Vantagens Que Encontrei na Morte do Meu Pai | Paula Febbe

Muitos leitores podem não saber ainda, mas temos uma escritora nacional extremamente sangrenta e sanguinária, que ainda não tinha tido a oportunidade de chegar ao grande público com uma grande editora bem à forma que sua literatura de suspense e terror merece. Paula Febbe ainda não tem a projeção que merece, que sua literatura deve ter, mas agora ganha sua grande oportunidade, chegando às livrarias para ocupar uma posição de destaque, na vitrine, com um livro que logo no título apresenta toda audácia que sua escrita busca.

O que vem à sua cabeça ao pegar um livro com a capa branca, com marcas de sangue e as palavras desencontradas “As Vantagens Que Encontrei na Morte do meu Pai”? Complicado né, eu diria que aterrorizante, alguns podem ficar assustados, outros ficariam curiosos, gostarem do título diferente, que coloca em xeque uma das instituições mais sagradas de nossas vidas, o amor paterno.

Não é de hoje que conheço a escritora, minha primeira experiência com ela foi Cartas no Corredor da Morte, livro que li mais por levar o nome de Claudia Lemes, outra escritora nacional fabulosa, mas que a apresentou para mim. Depois fui ler os outros, passando a conhecer quase toda sua biografia, se tornando uma daquelas autoras que eu não preciso nem ver o título do seu lançamento, que compro o livro apenas por ser dela, e foi assim com essa nova obra. Comprei na pré-venda, antes de ler qualquer detalhe sobre ele, tendo a certeza de que o livro seria perfeito.

Deste vez Paula dá vida à enfermeira Débora, que tem um filho com quem divide seu tempo entre sua educação e o trabalho desgastante que leva tentando salvar vidas, as vezes até mesmo abdicando da sua. O livro começa com uma narrativa dura, sobre corpos, sobre a morte, sobre coisas que claramente assombram nossa personagem principal, que parece não ter mais ninguém ao seu lado além dos seus pacientes e de seu amado filho.

A maneira morna como o livro carrega sua primeira metade foi um pouco desanimadora para mim, devido toda introdução que dei sobre a escritora, minha expectativa pela obra era enorme, via como a grande chance dela se tornar um nome recorrente nas vitrines das livrarias, mas a leitura estava ficando completamente monótono e sem sentido, eu não conseguia imaginar onde aquilo poderia levar.

Mas eu não conseguia por não saber o que se passa na cabeça dessa escritora genial que é Paula Febbe, ela é imprevisível, mesmo que você saiba que em algum momento a coisa ficará absurdamente maravilhosa, você não sabe de onde aquilo pode vir. Só sei que veio de um jeito arrasador, foi só virar da página 100 para a 101 e ver a grande revelação para minha cabeça explodir, para que as primeiras 100 páginas passassem a fazer sentido de uma maneira inimaginável e perfeita, colocando um terror absurdo no restante da história, mudando completamente a percepção que o leitor tem de tudo, uma guinada poucas vezes vista na literatura nacional.

A reviravolta me surpreendeu demais, de uma forma que eu não sentia há algum tempo, fiquei na dúvida sobre reler a primeira parte da história, agora sabendo deste spoiler revelador, que daria um sentido completamente diferente à minha experiência, sabendo que agora tudo faria sentido, que todas as peças daquela história com um desenvolvimento atrapalhado e louco fazia sentido. Mas preferi não ler, eu queria desesperadamente saber onde aquela história iria parar, e aí, como que por mágica, vemos uma aceleração pesada da obra e se o sentimento anterior era de querer que a história acelerasse para acabar aquilo logo, perto do final, tudo que eu mais queria era um botão de slow motion, para segurar o prazer que aquela descoberta tinha dado ao livro e saboreá-lo com uma calma completamente oposta ao que a personagem principal começou a ter.

Vantagens Que Encontrei na Morte do Meu Pai é um livro fabuloso, que só tem o defeito de ser curto, que mostra a todos como a genialidade de uma escritora pode fazer leitores ficarem boquiabertos com suas ideias, que geram um encaixe perfeitamente perturbado em que o lê, quase que explicando por que amamos esse gênero e seus elementos, que mostram como se conectar com um livro é tão importante, além é claro, do principal, apresentar às vitrines o nome de Paula Febbe, evidenciando que temos escritoras tão boas quanto países maiores e onde a literatura é mais valorizada.

Já era fã de Paula, já sabia do seu poder de fascinar, já sabia do seu “QUE” de Karin Slaughter, capaz de produzir os próprios massacres, mas dessa vez fui pego pela originalidade, pela capacidade de ser enganado com facilidade, de pensar por alguns instantes que Paula poderia falhar. Ela não falhou. Escreveu seu livro mais incrível, e eu só quero saber o que vem por aí.