Isabel Allende, sem nenhuma dúvida, a melhor escritora que a literatura já viu, que ainda está viva e segue lançando livros fabulosos. Seu último livro inédito, Violeta, lançado no começo do ano passado, foi uma das melhores leituras da minha vida, outro, mais antigo, A Casa dos Espíritos é até hoje considerado um dos melhores livros de todos os tempos, Paula então, nem se fala, a escritora teve a capacidade de criar uma biografia sobre a vida da filha enquanto esta estava convalescendo no hospital, falando de tudo pelo que ela passou durante o tempo, até a dolorosa morte precoce de Paula.
Mas eu nunca imaginei que ela conseguiria escrever um livro como A Cidade das Feras, só de termos uma obra fantástica, um infantojuvenil que se passa em plena floresta Amazônica, em terras brasileiras, escrito por essa autora genial, já vale a pena a leitura, mas o que ela faz é surreal, quase inacreditável.
Conheceremos Alex, um garoto americano de 15 anos que vive com a família na Califórnia, porém os momentos passados atualmente na sua casa são de extrema dor, as brigas com suas irmãs são diárias e além disso precisa ver de perto a mãe em seus momentos mais críticos na luta contra o câncer. Pensando em salvá-la, o pai descobre um lugar para que o tratamento dela seja melhor, mas que os filhos não poderão acompanhar, assim eles resolvem mandar os irmãos de Alex para a casa da avó materna e Alex, sozinho, para a casa da avó paterna, que tem algumas excentricidades das quais o adolescente não se agrada muito.
É chegando à casa da avó que Alex descobre que eles não ficarão no país, pelo contrário, a velhinha é da pá virada mesmo, e decide que irá fazer uma expedição com um adolescente criado em apartamento e levá-lo para o meio da Floresta Amazônica.
Mas se você está esperando uma viagem de autodescobrimento, de reflexões familiares ou sobre o luto, está redondamente enganado, o que acontece é uma imersão no meio de um dos lugares mais ricos e gloriosos da natureza mundial, que é pouquíssimo explorado na literatura, e onde Isabel Allende dá uma aula de como escrever sobre tudo em um livro que é muito mais do que fantasia.
Chegando na Amazônia, neto e avó irão encontrar outras pessoas que farão a mesma viagem. Entre governantes, coronéis, padres e até uma equipe de TV pronta para filmar a tribo indígena do lugar, eles dividirão a lancha que fará a travessia até o lugar mais ermo da mata, de onde precisarão seguir caminhando, desviando de perigos e precisando confiar um no outro para que continuem vivos.
Genial em um nível inimaginável, em um nível Allende, que só ela consegue entregar na literatura. Para vocês terem um exemplo da história um dos temas abordados nele é o massacre de uma tribo de índios por garimpeiros que ocorreu no local, imagine só ler isto em uma ficção.
Esse livro estava comigo desde o ano passado, quando ocorreu o relançamento pela Bertrand Brasil, e sim, me enrolei para lê-lo, mas eu precisava saber quando ela realmente tinha escrito esta história. Será que ela tinha feito uma investigação durante os últimos anos e descoberto coisas reais para colocar em seu novo livro?
Não, a resposta é acachapante. A Cidade das Feras foi lançado originalmente em 2002. Óbvio que o massacre dos índios acontece há tantas décadas, mas na literatura nacional não há nada comparado ao que Isabel Allende faz, uma escritora que apesar de ser sul-americana não é brasileira, que na prática não deveria dar atenção para nossos problemas.
É assustador como a literatura mexe com a realidade, como as coisas se encontram, e como a autora consegue colocar elementos históricos em meio às suas tramas ficcionais, sendo chocante, assustadora, romântica e pontual, em todas suas colocações.
A Cidade das Feras tem fantasia, mas funciona muito mais como um romance, envolvendo diversos estilos literários, se tornando, na realidade, uma das melhores aventuras da história na literatura.
Saí da leitura com um sentimento maravilhoso, de como é perfeito ler Isabel Allende, por mais dolorosa que suas palavras sejam, por mais que eu chore em todos livros dela. É perfeito ter contato com suas ideias e com seus roteiros, posso afirmar com toda certeza que Allende nunca errou.
A história tem um encerramento neste primeiro livro, porém é o começo de uma trilogia, que se seguem com O Reino do Dragão de Ouro e O Bosque dos Pigmeus, formando a série As Aventuras da Águia e do Jaguar… e que personagens são a águia e o jaguar, meus olhos brilham só de lembrar. Vocês precisam conhecê-los!