É sempre impressionante ver como os homens conseguiram apagar na história a importância das mulheres em feitos e momentos históricos. Hedy Kiesler, também conhecida como Hedy Lamaar, a grande atriz da Era de Ouro de Hollywood, não escapou desse apagamento na história. Responsável pela invenção que revolucionou os sistemas de comunicação de sua época e precursora de tecnologias como o bluetooth e o wi-fi modernos, Hedy só foi reconhecida pela sua descoberta muitos anos depois. A escritora Marie Benedict resolveu trazer à luz a história de uma mulher notável, cuja contribuição à ciência foi incomensurável.
Hedwig Eva Maria Kieser, nasceu no dia 9 de novembro de 1914, em Viena na Áustria. Aos 16 anos, ela começa sua vida de atriz, mas foi somente dois anos depois que ela ganhou reconhecimento, com o filme Ecstasy, em 1932. Aqui, conhecemos Hedy dos anos após o lançamento do filme, com ela estrelando uma peça de teatro. Sua beleza era notável e ela logo caiu na mira de Friedrich Mandl, um homem de muito poder na Áustria, pois ele era um importante comerciante de armas.
Com tudo que estava acontecendo no mundo e com os boatos envolvendo o destino dos judeus, o pai de Hedy acredita que o relacionamento da filha com esse poderoso homem pode proteger a filha do futuro. Assim, depois de alguém tempo de namoro, Friedrich e Hedy se casam. O casamento trouxe o fim de sua curta vida de atriz, mostrou a ela uma versão mais possessiva do marido, mas inseriu Hedy em uma realidade política nazista.
Toda a raiva revolvendo-se evaporou, deixando uma casca oca e bela. Talvez a casca fosse tudo o que este mundo quisesse de mim. E talvez o mundo nunca me permitisse cumprir minha penitência.
Eu não conhecia a história dessa atriz e cientista, então, como estou buscando conhecer histórias de mulheres “desconhecidas”, eu não perdi tempo para ler esse livro. Sempre que o assunto é a Segunda Guerra Mundial, eu sempre penso no papel dos homens na guerra. Contudo já faz um tempo que temos livros focados no papel feminino durante o período sendo lançados. Eu fiquei muito impressionada em saber que uma atriz de Hollywood era também uma grande cientista.
A primeira parte inteira do livro é focada nos dois anos em que Hedy foi casada com Friedrich. Um relacionamento totalmente abusivo, a ponto dele trancar a esposa em casa por ciúmes. Nessa parte também vemos a relação da ex-atriz com seus pais e a preocupação dela pelo fato deles serem judeus. Eu fiquei muito irritada em diversos momentos nessa parte vendo o que ela estava passando, contudo eu conseguia compreender suas atitudes em relação a seu casamento.
Eu achei a narrativa bastante centrada no contexto político da época, Marie Benedict não deixa nada de fora. Ela relata tudo que está acontecendo em relação às decisões de Hitler. Aqui temos detalhes de como está outros países e inclusive a Áustria, por isso o livro me apresentou uma boa visão de como o Nazismo foi chegando a esse lugar. Os jantares em que Hedy participava com Friedrich eram os momentos em que ela escutava muitas informações, várias inclusive, escutadas em outros momentos desses jantares, ela repassou ao marido. Com isso, a intenção de Friedrich ao levar a esposa nesses jantares mudou, transformando ela em uma espécie de espiã.
A segunda parte do livro é focada no tempo que Hedy voltou a ser atriz tornando-se uma das maiores atrizes da Era de Ouro de Hollywood, quando mudou seu nome para Hedy Lamarr. Contudo ela sempre se sentiu culpada por ter fugido e acreditava que teria que ajudar a vencer a guerra de alguma maneira. Foi assim que ela se juntou ao compositor George Antheil com a ideia de inventar um aparelho de interferência de rádio que dispensasse os radares nazistas.
Depois de pronta e apresentada ao governo dos Estados Unidos, a criação da dupla foi negada pela Marinha do país. Quando finalmente o governo resolveu usar a tecnologia desenvolvida por Hedy e George, eles não ganharam o crédito, pois a patente já havia vencido. Foi muito revoltante ler essa parte do livro, pois fica muito claro que a atriz não ganhou o crédito por ser bonita e mulher, como se ela não fosse capaz de ser inteligente. O mais incrível de tudo isso foi que essa tecnologia criada por uma mulher e ignorada pelos Estados Unidos foi a base para o Wi-Fi e o Bluetooth.
Narrado em primeira pessoa por Hedy Lamarr e com uma escrita fluida e envolvente, Marie Benedict apresenta um romance histórico bem fundamentado. Ideal para quem gosta de livros com tramas centradas na Segunda Guerra Mundial e para quem gosta de conhecer mulher com histórias inspiradoras.
- The Only Woman in the Room
- Autor: Marie Benedict
- Tradução: Isadora Prospero
- Ano: 2020
- Editora: Planeta
- Páginas: 320
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