ALERTA DE GATILHOS: Esta obra apresenta violência física e emocional, exposição de cadáver e temas que podem ser sensíveis para alguns públicos.
Mariana foi criada na Grécia, aos arredores de Atenas, se formou na faculdade de Saint Christopher’s, em Cambridge, onde também conheceu Sebastian, seu amado marido, que ela veio a perder de maneira trágica e repentina. Agora morando em Londres, aos trinta e seis anos, é uma terapeuta de grupo bem-sucedida, que luta para superar tragédias e perdas pessoais, que a afetam mais do que ela gostaria de admitir.
E é em meio a tudo isso, que uma ligação de sua sobrinha, Zoe informando que uma amiga foi assassinada, volta a virar sua vida de cabeça para baixo. Mariana decide que precisa ir ao socorro de Zoe, e ajudá-la a lidar com essa perda, a principio era apenas uma visita rápida, porém retornar ao local que tem tanto significado para ela, assim como se deparar com a brutalidade e mistérios que rondam a morte daquela jovem, desperta nela a necessidade de que ela permaneça no campus da faculdade e tente de alguma forma entender o que está acontecendo, e quem sabe, até contribuir na investigação.
Edward Fosca é um celebre professor de tragédia grega, quase que uma entidade da faculdade, uma figura que chama atenção por onde passa, que emana poder e autoridade, é bem quisto por todos, docentes e alunos, mas não engana Mariana, ela consegue ver por baixo de todo o carisma e não demora para que o torne seu primeiro e grande suspeito. Principalmente quando ela conhece “As Musas”, um grupo seleto de alunas, tidas como queridinhas do professor, ao qual recebe aulas particulares e parecem ter verdadeira adoração por ele, inclusive a jovem que morreu era uma delas. O fato de algumas citações de Eurípides passarem a surgir também, não ameniza sua obsessão por ele e pelo caso.
“Quanto se mata um ser humano, não tem volta. Entendo isso agora. Vejo que me tornei uma pessoa totalmente diferente. É um pouco como renascer, acho. Mas não um nascimento comum — é uma metamorfose. O que surge das cinzas não é a fênix, mas uma criatura mais feia: deformada, incapaz de voar, um predador que usa as garras, para cortar e dilacerar.”
Quando outro crime é cometido, Mariana toma para si a missão de provar a verdade custe o que custar, ainda que todos não estejam vendo, que a enxerguem como louca, ela não irá parar enquanto não desvendar o mistério, mesmo que para isso, ela precise colocar a sua vida em risco.
Confira a resenha de A Paciente Silenciosa
As Musas, é o novo lançamento do autor Alex Michaelides, autor de A Paciente Silenciosa, livro que preciso ressaltar que eu amei, portanto sim, cheguei para esta leitura com altas expectativas. Aqui como já mencionei, conhecemos Mariana e com o passar dos capítulos todas as tragédias que rondam a sua vida, principalmente a morte de seu marido, que é algo que atormenta constantemente. Sebastian foi o seu grande amor, e era uma pessoa muito importante para Mariana, que se amparava muito na cumplicidade que compartilhavam. A vida seguiu, ela continuou a trabalhar, e está atendendo um grupo de oito pacientes, cada um com sua particularidade, porém com um paciente que requer mais atenção que todos os demais, Henry. E é justamente após uma sessão de grupo que ela recebe a ligação de sua sobrinha, alguém que ela praticamente criou como filha, desesperada porque uma amiga foi assassinada. Mariana vai ao seu encontro, determinada a ajudar, Zoe. Chegando lá, ela se depara com uma cena brutal, e um mistério que parece evocar deuses da mitologia grega.
O que mais gosto em thrillers psicológicos, é que sempre somos levados a acreditar que todos poderiam ser os culpados, é difícil você se deparar com um personagem ao qual logo já descartaria. E aqui temos esse leque de opções, ao longo da narrativa vários cenários vão se desdobrando a nossa frente, as opções passam a se tornar quase que infinitas e por diversas vezes ficamos com a sensação de estarmos perdidos ou até mesmo sendo enganados.
E ainda temos capítulos em que o criminoso narra como se estivesse escrevendo em um diário, ou talvez uma carta, o que pode dar pistas sobre quem ele seria, assim como nos permite conhecer a mente por trás de tamanho horror. Para quem já conhece a escrita do autor, não será uma surpresa essa narrativa dinâmica e envolvente, ele sabe como atrair o leitor, a criar uma tensão crescente, que tende a ficar cada vez mais angustiante conforme os capítulos vão passando. Mas para quem vai ler suas palavras pela primeira vez, já pode ficar feliz que terá um enredo bem construído. Outro ponto positivo e que também é uma característica do autor, é o flerte com a mitologia grega, que se mostra muito presente em toda trama, principalmente com as tragédias de Eurípedes.
“— Meus olhos ficam fascinados. Os corpos são apresentados dessa maneira… para nos fascinar. Para nos cegar de horror. Por quê?”
De modo geral a trama é interessante, bem construída, com vários momentos angustiantes e reviravoltas a cada instante. Mas que infelizmente me deixou com um gostinho de que poderia ter sido épico e teve seu final desperdiçado. Primeiro ponto que me incomodou na narrativa é que temos uma protagonista completamente perturbada, e que por onde passa parece conquistar um coração. Acredito que quase todos os personagens masculinos que aqui surgiram em algum momento se apaixonaram por Mariana. Outro ponto é que a Mariana, invoca constantemente a presença do falecido marido, quase como se não pudesse viver sem a presença dele, e isso em algumas situações beirou o exagero, até porque estamos falando de uma terapeuta.
E por fim, o desfecho não me surpreendeu, e não ser surpreendida não é o problema, o que me incomoda é o desfecho ser corrido e ter deixado alguns nós desatados, o autor criou um plot muito inteligente, mas não o desenvolveu como ele merecia, conseguindo assim justificar de maneira sólida, as motivações e tudo que envolvia tais crimes, o que pode ou não te incomodar, vai depender de como você receber o final.
E ainda que não possa entrar em detalhes, preciso registrar uma sacada muito inteligente e inesperada que o autor faz aqui… referências caros, leitores! Quem viveu vai entender e mais que isso, vai dar um berro já imaginando e teorizando o que teremos do autor pela frente.
Apesar dos pontos que mencionei eu indico sim o livro, ler uma obra do autor Alex Michaelides é sempre irresistível, somos transportados para cenários ricos, vivos e quase que palpáveis. Seus enredos são inteligentes, sombrios, os personagens intrigantes e a experiência de leitura é tensa, angustiante, com muitas peças, como se montássemos um quebra-cabeça sem fim. Já estou aguardando ansiosamente um terceiro livro dele.
- The Maidens
- Autor: Alex Michaelides
- Tradução: Marta Chiarelli
- Ano: 2021
- Editora: Record
- Páginas: 347
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