Ecos, da autora Pam Muñoz Ryan, foi lançado em 2017 pela Darkside Books.
Quando Otto se perdeu na floresta um amparo inusitado surgiu de onde ele menos esperava. Três irmãs encantadas e aprisionadas por uma bruxa pedem auxílio para se libertar dessa prisão. As meninas foram deixadas à mercê da mulher, pois seu pai desejava apenar um varão como filho, desprezando as garotas uma por uma, na medida em que iam nascendo. Porém, apiedada do destino das meninas, a mulher responsável por entregá-las à própria sorte na floresta, decide pedir a acolhida da velha bruxa, que passa a tratar as garotas como suas serviçais, aprisionando-as em sua teia.
O menino, comovido com a história e desejoso de encontrar seu caminho de volta, coloca o espírito delas dentro de uma gaita e, assim, consegue encontrar a saída. Ao longo dos anos, esse instrumento musical peculiar vai mudando de dono e ajuda três crianças a recuperarem suas esperanças, perdidas para o medo diante das mazelas da vida.
Um garoto que gostaria de se tornar músico vê seu sonho interrompido pela ascensão do regime nazista. Decidido a se tornar um grande maestro, ele sofre preconceito por ter uma mancha em seu rosto e sonhar acordado com grandes composições. Na medida em que o cerco sobre os judeus se fecha, Fredrick se vê numa verdadeira corrida contra o tempo para salvar seu pai de um campo de concentração, ainda que para isso tenha que enfrentar seus piores medos.
Um esplêndido jovem pianista luta para não ser separado de seu irmão. Ambos foram deixados em um orfanato por sua falecida avó e vivem seus dias na esperança de serem adotados juntos por uma família amorosa. Tudo parece estar dando certo quando esse sonho se realiza, mas eles percebem que a casa para onde foram enviados é a morada de uma mulher amarga e arredia, que não parece querer nada dessa relação, a não ser atingir algum objetivo desconhecido.
Uma garotinha, filha de imigrantes mexicanos, cuida junto com seus pais da casa de alguns japoneses, considerados inimigos dos Estados Unidos durante a Segunda Guerra, enquanto enfrenta o preconceito social de uma cidade pequena.
Ecos é uma fábula moderna capaz de arrancar lágrimas dos olhos, ainda que você mergulhe nessa história sabendo o que esperar. A sinopse é apenas uma pincelada pequena diante da carga emocional gigante que você vai vivenciar com essa leitura. Com uma narrativa belíssima e extremamente poética, a autora demonstra uma sensibilidade incrível ao conectar as três tramas principais, em um desfecho super interessante, que tem tudo a ver com o centro dessa história – a música clássica – gerando uma angústia enorme no leitor, pois é impossível parar de ler até saber o que realmente aconteceu com todos esses personagens, algo revelado apenas nos capítulos de encerramento.
Eu me sensibilizei muito com a jornada de todos. Foi um dos livros mais impactantes e cheio de ternura que já li na vida. Eu fiquei aos prantos em várias cenas e me senti extremamente envolvida, ainda mais porque ele é contado pela perspectiva de crianças, que ainda estão descobrindo os horrores dos quais os seres humanos foram e são capazes até hoje. Seja diante de um regime totalitário ou o preconceito racial, Ecos aborda dentro desses enredos a importância de viver seus sonhos e de ser fiel aos seus ideais, que deveriam sempre ser pautados por sentimentos nobres, como a bondade e o respeito às diferenças.
Gostei, particularmente, da trama do aspirante a maestro. É notável que ele não é uma criança como as demais, não apenas pelo seu gosto musical, mas também pela maneira como se relaciona com as outras pessoas, já que não consegue se comunicar de um jeito natural, o que sugere algum transtorno do desenvolvimento. Acredito que essa trama seja uma das mais tensas, também, pois Fredrick precisa enfrentar a própria irmã, que acaba se envolvendo com o nazismo e colocando todos eles em perigo, pois nesse contexto não havia espaço para pessoas que eram consideradas diferentes.
A obra traz um enredo rico, que aborda e celebra a música clássica e o blues de forma simples e cativante e que, também, fala muito sobre a esperança de um mundo melhor para todos. A autora soube como ninguém conduzir essa história e encerrar o livro revisitando a narrativa da ajuda inesperada que Otto, o menininho que se perdeu na floresta, recebeu das irmãs aprisionadas. Simplesmente um dos melhores livros do ano até agora, que merece e precisa ser lido por mais pessoas.
- Echo
- Autor: Pam Muñoz Ryan
- Tradução: Dalton Caldas
- Ano: 2017
- Editora: Darkside Books
- Páginas: 360
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