Leena tem vinte e nove anos, e após uma perda difícil ela mergulhou no trabalho, trabalhando por longos períodos de tempos para que assim não tivesse que pensar ou sentir, só seguir um dia após o outro. Só que se colocar em tanta pressão cobra um preço alto e em meio a apresentação de um projeto importante ela tem uma crise de ansiedade. Sua chefe que já havia notado que Leena precisava de um tempo, concede, ou melhor, a obriga a tirar dois meses de férias, a intenção é que ela saia do ambiente que se tornou de certa forma seu refúgio, e cuidar da sua saúde.

Ainda que Leena saiba que precisa deste tempo, ela tenta argumentar, e se mantém receosa, mas não adianta e ela é afastada. É assim que ela segue em direção a casa de sua avó, em uma cidade pacata do interior da Inglaterra. Eileen tem setenta e nove anos, ela foi deixada pelo marido que a trocou por uma mulher mais jovem, a separação trouxe solidão e tristeza, mas também reavivou antigas vontades, o sentimento de liberdade e o desejo de se aventurar. Dona de um coração gigante, um carisma enorme e ideias malucas, Eileen só quer aproveitar a vida, e viver novas experiências. E é daí que uma ideia surge na cabeça da Leena, e se elas trocassem de lugar, e se por dois meses elas vivessem a vida uma da outra, Leena no interior, em Hamleigh e Eileen em Londres, na agitação da cidade grande, onde ela poderia enfim se divertir. Será que daria certo?

Quando li a sinopse de A Troca, fiquei tão intrigada e animada para conhecer a obra, principalmente para desvendar como a autora conseguiria colocar duas pessoas com idades tão diferentes, de gerações distintas, vivendo uma a “rotina” da outra e caros leitores… que surpresa maravilhosa! Leena é uma jovem que não sai da sua zona de conforto, que passou por uma situação muito dolorosa e na tentativa de preencher esse vazio se tornou uma viciada em trabalho. Além disto, existe muita mágoa, seu coração ainda está ferido, suas atitudes se tornaram defensivas, e é aí que notamos que ela está reativa, precisando se cuidar, tratar as ranhuras com sua família. E é nesse tempo vivendo a “vida” de sua avó, que irá levá-la por uma experiência única, convivendo com pessoas mais velhas, compartilhando vivências, entendendo as escolhas, a verdade por trás de determinadas ações, que ela vai então se auto redescobrir, ressignificar e se curar.

(…) — depois que a gente aceita a dor, fica um pouco mais fácil suportá-la. É que nem quando relaxamos os músculos em vez de tremermos quando está frio.

Do outro lado temos a Eileen, com seu sorriso fácil, humor contagiante, sempre fazendo planos, listas, cheia de ideias criativas, com a necessidade de se aproximar, de ajudar, colocando em prática seu lado maternal, cupido, ao mesmo tempo em que decide se arriscar mais, vivendo aventuras as quais ela jamais se imaginou, dando uma segunda chance para seu coração e não deixando que a experiência de um casamento infeliz molde seu futuro. Acompanhar ela em Londres é incrível, a maneira como ela se relaciona com os amigos da neta, como ela prova que a idade não é um fator limitante, se revelando uma senhora muito forte, determinada, cabeça-aberta e cheia de vontade de viver, é simplesmente lindo.

A Troca é muito mais que um romance, e isso fica evidente quando percebemos que ele fica em segundo plano. A história é mais focada nas mudanças, necessidades, perdas e o luto, que as protagonistas estão enfrentando. É também sobre a liberdade de ser quem somos, de se arriscar, de aproveitar o agora, de não temer se reinventar. Então posso afirmar que no final das contas, é um enredo sobre cura, perdão, recomeços, segundas-chances e relações familiares. Eu amei essa leitura, me envolvi com cada personagem, dei muitas risadas, me emocionei, vibrei, torci e terminei com um coração quentinho e esperançoso.

(…) Ela me puxa para um abraço e então diz no meu ouvido: — Se está abraçando alguém apertado o suficiente, você pode ser ao mesmo tempo quem oferece o ombro e quem chora. Viu?

Este é o meu primeiro contato com a narrativa da autora Beth O’Leary, e estou fascinada em como ela consegue dosar os elementos dentro da trama, mesclando o drama e os alívios cômicos com maestria, sem que a história perca o ritmo ou se torne desinteressante, muito pelo contrário, ela só faz crescer a expectativa pelo que está por vir e de que maneira ela dará a nossos personagens um final digno. Espero poder ler mais de suas obras muito em breve. Fica aqui essa dica especial, se você está buscando por uma leitura envolvente e diferente, A Troca, é uma ótima opção de leitura para você.

Até a próxima! Bye.

  • The Switch
  • Autor: Beth O'Leary
  • Tradução: Ana Rodrigues
  • Ano: 2020
  • Editora: Intrínseca
  • Páginas: 352
  • Amazon

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