Nnedi Okorafor é a autora que criou o termo “africanofuturismo”, como uma subcategoria da ficção científica. Precisamos ter cuidado para não confundir esse termo com o termo “afrofuturismo”. Para a autora, os dois termos se aproximam, já que entendem que pessoas negras estão ligadas por sangue, espírito, história e futuro. Contudo o africanofuturismo está mais diretamente enraizado na cultura, história e pontos de vista africanos, sem privilegiar ou visar o ocidente. Ele ainda se ramifica para abraçar todas as pessoas negras que se dispersaram na diáspora africana, o que inclui aqueles em outros continentes. O africanofuturismo é global, uma ponte. O movimento está interessado no futuro, em tecnologia, tem inclinações otimistas e raízes principalmente na África. Não se preocupa tanto com o que “poderia ter sido”, mas com o que “pode ser e será”. Obviamente, sem deixar de reconhecer e carregar a bagagem de “o que foi”. No africanofuturismo, as concepções de “África” e “futurismo” se misturam para criar algo novo.

Agora que você já sabe tudo isso, graças a explicação maravilhosa que a Galera Record enviou junto com o livro, vamos falar sobre Binti, trilogia em volume único, escrita por Nnedi Okorafor. Aqui, vamos encontrar muito sobre o africanofuturismo. Namibe tem 18 anos e acabou de ser aceita na Universidade de UniOomza (a maior e mais prestigiada universidade da galáxia). Por ser do povo Himba, ela está sendo treinada desde pequena para ser uma mestra harmonizadora, cargo atual de seu pai. Contudo seu desejo maior sempre foi a universidade, e ser aceita na UNiOomza é um feito. Ela é a única de seu povo a querer ir para um novo lugar. A decisão não é fácil, mas ela vai.

Na viagem de ida, a nave é atacada pelo povo medusas, uma raça alienígena que está em guerra com o povo khoush. No desespero, ela se tranca em um quarto para sobreviver, é nessa situação que ela acaba descobrindo algo sobre si mesmo e que vai mudar para sempre sua vida.

Nós, himba, não viajamos. Ficamos onde estamos. Nossa terra ancestral é vida; afastar-se é ser reduzido a nada. Nós, inclusive, cobrimos nosso corpo com ela. Otjize é terra vermelha.

Eu achei a trama desse livro muito especial. Depois de ler, eu só conseguia pensar: Nossa, que livro legal! Eu fiquei muito feliz em conhecer essa história e ver como a autora trabalha o africanofuturismo na trama. Como estamos falando de um exemplar com a trilogia completa, temos na trama três momentos diferentes. Eu adorei a primeira parte, achei média a segunda e gostei da terceira. Na verdade, de tudo que é apresentado, somente uma coisinha não foi do meu agrado, o resto todo foi diferente e muito bem desenvolvido. 

O ponto alto do livro e o mais importante é, sem dúvida, a diversidade cultural. Primeiro que temos aqui uma realidade onde há vida inteligente, que se comunicam entre si, em vários planetas. Isso já traz uma diversidade de espécies e crenças muito importante para a história. Segundo que temos através de Binti e de sua tribo, Himba, um resgate das tradições nativas da África. Eu achei tudo que envolve os rituais e crenças do povo da protagonista lindo e cheio de magia. Eu pensei em como deve ser especial ter esse tipo de ritual em uma comunidade. 

Conheça Bruxa Akata

É claro que Nnedi Okorafor aproveita sua trama para fazer paralelos com a realidade. É um livro cheio de significados, que passam por críticas sociais e raciais. Além disso, há um resgate do passado e uma reflexão sobre o futuro. Eu realmente me encantei muito com o modo que a autora faz isso. Sem falar no povo das Medusas, e a importância e ligação desses seres com toda a história. Um dos temas trabalhados pela autora é a guerra entre povos, foi muito interessante ver como a autora conduz isso. Aliado a tudo isso, também temos discussão sobre religião. 

Binti é uma protagonista muito especial. Ao mesmo tempo em que luta por seus objetivos, ela se sente ligada a sua família e a sua tribo. Isso vai ter uma importância e um papel muito importante na história e em alguns momentos até mesmo muito bonito e profundo. Fica muito clara sua evolução na trama, ainda mais pela responsabilidade que ela vai ter que assumir dentro dessa realidade. Ao assumir um papel importante aqui, vemos também a protagonista tentando se encontrar e descobrir seu lugar entre os demais. 

Como eu disse, somente uma coisa foi desnecessária para mim, contudo eu entendo o papel que isso tem para a trama principalmente quando o assunto são crenças de povos da África. Gostei bastante do final apresentado. Sem dúvidas nenhuma, Binti é uma trilogia diferente, envolvente e importante. Adorei!

  • Binti
  • Autor: Nnedi Okorafor
  • Tradução: Carla Betelli
  • Ano: 2021
  • Editora: Galera Record
  • Páginas: 378
  • Amazon

rela
ciona
dos