Eu conhecia Rachel de Queiroz de ouvir falar. Ela tem dois livros que são famosos, O Quinze, considerado sua obra prima, e Memorial de Maria Moura, que virou minissérie na Globo. Além disso, ela foi a primeira mulher a ganhar uma cadeira na Academia Brasileira de Letras.
Em Dôra, Doralina, vamos acompanhar Maria das Dores. Uma jovem simples, órfã de pai, que vive com sua mãe, conhecida como Senhora, na fazenda Soledade, em Aroeiras, no interior do Ceará. Apesar de morarem somente as duas com seus empregados, a relação de mãe e filha entre eles não é das melhores. As vidas de mãe e filha mudam quando Laurindo, um agrimensor que foi chamado para resolver uma questão das terras com o vizinho delas, se interessa por Dôra. Logo, os dois se casam, ficam morando em Soledade e a vida desses três mais uma vez vai surpreendê-los.
O livro é dividido em três partes e para cada uma vamos conhecer um momento da vida da protagonista. O Livro de Senhora será focado em sua vida na fazenda ao lado de sua mãe e em seu primeiro casamento. O Livro da Companhia tem como foco o tempo que ela acompanhou e participou de uma companhia de teatro. O Livro do Comandante vai mostrar a relação dela com o Comandante e o casamento deles. A obra realmente parece que tem três histórias diferentes, como se fosse três livros diferentes. Fazendo jus, assim, as três partes com nome de LIVRO. Cada parte com sua importância e seu ritmo, mas com a narrativa de Dôra de forma linear.
A parte que eu mais gostei foi a primeira, tanto pela péssima relação de mãe e filha que é o tema central quanto pela relação das pessoas da cidade com as duas. Um dos principais pontos do distanciamento entre Senhora e Maria das Dores é o fato de que a filha não sabe nada sobre seu pai. Isso é muito doloroso para ela, que busca o tempo todo uma oportunidade para fazer perguntas sobre ele. Contudo o mínimo que consegue vem de falas dos empregados da fazenda.
Já agora o corpo era meu, pra guardar ou pra dar, se eu quisesse ia, se não quisesse não ia, acabou-se. Era uma grande diferença, para mim enorme.
Há um crescimento na trama em o Livro da Senhora, vamos da pacata vida da fazenda até o descontentamento de Dôra por tudo que está acontecendo, até que ela resolve ir embora do lugar. Esse é outro ponto positivo no livro, a evolução da protagonista, que a cada parte se torna outra mulher, mais madura e mais cheia de si. É impressionante como o casamento com Laurindo vai aos poucos transformando Dôra, que está sempre observando e calada colhendo informações. Aqui nesta parte, há dois acontecimentos que ajudam a protagonista a tomar a decisão de ir embora de Soledade. Eu gostei muito do modo como ela lida com tudo que acontece na vida dela, ela sabe a hora de se impor perante a mãe e a hora de fazer as coisas por si em silêncio para que a mãe não se meta.
Já em O Livro da Companhia o ponto alto está nas personagens, que são todas muito bem trabalhadas pela autora. A Companhia vai de cidade em cidade apresentando sua peça de teatro e é claro que ao passar tanto tempo juntos, estes personagens vão ter suas proximidades e inimizades. Seu Brandini, dono de uma companhia teatral e plagiador de peças estrangeiras. É através desta parte do livro que conhecemos o futuro marido de Dôra.
Para encerrar, na terceira parte, acompanhamos a relação de Dôra com Asmodeu, o segundo marido da protagonista, mais conhecido como Comandante, ele e Doralina vão ter uma relação marcada pelos contrabandos do Comandante. Ora eu gostava dele, ora eu questionava o que ele estava fazendo ou como ele tratava Dôra. Contudo uma coisa é certa, a intensidade do amor que um tem pelo outro.
Claramente, Dôra, Doralina é um livro que mostra a evolução de sua protagonista, uma mulher nordestina e que era oprimida. Fica muito claro a mulher que ela era no começo da leitura e a mulher que ela se tornou no final. Para quem gosta de acompanhar este tipo de evolução, este livros está perfeito!
- Dôra, Doralina
- Autor: Rachel de Queiroz
- Tradução: -
- Ano: 2020
- Editora: José Olympio
- Páginas: 432
- Amazon