Bridgerton (2º Temporada) | Crítica

13 jun, 2022 Por Alessandra Paccola

A segunda temporada da série Bridgerton estreou na Netflix no dia 25 de março de 2022 e, até agora, já deu muito o que falar. Dessa vez, a trama trouxe a história de amor de Anthony Bridgerton e Kate Sharma, um dos casais mais shipados e aguardados pelos fãs da icônica série de livros escrita por Julia Quinn. Eu, que já li todos romances lançados, resolvi trazer para vocês o meu ponto de vista de uma pessoa que conhece o livro que serviu de base para essa adaptação – O Visconde que me Amava – lançado no Brasil pela Editora Arqueiro, mas, já aviso, essa análise conterá spoilers!

Em primeiro lugar, quero dizer que eu não tinha expectativas de que a narrativa mantivesse tudo da história original. Sabemos que é uma série que esbanja licença poética e tem uma maneira de contar o enredo dos Bridgerton como jamais imaginávamos. Com isso, eu tinha plena consciência de que a trama jamais poderia ser contada da mesma forma, pois, para quem viu a primeira temporada, foi notável que diversos aspectos do enredo original foram alterados para manter a narrativa mais atual e conectada com a realidade.


Entretanto, embora eu tenha curtido assistir, tenho muitas ressalvas (muitas mesmo), pois o romance de Kate e Anthony foi completamente descaracterizado, retirando cenas importantes para os fãs e colocando em xeque o carinho pelos personagens, já que foi difícil gostar da escolha dos produtores para recontar essa história. Vou explicar um pouco melhor.

Aqui somos apresentados a uma Kate um pouco manipuladora, que levou sua noção de cuidado pela irmã a um nível péssimo. Diferente dos livros, em que vemos uma mulher de fibra e muito correta, a protagonista da vez careceu de simpatia e foi relegada ao papel de figurante, uma verdadeira lástima, diga-se de passagem. Formou-se um triângulo amoroso desagradável, composto pelas irmãs Edwina e Kate e o Visconde, algo, no mínimo, doloroso de se acompanhar e que era totalmente desnecessário para contar essa história. Eu fiquei incrédula ao vê-la permitir Edwina chegar ao altar para só então descobrir esse amor secreto que eles estavam vivendo. Aliás, não me convenceu nem um pouco, porém, talvez eu não tenha sido a única, já que o tempo de tela do casal apaixonado foi ínfimo.

Confira a resenha O Visconde Que Me Amava

No livro, originalmente, o enlace dos dois é forçado pela cena da abelha em que Kate é picada. Por mais simples e risível que pareça, Anthony e Kate são flagrados em um momento supostamente íntimo que, pelas regras da sociedade da época, os obrigam a se casar para que aquilo não se torne um escândalo. A explicação é dada ao longo dos episódios, pois o mocinho em questão perdeu seu pai quando em tenra idade, vítima do mesmo inseto, deixando para ele o peso da obrigação de tornar-se o homem da família, com toda a pompa e circunstância que o título de Visconde carregava. Assim, vendo Kate ser ferroada, Anthony revive seu pior pesadelo e age impulsivamente para tentar salvar a vida da dama. o que o leva a um dilema moral: o enlace necessário com uma moça que jamais imaginou desposar. Porém, na adaptação, esse momento de virada não teve a devida atenção, o que chateou os fãs, eu incluída.

Outro fato lamentável é que Penélope Featherington, já apresentada pela série como a mulher por detrás do codinome Lady Whistledown, foi colocada como uma pessoa de má índole e sem escrúpulos. Ao menos foi assim que seu arco foi finalizado nessa temporada, como se fosse igual a sua mãe, maquiavélica, embora essa tenha agido em nome da reputação de suas filhas, o que pode ou não escusar suas ações. Confesso, também, que fiquei bem chateada com a postura de Eloise Bridgerton quando decide dar as costas à Penélope,  sua melhor amiga, embora entenda sua decepção com ela, que manteve sua vida paralela como colunista de fofoca para si mesma, usando a jovem companheira para ocultar sua persona.

Mas voltemos ao casal. Considerado um dos melhores livros da série, inclusive por mim, a expectativa era me encantar com esse romance, da mesma forma que foi com a primeira temporada, porém, fiquei apenas no campo da decepção, já que não consegui sentir uma conexão entre eles. A série deveria ter dado menos ênfase para Edwina e ter deixado Kate brilhar, fato que não aconteceu. Uma pena, pois foi uma das coisas que faltaram para que a trama ficasse mais cativante, já que todo o enredo deveria ter sido dedicado à construção do romance do casal principal, como era de se esperar.

A família Bridgerton em si também precisaria ser melhor trabalhada. Francesca, por exemplo, nunca nem foi citada e parece que ela não existe, embora, pasmem, ela surja em algumas cenas. Eu nem me lembro se eu a vi abrindo a boca para falar durante as duas temporadas disponíveis, mas, atualizações recentes dizem que a atriz foi substituída. Estão surpresos? Eu também não!

Enfim, claro que eu gostei em partes, todavia foi como tentar tirar leite de pedra. A ambientação continua impecável, os figurinos lindos e deslumbrantes, sem falar da trilha sonora magnífica e marcante. Portanto, sim, muita coisa me entreteve enquanto maratonava essa temporada. Uma das coisas mais divertidas foi acompanhar a Rainha e seu humor volátil, além do pequeno arco dedicado à solução do mistério sobre quem seria Lady Whistledown,

Para finalizar, já sabemos que a terceira temporada ficará por conta da história de Colin e Penélope, pulando o livro anterior – Um Perfeito Cavalheiro – que conta a história de Benedict, outro favorito meu. Espero, sinceramente, que Shonda Rimes tenha alguma carta na manga, pois é preciso reerguer Bridgerton desse buraco em que foi enfiado.

  • Bridgerton
  • Lançamento: 2022
  • Criado por: CHRIS VAN DUSEN
  • Com: Jonathan Bailey, Simone Ashley, Nicola Coughlan
  • Gênero: DRAMA, HISTÓRICO, ROMANCE
  • Duração: 8 EPISÓDIOS - 60 MINUTOS

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