Alice dorme todos os dias escutando o som de sua caixinha de música. Para sua tristeza, a caixa para de funcionar sem motivo aparente, e com isso ela vai passar as noites chorando. Até os vizinhos começam a ficar incomodados com a tristeza da moça. Dona Genilda, a mãe de Alice, pede desculpas e explica às pessoas o ocorrido. Assim, sem dormir a vários dias, o sofrimento de Alice só cresce. Todos estão preocupados, alguns até tentam arrumar a caixinha, mas ninguém consegue. Como última tentativa, sua tia leva a caixa para Jurandir Jeitoso, um senhor que consertava máquinas de costura.
A história, que se passa em uma pequena cidade no sertão de Minas Gerais, tem muita cara de acontecimentos do interior. Para ajudar nessa caracterização do lugar, a arte de Lelis está perfeita. Cada detalhe, as ruas, as casas e até mesmo o modo como ele retrata os personagens me transportaram para uma cidadezinha pequena e aconchegante. As cores também seguem um padrão que colaboram para esse ambiente, há muitos tons acinzentado e tons coloridos em momentos-chave.
“Do fundo da oficina, em meio à penumbra, surgiu uma criatura.”
A narrativa em si carrega uma simplicidade muito bonita, contudo ela é cheia de profundidade e sentimentos. Ao contrário do que achei, a história não é sobre Alice, mas sim sobre Jurandir Jeitoso. A princípio conhecemos ele como um velho rabugento que conserta coisas. Contudo conforme vamos vendo o desenrolar da trama, compreendemos os motivos por trás da carranca de Jurandir.
O que eu mais gosto ao ler livros desse tipo é exatamente essa profundidade e o modo como sou tocada por poucas imagens e poucas falas. Principalmente pelo final, que vem para trazer reflexão e dar aquele apertinho no coração. Anuí é uma história em quadrinhos que tem profundidade e nos faz pensar sobre como, muitas vezes, nós nos fechamos em nossos sentimentos e mágoas e de como isso nos transforma. Mas também fala sobre como pequenos gestos e acontecimentos podem nos trazer de volta como quem somos de verdade.
- Anuí
- Autor: Marcelo Lelis
- Tradução: -
- Ano: 2018
- Editora: SESI-SP
- Páginas: 64
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