Maisie Dobbs é o primeiro volume da série Maisie Dobbs, publicada pela Arqueiro pelo novo selo, Mistérios em Série. Na saga, vamos acompanhar Maisie, investigadora e psicóloga que depois de servir como enfermeira na Primeira Guerra Mundial, volta a Londres para trabalhar com o médico e detetive Dr. Mauricie Blance. Ele foi responsável por ajudá-la nos estudos, sendo seu mentor. Os próximos dois volumes da série já têm data de lançamento, o segundo, O Caso das Penas Brancas, lançado em julho; e o terceiro, Mentiras Perdoáveis, em outubro de 2022.

Maisie abre seu próprio escritório de investigadora em 1929. Agora sem o suporte de Mauricie, que já faleceu, ela precisa colocar em prática tudo que aprendeu com ele. Seu primeiro caso vai parecer muito simples, pois envolve um homem suspeitando que a mulher está o traindo. Assim, Maisie aceita o caso e começa a investigar a esposa de seu cliente. Contudo, essa procura por indícios de infidelidade vai acabar trazendo à tona lembranças que assombram Maisie há muitos anos. 

Uma das coisas que me surpreendeu no livro é a forma como ele é narrado, a história é dividida em dois momentos. Sendo o primeiro focado na investigação de infidelidade como primeiro caso de Maisie. A investigação é bem simples e logo já está resolvida, mas é a partir da interação de Maisie com a mulher investigada e com sua curiosidade sobre as estranhezas envolvendo o caso, que a protagonista vai ter lembranças e sentimentos despertados. Mesmo que nesse momento, a autora dê pouca informação, já consegui ter uma desconfiança do que poderia acontecer no futuro do livro.

Já na segunda parte, vamos fazer uma viagem ao passado de Maisie quando ela tinha somente 13 anos, órfã de mãe, vai trabalhar como empregada numa mansão para ajudar o pai. Sempre muito curiosa e inteligente, Maisie vai se interessar por livros da biblioteca da mansão, e assim vai atrair o olhar de sua patroa. Não demora muito para a garota estar sob a tutela do  médico e detetive Dr. Mauricie Blance, que resolve investir na educação dela.


E nessa parte que vamos ver ela crescer e se oferecer para ir ajudar na Primeira Guerra Mundial como enfermeira. Na França, trabalhando na Cruz Vermelha, Maisie vai ver os horrores da guerra, mas vai descobrir o amor. E com a carga de tudo que vivi nesse período que a detetive é atormentada, os traumas de guerra para cada pessoa são diferentes e Maisie tem os seus. Ela só não esperava que tanto tempo depois teria que trazer a tba lembranças, sentimentos e tentar resolver o que acha que ficou para trás.

“A verdade vem em nossa direção pelo caminho das nossas perguntas”.

Essa foi a parte do livro que mais gostei, a que explora os sentimentos da protagonista. A escrita da autora é muito simples, mas envolvente e fluída. Apesar de ficar muito tempo acompanhando o passado de Maisie, no final da leitura, acho que valeu a pena. Me senti muito ligada a ela e sensibilizada com o que ela viveu. Eu sempre me interesso por livros que abordam as sequelas psicológicas de guerras nas pessoas, pois ninguém sai ileso, mas cada um tem seus fantasmas envolvendo esses conflitos. Assim, ver as dores e os traumas desses personagens, sempre me traz uma empatia, uma troca de lugar desconhecida e assustadora para mim. E o que mais me deixa feliz é ver que até mesmo quem viu atrocidades e o quão cruel pode ser uma guerra pode voltar a ser feliz e tranquilo. Jacqueline Winspear trabalha o tema com cautela e sensibilidade, e foi isso que me ganhou.

Há um mistério ligando as duas partes da narrativa, e isso é muito interessante, pois a autora mostrou complexidade ao desenvolver esse tópico e conseguiu me deixar bem curiosa sobre a verdade por trás do mistério. Não há grandes momentos de surpresa, eu imaginei que certas coisas iriam acontecer e de fato elas aconteceram. Mas isso não é um problema, pois a autora está trabalhando outras questões aqui. Ela usa de uma história mais óbvia para emocionar através dos mais simples acontecimentos. Assim, é através de momentos de introspecção de Maisie que a história foi me ganhando pouco a pouco. Inclusive o destaque está também na própria Maisie. Sua história de criação, sua luta no trabalho, seu interesse por estudos até mesmo sua relação com as outras personagens mostraram sua personalidade forte, determinada e sensível. 

Quando o final da narrativa chega, tudo faz sentido na construção do livro e no modo como a autora decidiu apresentar essa história. Eu simpatizei com Maisie desde o primeiro momento e fiquei feliz em ver seu modo de pensar e trabalhar como detetive. Estou curiosa para acompanhá-la em mais um acaso.

  • Maisie Dobbs
  • Autor: Jacqueline Winspear
  • Tradução: Nina Schipper
  • Ano: 2022
  • Editora: Arqueiro
  • Páginas: 304
  • Amazon

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