Clara Densmore é uma bruxa com poderes raros. Enquanto todos os outros bruxos têm sua magia conectada a apenas uma das estações, ela é uma atemporal, ligada a todos os climas. Em um mundo de crise climática, a magia de Clara parece a solução para conter a curto prazo uma atmosfera cada vez mais caótica e destrutiva. Esta já seria uma situação tensa, mas piora toda a situação o fato de Clara ter dificuldade de controlar sua magia, que parece destruir todos aqueles que ela ama.
É com a chegada de um novo parceiro de treino que a situação de Clara muda, criando a esperança de que ela possa, finalmente, controlar seus poderes. Será que ela conseguirá? Será que está destinada a uma vida de isolamento, ou precisará eliminar seus poderes para proteger aqueles que estão próximos dela? Esta é a sinopse de A Natureza das Bruxas, livro de estreia da escritora Rachel Griffin.
Quando fiquei sabendo da sinopse de um livro cuja protagonista era uma bruxa com o meu nome, a garota de doze anos fã de Harry Potter que um dia fui se manifestou. Eu simplesmente precisava ler essa história. Era um bônus o fato de que o pano de fundo era a crise climática que estamos vivendo, tão importante de ser evidenciada e combatida. Foi com esta empolgação que cheguei a esta obra. O que encontrei na narrativa me surpreendeu; em alguns aspectos, de forma positiva, mas infelizmente em outros nem tanto.
A primeira surpresa a ser ressaltada é que A Natureza das Bruxas é um livro de romance, apesar de sua atmosfera fantástica. Normalmente prefiro livros de fantasia, mas neste caso o romance me agradou. Temos um par romântico com uma relação saudável e bem desenvolvida, que me fez torcer para que eles pudessem permanecer juntos até o final da história. É aquela relação que demora para acontecer – o chamado slow burn -, o que tende a me agradar, já que podemos acompanhar desta forma o que atrai os personagens um para o outro. Outro aspecto que me agradou foi que ambos os protagonistas fogem, nem que seja um pouco, do clichê do casal de livros de romance: a protagonista é bissexual, e o mocinho é sensível e calmo.
A fantasia, mesmo que tenha ficado em segundo plano perante o romance, é bastante interessante, porque recupera um contato com a natureza que muitas vezes perdemos no dia a dia de grandes cidades. Rachel Griffin fez um trabalho muito delicado e bem-sucedido de resgatar o que se passa em cada estação do ano, trazendo os aspectos aconchegantes presentes em cada uma delas.
Infelizmente, nem todos os aspectos do livro foram positivos, conforme dito anteriormente. A autora utiliza um clichê muito comum em fantasias: a(o) protagonista que tem medo de seu próprio poder, grande demais para que ela(e) se sinta confortável em utilizá-lo livremente. É muito comum que esses personagens, assim como Clara, tornem-se reservados e solitários ao afastar as pessoas que amam na tentativa de protegê-las. Isto não seria um problema se fosse apenas um aspecto de uma história maior; porém, a narrativa de A Natureza das Bruxas gira em torno desse conflito clichê. As frases de efeito genéricas presentes nas epígrafes de cada capítulo apenas reforçaram essa sensação, ao invés de instigar a curiosidade em relação ao que seria dito nos capítulos que as seguiriam.
Acabei concluindo que esta é uma história clichê rápida de ler, leve, interessante e cativante, que mostra a necessidade urgente de olhar para a crise climática que se impõe atualmente. É um livro que recomendo, mas que acabou me decepcionando por não utilizar de maneira inovadora a ideia de um tipo de magia ligada a natureza e que se dá de acordo com as estações do ano.
- The nature of witches
- Autor: Rachel Griffin
- Tradução: Pedro Pedalini
- Ano: 2022
- Editora: Rocco
- Páginas: 304
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