Gente Ansiosa, obra do autor sueco Fredrik Backman, conta a história de um grupo de pessoas que, ao visitarem um apartamento à venda, acabaram virando reféns de uma pessoa que resolveu assaltar um banco. Esta é a história de todos aqueles envolvidos na situação, incluindo não apenas os reféns, mas os policiais, a caixa do banco, e até mesmo a pessoa que assaltou.
Essa seria a sinopse mais indicada para este livro, mas… tal como o próprio narrador diz incontáveis vezes ao longo desta obra, talvez esta história não seja exatamente sobre isso. Nem tudo é o que parece. Aliás, neste contexto, provavelmente nada é o que parece, e este é um dos maiores méritos da história: o quanto o autor construiu uma narrativa não linear para falar sobre os eventos deste dia em que foram feitos reféns em uma visita a um apartamento.
Backman vai mostrando aspectos enigmáticos à desvendar para entender exatamente o que ocorreu naquele dia, de maneira a capturar a atenção do leitor, assim como sua curiosidade. Este não é o único aspecto envolvente neste livro, no entanto, Backman escreveu uma história na qual os personagens, seus sentimentos e suas experiências tem importante centralidade. Ao longo do caminhar da narrativa, somos convidados a nos solidarizar por eles e torcer por seus destinos, em um importante exercício de empatia que acaba sendo parte central do livro, em meu ponto de vista.
Creio ser importante destacar que Gente Ansiosa não foi um livro perfeito para mim. Ao iniciar a história, estranhei o humor apresentado na narrativa, que acredito ser majoritariamente caracterizado por trazer personagens com traços de personalidade exagerados e situações incomuns. Minha primeira reação foi ficar incomodada, achando os personagens caricatos e o humor, forçado, principalmente nas piadas sobre diferenças geracionais que existem nas primeiras páginas deste livro. Ocorreu que, ao longo do transcurso do livro de Backman, algo mudou. Não sei bem se fui eu que me acostumei ao estilo de escrita do autor, ou se o humor ficou mais fluído em acordo com os acontecimentos da história, mas me peguei rindo em diversos momentos das situações inesperadas que Gente Ansiosa propunha.
Sobre esse título, aliás: fui ler este livro esperando uma abordagem mais explícita em relação a ansiedade, talvez do modo como “A Biblioteca da Meia-Noite”, de Matt Haig, faz, apontando os sofrimentos psíquicos da personagem principal e nomeando cada um deles. A forma de se aproximar da temática da ansiedade em “Gente Ansiosa” é diferente, no entanto. Ela nos convida a pensar sobre ansiedade ao apontar as preocupações dos personagens com o próprio futuro, sem, no entanto, precisar parar e dar um nome (ou diagnóstico) para aquilo que as pessoas estão sentindo.
No fim, preferi que o livro tenha sido dessa forma, até mesmo porque algumas passagens em que uma personagem se consulta com uma psicóloga me pareceram forçadas e pouco condizentes com a situação real de um consultório clínico. Assim, o livro, para mim, foi extremamente bem sucedido: não ao diagnosticar qualquer tipo de sofrimento, e sim ao relatar os problemas de um grupo de pessoas, suas preocupações em relação ao futuro, e nos convocar a nos solidarizar. O que mais gostei desta história reside exatamente nesse aspecto, e neste sentido o pedido saiu muito melhor do que a encomenda: recebi um livro que fala sobre empatia, tanto entre os personagens como a que acabamos sentindo por eles. Terminei essa história com coração quentinho, e com a sensação de que recomendaria para qualquer pessoa que desejasse uma leitura bem humorada sobre problemas difíceis. Não foi um livro cinco estrelas, mas foi, definitivamente, favoritado.
- Folk med ångest
- Autor: Fredrik Backman
- Tradução: Maira Parula
- Ano: 2021
- Editora: Editora Rocco
- Páginas: 368
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