Dez anos se passaram, e o efeito que Jonathan tem sobre Annika ainda parece o mesmo, um reencontro que não foi planejado traz à tona velhas feridas e a sensação de que é hora de encarar o passado para poder seguir em frente… ou será que é melhor continuar fugindo do que aconteceu e apenas… Para, calma! Vamos voltar ao início de tudo. Annika e Jonathan se conheceram em 1991 na universidade, mais precisamente durante uma partida de xadrez, partida esta que que durou horas e foi disputadíssima, jogada a jogada, mas que quase não aconteceu já que Annika não se sentia confortável em jogar com nenhuma outra pessoa, além de Eric. Mas, aconteceu e para a surpresa dela foi ótimo.
Annika está voltando a ter um gostinho do que é a vida real após passar anos estudando em casa, depois de ter sido retirada da escola por sua mãe. Ela está na universidade, dividindo um alojamento com uma colega de quarto e precisando enfrentar várias situações que a deixam desconfortável, como por exemplo a interação social. Annika sente que não é como as demais pessoas, ela é mais prática, metódica, tende a chamar atenção por anda passa, e muitas vezes é vista como uma esquisita, mas ela não sabe como ser diferente, como agir de modo que não seja apenas ela mesma. E diante de tanta exposição, passa a se sentir sobrecarregada, superestimulada e quase fora de controle.
Os únicos ambientes onde encontra refugio são a biblioteca, a clínica veterinária na qual é voluntária e no grêmio estudantil onde joga xadrez. Mas nem isso parece estar sendo o suficiente para ajudá-la, até que Jonathan entra na sua vida. Jonathan é um estudante transferido, que está buscando por um recomeço após ter feito algumas escolhas equivocadas, um jovem simples, que está batalhando muito para conseguir se formar e conseguir um emprego que o fará alcançar todos os seus objetivos.
Apesar da relutância inicial, Jonathan consegue ganhar a confiança de Annika e uma amizade acaba nascendo, a admiração, o carinho só fazem aumentar com a convivência, e quando se dão conta, o amor que sentem um pelo outro é imenso, e gera alguns planos para o futuro, futuro esse que é interrompido por uma fatalidade, de modo abrupto e doloroso, os levando a perderem completamente o contato… até que dez anos depois se reencontram em um supermercado por um mero acaso. Eles mudaram, Jonathan está trabalhando com finanças quase que vinte e quatro horas por dia, enfrentou um divórcio, Annika está trabalhando como bibliotecária e não é só isso, ela também está fazendo terapia, o que a ajudou a ganhar confiança e florescer. Impactada com a força deste encontro, Annika está determinada a acertar tudo com Jonathan e buscar uma segunda chance para o amor deles, só que essa não será uma missão fácil, principalmente porque o passado ainda paira em meio a eles, e uma nova tragédia pode colocar em xeque de vez a felicidade e a chance deles ficarem juntos.
— Você tem dons maravilhosos para oferecer às pessoas, Annika. É sincera e leal. Nem todo mundo vai apreciar isso, e há pessoas que não vão gostar de você, claro. A vida não é fácil para ninguém. Todos nós temos desafios. Todos enfrentamos adversidades. É como as superamos que nos torna quem somos.
Eu terminei a leitura de Sem Lógica Para o Amor, com lágrimas nos olhos e uma emoção crescente em meu coração. Mais que um romance, aqui encontrei uma história de superação, de vontade de viver, de amar e ser amada, de aceitação, de quebrar barreiras, de entender que são as nossas pequenas peculiaridades que nos tornam únicos e especiais, e o quão importante é compreender, respeitar e abraçar as diferenças. Annika é o tipo de personagem que chega, marca e permanece, porque mesmo após concluir a leitura, de vez em quando ainda nos pegamos pensando sobre ela, uma figura inteligente, divertida, aberta a aprender, vivendo uma jornada que para muitos é simples e que nem paramos para pensar – o cotidiano, o dia a dia -, mas que para ela é uma batalha diária, porque ela acaba exposta a situações que despertam sua ansiedade, insegurança, sensibilidade e até causam dor, tudo isso porque Annika tem TEA – Transtorno do Espectro Autista, e isso não é algo que vem explícito desde o início, a própria Annika vai se descobrindo aos poucos, entretanto para nós leitores, isso fica muito claro pela forma como ela age, reage e se comporta.
