Jun tem pouco mais de dois anos quando é diagnosticado com autismo. Sua família precisa aprender a lidar com as “diferenças” apresentadas por ele. Assim, acompanhamos o dia a dia de sua família e da luta, também diária, contra o preconceito da sociedade diante a deficiência de Jun. Keum Suk Gendry-Kim conheceu Jun, em 2010, durante aulas de música tradicional coreana. Ela ficou muito encantada com ele e achou que contar sua história seria uma ótima oportunidade para falar tanto do preconceito da sociedade quanto de trabalhar o sentimento de empatia no leitor. 

Jun é um menino que tem suas limitações, ele não faz muito contato e não fala. O médico disse a sua mãe que ele teria para sempre a mentalidade de uma criança de sete anos, e por causa disso, ela se vê sempre muito preocupada com ele. Ela o leva na escola, passa as tardes ao seu lado ou esperando do lado de fora, faz tudo que pode pelo filho e está sempre cuidando de suas “necessidades”. Contudo, sua irmã mais velha, Yun-Seon, acha que a mãe limita muito os movimentos do pequeno e acredita que ele é mais esperto do que a mãe imagina. Assim, ela sempre que possível, deixa Jun mais livre para fazer as coisas que ele gosta.

“Como é possível que o som do metrô, mero barulho aos nossos ouvidos, seja sentido por ele como uma bela melodia? Ele parece mesmo ouvir de uma forma diferente de nós.”

Foi muito interessante ver esses dois lados da família, pois eu entendo as preocupações da mãe de Jun, que largou toda sua vida para se dedicar 100% ao filho, mas concordo com Yun-Seon ao reclamar que a mãe não dá espaço ao irmão. Ele se mostra muito capaz de fazer várias coisas e entende praticamente tudo que falam e pedem para ele. Na escola ou quando ele precisa fazer interações com outras crianças, ele enfrenta limitações que são impostas por outras pessoas. Isso só reforça a maneira preconceituosa que muitas pessoas o veem.  

É impressionante quando Jun se envolve com a música. Ver sua evolução, encheu meu coração de amor. Depois que ele se envolve cada vez mais com a música, seu desenvolvimento é rápido e bonito. Um menino que era tímido, calado e retraído passa a falar, interagir e se envolver com outras atividades. Sem falar em como ele aprende rápido tudo relacionado a música tradicional coreana. Jun é um menino querido, carinhoso, sensível e esperto. Mas foi a mãe de Jun que me deixou surpresa, uma mulher forte e determinada, que em nenhum momento pensou em desistir de suas decisões. Se mantém firme perante as outras pessoas e não se vitimiza em nenhum momento (aliás, toda a família tem esse comportamento). Eu fiquei bem feliz com a dedicação da mãe de Jun e de tudo que ela fazia para ele.

A narrativa documental é tão simples, mas carregada de sentimento e críticas à sociedade da Coréia do Sul. É claro que atinge todos que têm preconceitos com as pessoas que possuem qualquer tipo de deficiência. Acompanhar o cotidiano dessa família é impressionante, pois eles tiveram que lutar contra muitas pessoas insensíveis à situação. Jun se tornou famoso na música Pansori, gênero folclórico de música da Coreia do Sul, e isso só foi possível com aceitação e superação. Emocionante!

  • Jun
  • Autor: Keum Suk Gendry-Kim
  • Tradução: Yun Jung Im
  • Ano: 2022
  • Editora: Pipoca e Nanquim
  • Páginas: 260
  • Amazon

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