagonista.

Na literatura não foi diferente e na versão de Lemire conheceremos Boca Larga, uma cidade que foi completamente afetada com a chegada de um misterioso sujeito envolto a bandagens. É assim que conheceremos Vickie, uma curiosa adolescente que tenta se aproximar de John Griffen, a fim de descobrir os motivos que o fazem se esconder por trás desse visual e o que o levou até ali.

A atmosfera da cidade muda completamente quando um crime acontece na pequena cidade e toda a população vira os olhos para o novo amigo de Vickie, que está prestes a ter seu maior segredo revelado.

Confira a resenha de O Homem Invisível

Lemire já é presença cativa entre as minhas leituras e claro que não poderia deixar de ler O Ninguém, lançado pela Pipoca e Nanquim. A arte de Lemire já me é conhecida e adorei descobrir que ela se assemelha muito a de seu trabalho em Nada a Perder. Trabalhando completamente com uma paleta fria, aos poucos vamos adentrando no drama pessoal do personagem protagonista, já tão conhecido por nós.

Acompanhar o drama desse cientista em busca da reversão da sua condição foi uma jornada interessante, pois partindo do pressuposto que já se conhece o seu desfecho, devido ao clássico e original, a graça foi prestar atenção no que Lemire queria mostrar, como ele desenha as relações humanas e sentimentos únicos através da sua arte.

Por trás de toda esta camada “simples e óbvia” da história, existem as críticas que Lemire quer passar, o que está por trás da perseguição de John e da população da cidade de Boca Larga e essa busca cega por “justiça” que faz o ser humano cometer os mais terríveis julgamentos. Motivados por receios e paranoias em relação a aparência do nosso protagonista, aos poucos esta cidade vai se transformando.

Griffen também não é de todo santo e através de suas atitudes, questões como conduta moral também serão discutidas e com isso, aos poucos iremos esmiuçando o personagem, o despindo da sua tal invisibilidade. 

Eu gosto muito do quanto Jeff Lemire trabalha a natureza humana, nas mais diversas vertentes em suas histórias, isso somado a sua arte extremamente expressiva faz das suas leituras a cereja do bolo. Se você quer uma leitura que vai falar sobre tudo que já comentei, mais ambição, existencialismo e amizade, esta é a dica.

Por último, falando um pouquinho sobre a edição da Pipoca e Nanquim, ela é incrível! Um capricho gráfico que só quem tem Lemire no catálogo tem. A capa dura, o alto relevo, textura e os extras especiais, fazem desta HQ um investimento acertado.

  • The Nobody
  • Autor: Jeff Lemire
  • Tradução: Bernardo Santana
  • Ano: 2019
  • Editora: Pipoca e Nanquim
  • Páginas: 156
  • Amazon

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