Greta James é uma musicista de sucesso. Mas sua vida mudou com a morte da mãe, ela teve um ataque de pânico no palco e por isso está afastada por um tempo do trabalho. Nesse tempo, tentando superar o que aconteceu, ela vai viajar com o pai e uns amigos dele, em um cruzeiro pelo Alaska. Essa viagem foi planejada pela mãe há meses, e seu irmão sugeriu que ela fosse acompanhar o pai.

Sua relação com o pai sempre foi delicada e agora sem a mãe a distância entre eles parece ainda maior. Com essa viagem, a esperança é de reaproximação, mas esse tempo afastada de outras responsabilidades, vai trazer a Greta muitas reflexões e vai apresentá-la a um possível futuro.

Eu já conhecia a escrita da Jennifer, pois li, em 2016, o livro A Probabilidade Estatística do Amor à Primeira Vista. A autora já tem muitos outros livros publicados no Brasil, acredito que todos voltados para um público mais jovem. Esse é seu primeiro livro com uma pegada mais adulta.

Eu gosto de muitos assuntos abordados pela autora nesse livro, principalmente a relação familiar. Tramas envolvendo famílias sempre me emocionam muito. Sem falar que adoro o contexto em que a história se passa, já que um dos meus sonhos de vida é fazer um cruzeiro. Aqui é ainda mais legal e diferente, pois ele traz como cenário o Alasca e suas peculiaridades como um lugar muito frio. Há muitas atividades para serem feitas e eu só conseguia pensar em como devia ser legal participar de tudo.

E foi esse um dos pontos do livro que não gostei, pois ele está relacionado com a relação da protagonista com o pai. Eu entendo que todos estão de luto, mas eles estão ali pela mãe também. Então, seria legal se Greta participasse das atividades que a mãe programou, mas ela não conseguia e também parecia não fazer muita questão. Levando em consideração que a relação dela com o pai tem várias questões e que, tanto ela quanto ele estão em luto, esse seria um momento ótimo de suporte que um poderia dar para o outro. Contudo, isso não acontece, assim a autora prefere deixar conversas e momentos importantes mais para o final. 

Greta cresceu com o sonho de ser musicista e não teve o apoio do pai, somente da mãe. Sua mãe era muito participativa, sua primeira e mais dedicada fã, além é claro de um colo para momentos difíceis. Era uma relação realmente muito bonita. Mas Greta cresceu com um sofrimento pela distância do pai. Ele só queria uma vida “normal” para filha e tinha dificuldade de aceitar o tipo de vida que ela levava. O irmão dela era o exemplo perfeito de vida almejada por ele,  e por isso Greta cresceu acreditando que ele era o preferido do pai. Esse é o ponto-chave do livro e a discussão principal da obra gira em torno da relação pai e filha.

A vida de artista não é nada fácil, shows, correria, noites mal dormidas e muitos outros compromissos. Mas com tudo isso Greta tem uma boa vida para uma cantora, ela é muito responsável e decidida sobre o que quer de sua vida. O modo como a escritora apresenta a protagonista é muito maduro e eu gostei muito disso. Mostra uma mulher que, mesmo com fragilidades, está consciente de sua vida. Ela vai refletir bastante sobre a vida agitada e eu gostei muito de ver esse contraponto de vida profissional de um artista com os problemas reais e familiares que todo mundo tem. Parece que deixa o artista mais real.

“A música sempre foi o seu refúgio. Era uma válvula de escape quando o mundo ficava sombrio, um abrigo confiável para qualquer tempestade.”

Greta acaba conhecendo Ben, um escritor e historiador, que está no navio para mediar um clube do livro. Ele também está passando por um momento complicado, então juntos eles vão conversar e refletir sobre suas vidas. É claro que as questões amorosas da vida de Greta também surgirão, pois ela está numa viagem e refletindo sobre sua vida, então isso é normal.

Também acredito ser totalmente possível encontrar alguém e se interessar pela pessoa durante uma viagem, mas eu gostaria que isso tivesse menos importância nesse momento para Greta. Eu sei que não existe uma fórmula quando falamos de relações, mas neste tópico vimos uma fragilidade da protagonista, pois ela estava ali para se “resolver” com o pai. Assim, nesse sentido, acredito que o romance do livro não contribui positivamente, pois há muito foco nele em uma parte considerável da viagem, deixando a relação pai/filha de lado. Mas é claro que há momentos bem bonitos e conversas sinceras que deixam o coração cheio de emoção.

Mas mesmo com meus pontos levantados, Jennifer não deixa nada passar. A Travessia de Greta James trabalha assuntos como amor, sonhos, fama, luto, medos e inseguranças com uma protagonista madura e com questões identificáveis e verossímeis. Livro para se emocionar!

Avaliação: 3 de 5.

  • The Unsinkable Greta James
  • Autor: Jennifer E. Smith
  • Tradução: Regiane Winarski
  • Ano: 2022
  • Editora: Arqueiro
  • Páginas: 272
  • Amazon

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