A continuação de um livro favorito, que não foi feito para ter continuação, é sempre uma preocupação do leitor. Quando Ernest Cline anunciou a continuação de Jogador Número Um, muitos leitores ficaram surpresos. Eu sabia da fama do livro, mas somente através da publicação dos dois volumes pela editora Intrínseca que resolvi conhecer a história. O primeiro livro foi uma grata surpresa e entrou para a lista de favoritos do ano. Mesmo sabendo que o segundo livro tem mais comentários negativos do que positivos, resolvi arriscar e lê-lo mesmo assim. Agora, eu entendo quem gosta da continuação e quem também não curte.
Poucos dias depois de sair vitorioso do concurso para o novo dono do jogo OASIS, Wade faz uma nova descoberta. James Halliday, o fundador do jogo, deixou escondido em um cofre uma nova tecnologia para o mundo de OASIS. A Interface Neural OASIS, ou INO, é um dispositivo que permite ao usuário do jogo explorar e sentir os cinco sentidos dentro do ambiente virtual. Mais do que jogar, você literalmente sente o jogo. Essa tecnologia revolucionária vai despertar o interesse de inimigos poderosos.
Eu não fazia ideia de qual seria o plot desse segundo livro, mas estava curiosa para ver o que o autor iria apresentar. A ideia do primeiro livro foi pra mim muito inovadora, então eu queria inovação aqui também. Apesar de termos a ideia de conseguir usar os cinco sentidos no jogo, a inovação acaba por aqui. Ernest Cline aproveita tudo que deu certo em Jogador Número Um e intensifica mais ainda nesse. O que pode ser positivo ou negativo depende muito do seu ponto de vista. Eu gosto bastante!
Eu estava aqui, fisicamente dentro do OASIS. Não era mais como se eu estivesse usando um avatar. Agora era como se eu fosse o meu avatar.
O problema para mim foi o que o autor fez com Wade. Primeiro ele resolveu distanciar todos os personagens e acabar com o relacionamento de Wade com a namorada. Então aquilo que fica na imaginação do leitor quando chega ao fim do primeiro livro é de certa forma destruir, pois eu por exemplo, imaginava algo feliz e legal. E não um Wade chato e que deixou a fama subir à cabeça. Outro ponto negativo em relação ao protagonista é a descaracterização dele em relação à inteligência e aos conhecimentos que ele tinha sobre o jogo e sobre a vida de Halliday. E como se ele não fosse a mesma pessoa. Eu entendo, por exemplo, os amigos ajudarem ele nessa busca, mas parece que ele não é capaz de pensar e de descobrir as coisas sozinho na maioria das situações. Infelizmente, acredito que boa parte do desagrado com os leitores com esse livro se deve a isso.
Mais uma vez vamos ter muitas referências a videogames, músicas e filmes dos anos 80, só que dessa vez o autor carregou. Levando em consideração que nessa caçada é necessário saber muito mais do fundador do OASIS, eu entendo as referências a mais. Dessa vez, eu achei algumas citações mais complexas e estava por fora delas (google tá aí pra nos ajudar né?!). Mas gostei que há referências mais atuais nas interações de Wade com os amigos. O importante é que Ernest Cline consegue entregar a maioria das referências de forma bem explicada.
Como já conhecemos o mundo gamer de OASIS, fica mais fácil compreender os movimentos de Wade dentro do jogo. Então algumas coisas não são novidades. Eu gosto muito desse mundo, e ia adorar esse jogo! O ritmo todo do livro é muito rápido, como a busca agora é por sete fragmentos, muitas coisas acontecem de forma bem eletrizante. Apesar disso, temos um “vilão” que não convence, mas que serve para levantar a discussão sobre o poder das inteligências artificiais. Mais uma vez o autor trabalha com os temas união e ganância.
Eu gostei muito que a infância e adolescência de Halliday são exploradas com profundidade e ficamos conhecendo assim várias facetas da vida dele. Além disso, Kira, sua amiga e seu amor não correspondido, tem um papel importante no desenrolar da história. Com isso, o autor também discute o amor e os créditos por uma ideia que não são destinados às mulheres.
Confira a resenha de Jogador Número Um
No geral não foi uma leitura ruim, mas sim com altos e baixos. O livro vai ganhar uma adaptação para o cinema, com roteiro adaptado pelo próprio autor. Foi uma leitura agridoce, mas fico feliz em ter feito ela.
- Ready Player Two
- Autor: Ernest Cline
- Tradução: Giu Alonso e Flora Pinheiro
- Ano: 2021
- Editora: Intrínseca
- Páginas: 416
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