William Summers era um soldado do exército, batalhou na guerra do Iraque, aquela em que George W. Bush disse que o ditador Saddam Hussein estava desenvolvendo escondido armas químicas e que invadiria o país para destroná-lo e impedir que ele explodisse alguns países pelo mundo, mas que na verdade serviu apenas para que os americanos obtivessem uma fonte diferente de petróleo e para assassinar o então ditador. Summers esteve lá, se afastou da família, matou pessoas e viu outras morrerem, mas tudo acabou, a guerra deixou de ser lucrativa e importante para o país. A maioria dos soldados retornaram à sua pátria, a maioria dos que estavam vivos, é claro.

Sua vida tinha acabado, agora ele era um ex-combatente que não tinha faculdade, que não tinha família, não tinha esposa nem filhos, nem emprego ou dinheiro, apesar de o exército pagar um auxílio, o valor era irrisório perto do trauma que estava na sua mente. Mas Billy tem um dom, o mesmo que fez com que ele fosse um soldado muito importante na guerra, e que se tornaria sua principal ferramenta de trabalho: sua mira.

Ele não erra tiros, e essa informação atraiu pessoas que precisavam que outras pessoas deixassem de existir, Billy se torna um mercenário de sucesso, mercenário no sentido mais sangrento da palavra, ele mata pessoas em troca de dinheiro.

Billy Summers é sobre isso, sobre um cara e seus traumas, sobre um soldado que arriscou sua vida pela bandeira de sua pátria, mas que não vê a pátria fazer nada por ele. Ele tem problemas em sua vida, na sua cabeça, no seu dia a dia, no seu passado e mal tem perspectiva de um futuro, mas mesmo assim ele cria um plano para os próximos anos da sua vida e toma uma decisão: fará somente mais um trabalho, vai se aposentar dos tiros, irá abandonar seu dom. O que Billy não sabe é que o último trabalho designado a ele será também um dos mais difíceis e talvez o que coloque sua vida mais em perigo.


Que livro senhores, que livro! Escolhi falar dele no meu primeiro post do mês do terror aqui no Estante Diagonal por que é a obra mais recente do Rei do Terror, Stephen King, porém ela tem pouco terror no seu enredo, essa é inclusive a única crítica que vi das pessoas que dizem não ter gostado do livro.

Há algum tempo já tenho falado sobre a impressão que venho tendo nos últimos livros do escritor, a impressão que tenho é de que com a idade chegando, King está se arriscando em novos caminhos literários, escrevendo mais por prazer do que por dinheiro. Isto pode estar relacionado também ao fim de sua carreira no mundo das drogas, já que ele fala abertamente que muitos dos livros que escreveu no começo de sua carreira eram produzidos sobre forte influência de substâncias ilícitas. Ele inclusive “aposentou” a cidade de Castle Rock das suas obras, já que o lugar fictício no Maine remetia ele a uma época complicada de sua vida.

Mas eu não senti falta do terror, pelo contrário, ele consegue fazer um romance com muitos detalhes interessantes, com críticas sociais fortes, principalmente no que se refere ao exército americano e às guerras que o mundo provoca, e que são completamente sem sentido para aqueles que precisam doar suas vidas pelo seu país.

Mas talvez o que mais tenha chamado a minha atenção foi a capacidade de King de se renovar e de se manter atual, já que no livro ele menciona coisas como os serviços de streaming que se popularizaram no mundo todo, ou os influencers que surgem através do Tik Tok e do Intagram. Ele comenta até mesmo o novo jeito de acompanhar televisão através de canais no Youtube, tudo isso faz parte do seu enredo, todos estes detalhes tem importância para a obra, a ponto de ele mencionar, inclusive, as fake news e os problemas causados por isso. Tudo isso em meio ao caos que se encontra a vida do “pobre” Billy e sua busca perigosa pelo último assassinato que ele irá cometer.

Cada dia que passa fico mais fã de Stephen King, que completou 74 anos no mês passado. Sua capacidade de escrever sobre qualquer assunto é notável e a cada ano ele nos abrilhanta com uma nova história, em um mundo completamente diferente daquele em que ele começou a escrever, com uma lucidez e uma vida completamente diferente daquela que ele tinha no começo dos anos 70. Não podemos exigir que ele mantenha o mesmo estilo em suas obras ou que siga fazendo terror e suspense da mesma forma, e mesmo com suas modificações, a qualidade de seus novos livros segue a mesma do seu começo na literatura, sua genialidade ainda é facilmente notada a cada nova linha que lemos e o amor pela sua escrita só aumenta.

Billy Summers é um livro ótimo para quem ainda não conhece o autor, mas não mostra o terror que todos fãs falam, é um livro que aquele leitor que não gosta de sentir medo pode ler sem problema e conhecer um dos maiores escritores que o mundo já teve.

E para quem já é fã do autor, quem é fascinado pela forma como as criaturas vão surgindo nos seus livros, sendo possuídas a cada nova cena, o livro guarda um fã service fabuloso para suas últimas páginas, remetendo a história a algo sobrenatural que aconteceu em outro livro do autor, esse sim, um clássico do terror mundial. Um feito que quando se lê a cena, o leitor é capaz de sentir a cabeça explodir e o coração aquecer de um jeito que somente o rei do terror consegue fazer com quem é apaixonado por seus livros.

  • Billy Summers
  • Autor: Stephen King
  • Tradução: Regiane Winarski
  • Ano: 2021
  • Editora: Suma
  • Páginas: 472
  • Amazon

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