E do outro lado temos Jonathan que é um jovem aprendendo, que acabou de ser transferido, que está cheio de planos e que fica encantado, ou melhor dizendo, fascinado por nossa protagonista. Tudo sobre ela o cativa, a inocência, a leveza, sua sinceridade crua e direta, a forma como ela se veste… ele a aceita exatamente como ela é, e a ajuda a sair de sua bolha, e vê-los juntos, interagindo, torna o casal muito possível e fofo.
Antes de mais nada, quero pedir desculpa caso eu use alguma palavra que seja ofensiva, ou errada para descrever a história em si, estou buscando a melhor maneira de me expressar, mas a escrita pode limitar o que quero transmitir, portanto me perdoem, não é essa a intensão, eu só quero deixar claro para você leitor o que você vai encontrar. Eu amei Sem Lógica Para o Amor, é muito perspicaz e sensível. A forma como a autora escolheu abordar o assunto é leve, “natural”, Annika é uma jovem autista, inserida em uma rotina “normal”, estudando, trabalhando, se relacionando e sofrendo todas as consequências disto, ou seja, ela fica exposta a julgamentos, apontamentos, a tudo, só que ela sente de uma maneira diferente, ela enxerga o mundo a sua própria maneira e isso tornou o enredo, lindo, rico e muito especial. Amo o quanto essa personagem cresce ao longo de cada capítulo, o quanto vamos tendo mais de sua inteligência, leveza, simplicidade e generosidade. E como a autora nos estapeia jogando na nossa cara o quanto ainda somos leigos quando o assunto é transtornos, síndromes e doenças mentais. Precisamos nos educar, compreender, para podermos agir com mais empatia, respeito e igualdade.
— Nunca sei o que as pessoas estão pensando. É como visitar um país em que você não fala o idioma e se esforça muito para entendê-lo, mas, não importa quantas vezes você peça suco, continuam lhe trazendo leite. E eu odeio isso.
Outro ponto que amei foi o fato de a autora ter usado como um dos cenários da trama, algo que mundialmente foi visto e sentido de alguma forma, só que agora passamos por essa situação como alguém que viveu aquele momento. E foi emocionante. Impossível não se arrepiar e voltar seu pensamento para aquele dia e lamentar mais uma vez tamanha tragédia. Ainda preciso mencionar que a história intercala entre o passado e o presente, e é a partir daí que vamos construindo o quebra-cabeça que é a história de amor de Annika e Jonathan, a autora sabe como manter o suspense e deixar o leitor atento desejando mais e mais informações.
Preciso também fazer uma menção honrosa aos personagens secundários, Janice que é a colega de quarto de Annika, é uma presença fundamental na trama, e talvez seja a figura que melhor compreende e “traduz” o que Annika não consegue, ela é uma amiga incrível e esse relacionamento entre elas é lindo. Outro personagem que mais para o final da história ganha força é o Will, irmão de Annika com quem ela não tem um relacionamento muito próximo, mas que também vamos desvendar os fatos por trás disto.
Enfim… se consegui despertar a tua curiosidade, e te deixar de alguma forma com uma pulguinha de vontade de ler, já vai ter valido a pena e ficarei imensamente feliz. Esse é meu segundo contato com a autora Tracey Garvis Graves e só posso ficar aqui torcendo para que mais obras da autora sejam traduzidas. Eu amo o quanto ela se entrega em sua escrita, e presenteia o leitor com textos que cativam, emocionam, e deixam aquela sensação de saudade. Portanto fica aqui mais essa dica especial.
- The Girl He Used to Know
- Autor: Tracey Garvis Graves
- Tradução: Jacqueline Damásio Valpassos
- Ano: 2020
- Editora: Jangada
- Páginas: 320
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