Que tal fazer um mergulho, literário, no ambiente underground da Escócia? No submundo das drogas, do sexo e de muita música?
O polêmico escritor escocês Irvine Welsh está de volta, trazendo mais uma vez um livro repleto de cenas fortes e de assuntos muito delicados abordados de forma aberta e sem nenhum receio na forma como as palavras são colocadas. A Calça dos Mortos é o quinto livro da sequência iniciada com Trainspotting, que conta a história de quatro desajustados. Frank Begbie, Mark Renton, Sick Boy e Spud, estão de volta, para aquele que será o último encontro deles, o final de uma série que deixou muitos leitores maravilhados, mas, infelizmente, não foi o meu caso.
Não li todos os cinco livros, mas li o primeiro e o segundo da série e eles nunca me pegaram, mas a literatura ácida de Welsh é singular, a forma como ele descreve as cenas e como insere seus personagens dentro de diversas facetas do submundo, encantou muitos fãs da série e o último livro é justamente voltado para este lado, entregar algo aos fãs, construir um final épico para cada um dos quatro garotos, que, durante cinco livros construíram sua personalidade e fizeram leitores se identificarem dentro de um tipo de enredo que poucas vezes vemos em nossas livrarias, o que não significa que é bom para todos os públicos.
O estilo literário de Irvine é o grande ponto que o fez ser um escritor que quebra paradigmas e chega aos grandes números de vendas que possui, impulsionado por uma época onde o cinema apresentava filmes nesse estilo, como Bons Companheiros, O Diário de Um Adolescente, o entretenimento sobre a nova juventude e seu comportamento duvidoso e problemático e a forma como a sociedade lidava com estas mudanças causadas por fatores que estavam aquém da decisão das pessoas em geral.
A literatura serviu de duas formas para este processo. Uma era a de mostrar para grande população o que acontecia às margens da sociedade, quais perigos existiam nas transformações que estavam sendo criadas naqueles cantos escuros de cidades grandes. O segundo fator era a personificação de pessoas que nunca haviam se encontrado nas páginas de um livro ou nas telas de cinema, elas agora tinham um personagem, não para necessariamente se espelhar, mas principalmente para ver sua vida desregrada e marginalizada estampada para que todos a conhecessem. Este ponto é algo que realmente criou um público fiel ao estilo literário da série de Irvine, apaixonado pela forma como ele descrevia o ambiente underground e mega identificados com os personagens criados por ele.
O ponto alto deste último volume é ver como os personagens estão após mais de 20 anos do lançamento do primeiro livro, alguns tinham saído da história, tomado rumos diferentes de seus amigos da década de 90, mas agora eles estão juntos, e o livro é um enorme encerramento para uma história que encantou leitores pelo mundo inteiro.
A avaliação do livro nos sites especializados, como Amazon, Skoob e Goodreads, são ótimas, muito pelo fato de que os principais leitores do quinto livro da série, mais do que conhecerem a história, ansiavam pelo encerramento que lhes foi dado. Uma história iniciada no milênio passado, no longínquo ano de 1993, que ganhou seu ponto final em 2018 e agradou a todos aqueles que esperaram mais de duas décadas pelo desenvolvimento destes quatro garotos.
Eu, particularmente, não gostei tanto do livro, acho que de todos que eu li foi o que menos entregou o prometido. A sinopse do livro fala sobre tráfico de órgãos invadindo o meio onde os, não mais, garotos convivem, e em todas outras histórias há um pano de fundo muito bem consolidado, como no primeiro que fala sobre o consumo de heroína e como essa droga era destrutiva e muito presente no mundo punk.
Já no segundo, o assunto evolui e os garotos resolvem abrir uma produtora de filmes pornô, nesta última história, a amizade e as brigas entre eles e os personagens secundários, além do excessivo consumo de drogas e as mais variadas cenas de sexo, se sobrepõem absurdamente ao assunto que deveria dar a tônica da obra, de um jeito que faz com que o livro quase perca o sentido, não fosse pelo fato dessas relações serem exatamente o que os leitores que acompanham a série desejavam.
Se você conhece já a literatura apimentada de Irvine Welsh e se identifica com ela, com certeza irá gostar de a A Calça dos Mortos, finalização desta série, ela contém todo o humor ácido, a ironia e uma quantidade infinita de cenas fortes em seus mais diversos estilos, um jeito de escrever bem incomum, que poucas vezes encontramos no meio literário. Um sucesso que a série Trainspotting conseguiu fazer, atingindo um público extremamente carente de obras que os abraçassem como Irvine conseguiu abraça-los.
- Dead Men's Trouer
- Autor: Irvine Welsh
- Tradução: Ryta Vinagre
- Ano: 2021
- Editora: Rocco
- Páginas: 432
- Amazon