Corina faz parte da equipe de pesquisa que testa trajes especiais de mergulho. A 300 metros de profundidade, em um oceano escuro, cinco pessoas estão presas numa estação de trabalho. Eles precisam lidar com as dificuldades e tensões de trabalhar no oceano como astronautas aquáticos. Quando descobrem que o cientista responsável pela expedição está certo que ali ele pode encontrar vida inteligente como nunca vista antes, o clima na estação se transforma e fica mais tenso a cada minuto. Corina terá que lidar com questões mais profundas que o oceano enquanto se pergunta se eles estão sozinhos.
Quando eu li o segundo romance publicado pela Aline Valek, Cidades Afundam em Dias Normais, eu sabia que precisava ler As Águas-Vivas não Sabem de Si. Romance que eu já estava de olho há algum tempo. Eu tinha me apaixonado pelo modo que Aline contou a história e precisava reencontrar a escrita dela. Essa leitura foi diferente do que imaginei, mas me levou para uma profundidade de sentimentos até então desconhecida para mim.
“Por mais sofisticada que fosse uma espécie, a força do planeta seria sempre superior.”
O livro é dividido em dezoito capítulos e para cada um deles, vamos ter um foco diferente dentro da história, mesmo que tudo esteja interligado e seguindo a linearidade do tempo passado no fundo do oceano. Como estamos vendo uma expedição no fundo do oceano, somos transportados para esse cenário rapidamente, era como se durante a leitura, eu estivesse ali com eles na imensidão do fundo do mar. Isso é sufocante e de certa forma angustiante, pois o medo de que algo acontece ali passava dos personagens para mim. Isso com certeza é culpa da delicadeza e da profundidade da escrita da autora. Mesmo ao narrar simples acontecimentos com os personagens, há um tom na narrativa que nos conecta aos mínimos detalhes.
Confira a resenha de Cidades Afundam em Dias Normais
Outro mérito na escrita de Aline Valek é no modo como ela representa o fundo do mar. É tudo tão real, que parecia que eu estava lendo um documentário. É muito interessante como o “ar” da narrativa muda quando os personagens descobrem o real motivo deles estarem ali. Passamos de curiosidade e exploração para sensação de perigo e observação em poucas páginas. Também há um clima de mistério sobre o fundo do oceano em capítulos que aparecem de forma esporádica e são centrados em criaturas marinhas. Essa narração está relacionada com a evolução da terra. A autora apresenta, num dos melhores capítulos do livro, os azúlis e a sua sociedade muito bem organizada. É tudo tão poético que eu me sentia na profundeza do mar vendo esses seres.
Corina, a personagem principal, é uma mergulhadora experiente. Durante a leitura vamos ver que ela é uma mulher fechada e que algo está incomodando seus pensamentos. Algo aconteceu com Corina, mas ela resiste a falar sobre isso. O interessante é que ela esconde isso da pequena equipe que integra, o que pode ser perigoso já que está relacionado com seu desempenho no trabalho. Ver como esse tempo no fundo do mar está influenciando lentamente seu comportamento é se deixar ser influenciado também. Mas estar escondendo algo não parece ser exclusividade de Corina, todas as pessoas da equipe tem as suas questões e esse pequeno ambiente, sem muito a fazer a não ser seguir a rotina de trabalho, vai colocar em xeque os sentimentos de todos.
A relação dessas cinco pessoas vai se dar de forma muito peculiar. Fica claro que há discrepâncias de pensamentos, e ao descobrirem que o responsável pela expedição está a procura de vida inteligente, as questões internas de cada personagem vêm à tona, seus medos e anseios ficam latentes. Gostei muito de como Aline trabalha cada um dentro do contexto da expedição. Cada um tem o seu papel para deixar a história mais tensa e envolvente.
Fiquei impactada com o final. Uma mistura de descrença e encantamento tomou conta de mim. As Águas-vivas Não Sabem de Si é aquele típico livro que não é para todo mundo, o que é uma pena, pois nem todos vão compreender a beleza ao se falar de solidão e questões internas de forma tão peculiar e profunda. É um livro calmo, profundo, cheio de mistérios e bonito, assim como o fundo do oceano!
- As Águas-Vivas não Sabem de Si
- Autor: Aline Valek
- Tradução: -
- Ano: 2019
- Editora: Rocco
- Páginas: 296
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