Se você acha que literatura e esportes não se misturam, está muito enganado – e certamente mudará de ideia até o final deste artigo. Afinal, a prática de modalidades como futebol, vôlei, automobilismo, basquete, tênis, natação, artes marciais e tantos outros fazem parte de praticamente qualquer sociedade há séculos, e inevitavelmente os esportes encontrariam seu caminho nos livros.
Os motivos são vários. O primeiro deles é muito simples: o esporte, mais do que formar vencedores (e perdedores, claro) é uma máquina de contar histórias. Você certamente já ouviu falar sobre o corredor negro norte-americano que peitou o governo nazista em plena Alemanha, durante os Jogos Olímpicos de Berlim, em 1936, certo? Ou de um certo atleta que superou duas lesões sérias de joelho e conviveu por anos com a incerteza de que voltaria a jogar futebol antes de conduzir seu país ao título máximo do futebol mundial?
Esses são apenas dois de milhares de exemplos de histórias que dariam um livro – e de fato deram. Os atletas em questão são Carl Lewis, cujo feito foi retratado na autobiografia “O homem que derrotou Hitler”, e Ronaldo, cuja carreira já motivou o lançamento não de um, mas de vários livros.
Porém, histórias fantásticas como essas não são os únicos motivos pelo qual os esportes têm um grande espaço na literatura. As modalidades evoluem com o tempo sob o ponto de vista técnico, tático, fisiológico e até psicológico. Por isso, existem milhares de livros de esporte abordando as nuances de cada modalidade para quem busca se profissionalizar em alguma delas – ou simplesmente conhecer o jogo mais a fundo, seja ele qual for.
Futebol e literatura: uma combinação de décadas
Naturalmente, o futebol domina a literatura esportiva, sobretudo no país, onde a modalidade está muito à frente das demais. No jornalismo esportivo, um dos grandes percussores dessa união entre literatura e esporte foi Nelson Rodrigues que, entre tantos outros feitos, ficou famoso por suas crônicas esportivas que se preocupavam em ir além de apenas noticiar o que aconteceu em uma partida de futebol, mas contar de uma forma romântica, com contornos de drama.
Ao lado do irmão, Mário Filho – outro grande cronista do jornalismo esportivo brasileiro – escreveu grandes crônicas que futuramente foram reunidas no livro “Fla-Flu… e as multidões despertaram!”, uma coletânea sobre o clássico entre os rivais Flamengo e Fluminense, considerado um dos mais tradicionais do futebol brasileiro e mundial.
Nelson Rodrigues nos deixou em 1980, e Mário Filho, ainda antes, em 1966. Mas pode-se dizer que os dois deixaram um legado que permanece vivo até hoje. Ao entrar em qualquer livraria, é possível encontrar uma seção somente com livros de futebol.
Há livros para todos os gostos. Para quem gosta de biografias, análises táticas, história de clubes, de torneios e também aspectos fisiológicos. Outros livros extrapolam até mesmo as quatro linhas, como o ótimo “Como o Futebol Explica o Mundo”, de Franklin Foer, que associa o futebol a política e sociologia, ou o “Soccernomics”, dos autores Stefan Szymanski e Simon Kuper, uma ótima análise da máquina de dinheiro que se tornou o futebol moderno.
Outros esportes também têm espaço
O futebol é apenas uma das centenas de modalidades esportivas existentes no mundo, e cada uma delas encontrou espaço no mundo da literatura. Os fãs de basquete, por exemplo, não podem deixar de ler a biografia de Michael Jordan, escrita pelo vencedor do prêmio Pulitzer David Halberstam. Quem gosta de tênis vai se apaixonar por “Guga, Um Brasileiro”, autobiografia de Gustavo Kuerten, tricampeão de Roland Garros. O que dizer, então, de “Ayrton Senna: uma lenda a toda velocidade”, de Christopher Hilton?
Não são apenas os esportes mais tradicionais que aparecem com frequência em livros. Também há muito espaço para os chamados esportes da mente, com livros de poker, xadrez e outras modalidades. O mercado nesse segmento é um pouco mais técnico, ou seja, dominado por textos sobre estratégia, mas existem outros inspiracionais que trazem histórias reais de jogadores, como “Xeque-Mate A Vida é Um Jogo de Xadrez”, que conta a biografia do campeão Garry Kasparov.
Esporte e ficção
Por fim, vale ressaltar que os esportes também fazem parte da literatura ficcional, ou seja, grandes histórias que têm alguma modalidade como plano de fundo para o desenvolvimento da narrativa. Um exemplo é “Jogando por Pizza”, do romancista John Grisham (mais conhecido por livros como “Maus” e “Tempo de Matar”), em que o protagonista vira um jogador de futebol na Itália após fracassar em outro futebol, o americano.
A literatura esportiva também está amplamente presente na cultura japonesa. Mangás de grande sucesso e anos de publicação são baseados em esportes, como “Slam Dunk” (Takehiko Inoue), de basquete, e “Hajime no Ippo” (George Morikawa), de boxe – ambos adaptados para anime.
Goste ou não de esportes, não há como negar que existe, sim, muito espaço para eles no mundo da literatura, seja em histórias reais ou na ficção.