Atenção! Alerta de gatilhos, como abuso psicológico, violência, perseguição.
Egito, 1283 a.c. Zarah é uma jovem hebreia, dona de uma beleza extraordinária e sonhos que parecem impossíveis. Leva uma vida miserável ao lado da mãe, principalmente depois que seu pai faleceu, sua mãe é uma mulher muito doente, tomada por dores tão intensas que por vezes não permite que ela consiga trabalhar, e por consequência não receber a sua porção de alimento. A fome é constante, assim como toda a pobreza e sofrimento de um povo escravizado. O respiro de seus dias, após longas horas de trabalho e areia que gruda na alma, sua pequena porção de alívio, fica por conta da sua amizade com David, seu melhor amigo, alguém que sempre está ali por ela, a ajudando da maneira que consegue e compartilhando a esperança de dias melhores.
O sonho da liberdade, de uma vida melhor, tanto para si, quanto para todo seu povo, queima no coração de Zarah a cada dia com mais força e fica ainda mais latente no dia que ela conhece Ramose, um poderoso comandante egípcio, que a salva de um ataque. Ele é o inimigo, ele representa tudo que Zarah aprendeu a odiar e temer, mas ao mesmo tempo se revela uma agradável promessa para uma vida mais próxima daquilo que ela sempre sonhou. Um homem poderoso, que não aceita um não como resposta, que desperta em seu corpo, assim como em seu coração sentimentos conflitantes, colocando sua emoção e razão para duelarem. Tudo ao seu redor vibra de uma forma diferente, Zarah nunca precisou lidar com o turbilhão de sensações que a tomam quando está na presença de Ramose; desejo, paixão, submissão, pertencimento, ciúmes, posse, fartura, promessas e mais promessas de um futuro que parece perfeito demais para ser real, perfeito demais para resistir a experimentar.
“— A real cegueira é a cegueira sobre quem você verdadeiramente é.”
Deslumbrada, inebriada, seduzida pela paixão, por suas decisões, por aquilo que se pinta a sua frente, ela acaba baixando a guarda, se deixa levar, se perde, se esquecendo de si, de seu povo, de sua fé e valores. E quando se dá conta do caminho que percorreu e o quão longe está de tudo que acreditou e de quem um dia ela foi, Zarah passa a entender o tipo de relacionamento que tem vivido, que se tornou mais uma vez, uma prisioneira. Agora ela precisa ir atrás de sua liberdade, do controle da sua vida, lutar muito para encontrar seu caminho de volta, se redescobrir, encontrar o perdão, voltar a sua essência. Uma jornada tortuosa, dolorosa e difícil.
Babi A. Sette, é uma das minhas autoras nacionais favoritas da vida, eu já li todas as suas publicações e sempre me surpreendo e fico apaixonada por suas letras. Gosto de como seus enredos sempre possuem uma veia mais dramática, promovendo ao leitor mais que entretenimento, reflexões e pontos históricos que se entrelaçam com a ficção. E em A Aurora de Lótus, não foi diferente. Aqui nos deparamos com uma jovem cansada, exausta de uma vida de sacrifício, luta e muito trabalho debaixo de um sol escaldante, Zarah é filha única e após a morte do pai se vê na “obrigação” de cuidar da sua mãe e lutar pelo seu povo hebreu que estão sendo escravizados pelos egípcios.
Ela sonha com uma vida melhor, mas também sabe o quanto pode ser difícil, se não impossível encontrar liberdade. Ela sempre pode contar com seu melhor amigo David, só que a situação dele é tão escassa e complicada quanto a dela, ou seja, cheia de limitações. Quando Ramose surge em sua vida como um oásis, é praticamente impossível resistir ao charme, ao poder, a tudo que aquele homem imponente está oferecendo; saúde para sua mãe, fartura, conhecimento, acesso ao Faraó buscando uma chance para seu povo, uma vida totalmente diferente daquela que ela sempre conheceu. Deslumbrada, ela não resiste e em meio a névoa de sedução, paixão e entrega, ela não percebe o quão entrelaçada na teia do que realmente é Ramose, ela está. O despertar de Zarah é doloroso, marca a vida dessa jovem, principalmente quando ela se dá conta, de que suas decisões impactaram em muitas outras vidas, além da dela.
“— Você acredita que o amor pode caminhar com o medo, mas o medo é o oposto do amor. O amor não ganha do medo lutando contra ele. E, sim, por ser tão mais forte que se sobrepõe a ele. A dor e o medo caminham juntos, é impossível experimentar um sem sentir o outro. Mas o amor? O amor não tem nada a ver com os dois. Volte a enxergar, minha criança.”
Como vocês já puderam perceber, existe toda uma aura de romance proibido, romance com o inimigo, uma dança perigosa, um relacionamento abusivo e tóxico, e eu gostei de como a autora trabalhou. Assim como Zarah, nós demoramos a nos darmos conta do que de fato está acontecendo e no primeiro momento nos vemos compreendendo e até seduzidos pelas promessas. Porém, a forma como nossa protagonista se entrega tão facilmente, baixa a guarda para um inimigo que ela tão pouco conhece, incomoda um pouco. Até porque estamos vibrando e torcendo por outro personagem… E é aí que tenho o primeiro ponto que não gostei na história, o triângulo amoroso. Mas isso tem muito mais a ver comigo, do que com um problema real na narrativa.
Pela primeira vez ao ler um livro da Babi, eu não me apeguei aos personagens, ou pelo menos, não me apeguei o suficiente para sofrer com eles, o início do livro é incrível, a história daquele povo escravizado doí, os primeiros personagens são cheios de vida, o flerte com aquele primeiro romance gera expectativa, mas o andar da história a deixou morna, e depois fria, ao ponto de eu só querer finalizar a leitura. E isso pode ter ocorrido, porque a história aborda temas problemáticos, que incomoda, tira da zona de conforto e trás uma intensidade que talvez naquele momento eu não estivesse buscando. O que torna a obra, genial. Ela cumpre seu papel.
Outro ponto que se destaca é a ambientação, a autora teve um cuidado genuíno em retratar a época, respeitar acontecimentos históricos e não ferir a “fé”. A construção dos cenários, a descrição dos ambientes, me fez sentir em meio a um Egito antigo e seus costumes tão distantes dos nossos. Uma curiosidade que acho interessante mencionar, é que A Aurora de Lótus, foi o primeiro romance escrito pela Babi, e ele ficou muitos anos guardado, adormecido, esperando o momento perfeito para chegar aos leitores. Babi sempre foi dona de um talento incrível.
Enfim, caros leitores. Eu gostei da leitura, acho que ela tem mais pontos positivos que negativos, a escrita da Babi é envolvente, fluída, e apesar de não ter atingido as minhas expectativas e olha aqui a palavrinha MINHAS expectativas, é um romance diferente de todos os outros da Babi, ambientado no Egito, em 1283 a.c., quer motivo mais maravilhoso para ler do que este? Quantos romances você pode dizer que se passam nessa época? Até a próxima! Bye.
- A Aurora de Lótus
- Autor: Babi A. Sette
- Tradução: -
- Ano: 2021
- Editora: Verus
- Páginas: 350
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