Ver um filme baseado em fatos reais é uma das coisas que mais gosto de fazer, principalmente quando o enredo envolve acontecimentos importantes para alguma nação. Eu cheguei em Os Sete de Chicago pelo elenco, não sabia praticamente nada do contexto real da história por trás do longa. Por isso, acredito que de certa forma foi esse fator que me fez gostar tanto do filme, pois eu fiquei extremamente envolvida e revoltada em saber que isso realmente tinha acontecido nos Estados Unidos. Inclusive “revoltada” é a palavra chave dessa crítica, pois não tem como passar ilesa desse sentimento durante o filme.
Então, o longa de Aaron Sorkin e lançado pela Netflix é baseado em um grande protesto envolvendo vários grupos contra a guerra do Vietnã. Assim, foi durante a Convenção Nacional Democrata, o evento que anunciou a candidatura de Hubert H. Humphrey à presidência do país. Dentro desse contexto, outros dois acontecimentos marcantes são pincelados na trama, a morte de Martin Luther King e a intensificação da luta pelos direitos civis. Esse momento de protesto, que tinha tudo para ser pacífico, acabou com tumulto e sete homens foram presos: Abbie Hoffman, Jerry Rubin, David Dellinger, Tom Hayden, Rennie Davis, John Froines, Lee Weiner e Bobby Seale. Além disso, eles foram acusados pelo governo americano de conspiração, fato que ficou marcado na história do país.
Com elenco de peso, meu destaque fica para Sasha Baron Cohen e Jeremy Strong, os atores interpretaram os radicais hippies Abbie Hoffman e Jerry Rubin. Eu sou fã de Sasha interpretando papéis sérios e aqui ao lado de Jeremy, ele consegue dar a dupla o ar de revolta, deboche e ao mesmo tempo seriedade no tom certo. Já para o lado mais contido temos Eddie Redmayne, como Tom Hayden, muito preocupado e cheio de momentos significativos e marcantes, e Noah Robbins, como Lee Weiner, um pouco mais apagado na trama, na minha opinião, culpa do elenco. Gostei muito também dos momentos de Alex Sharp, como Rennie Davis, ele tem momentos significativos também e está ligado diretamente por um ato muito impactante no filme. Para fechar com chave de ouro John Carroll Lynch, como David Dellinger, está no time dos contra a violência, que só querem defender a paz e buscam a mudança social. Para cada um dos núcleos, temos cenas e momentos específicos que nos fazem compreender quem eles são, o que acreditam e o que esperam ao final do julgamento.
A escolha do diretor em mesclar os momentos do tribunal com flashbacks que fazem referência ao que está sendo discutido no júri foi espetacular, dá dinamismo à trama, que em muitos momentos é lenta, mas também envolve o telespectador. As cenas do julgamento são muitas vezes revoltantes e o ator Frank Langella, que faz o juiz Julios Hoffman, consegue fazer com que o espectador sinta raiva dele praticamente sempre que abre a boca. É inacreditável a falta de vergonha desse juiz em tomar todas as decisões que tomou durante os seis meses de julgamento. Qualquer coisa para ele era desacato, sem falar é claro que estava mais que evidente qual era o objetivo dele ali, prejudicar e condenar os acusados.
Falando em não acreditar, todos os momentos envolvendo o acusado Bobby Seale, interpretado de forma magnífica por Yahya Abdul-Mateen II, são de uma revolta só. Co-fundador do Partido dos Panteras Negras, seu papel ali era diferente dos outros acusados, e por não aceitar o que estava acontecendo foi tratado de forma desumana, inclusive era para ele ter um advogado diferente dos outros. Eu ficava tensa sempre que o foco era ele e os Panteras Negras, contudo esse núcleo da trama é extremamente interessante e necessário a nível de conhecimento geral.
Com todos os momentos que mostram a injustiça neste processo, a carga emocional mais voltada para revolta é certa. Não podemos esquecer que o governo está processando esses homens, quem pode contra o próprio governo? Sendo assim, o diretor também explora a corrupção e o que estava por trás dos interesses dos Estados Unidos nesse julgamento. Não preciso dizer para vocês que mais uma vez é revoltante. Richard Schultz, interpretado por Joseph Gordon-Levitt, como advogado do governo, tem seus momentos de brilhantismo quando se vê confrontado com seu papel neste processo. Os advogados de defesa também são de suma importância nesses momentos, assim como nós, eles parecem não acreditar no que está acontecendo naquele júri. Destaco o ator Mark Rylance, que no papel de William Kunster, fez uma ótima defesa e não fraquejou em nenhum momento.
No final do filme há a conclusão de um momento que vai sendo construído fora do tribunal todas as noites, é forte, é impactante, é emocionante e mais uma vez revoltante. Com seis indicações ao Oscar, Os Sete Contra Chicago é um drama incrivelmente poderoso, que mostra como os interesses do governo são maiores do que qualquer problema envolvendo sua nação, quando esta luta por direitos civis e é claro da justiça. Filme perfeito e sem defeitos!
- The Trial of the Chicago 7
- Lançamento: 2020
- Com: Sacha Baron Cohen, Eddie Redmayne, Mark Rylance
- Gênero: Drama
- Direção: Aaron Sorkin