Britt-Marie tem mais de 60 anos e está à procura de um emprego. Seu casamento acabou e agora ela precisa reconstruir sua vida sozinha. Assim, Britt acaba indo morar e trabalhar em uma pequena cidade, Borg, que sofreu muito com a crise econômica e está como se fosse abandonado. Lá as pessoas são humildes e seguem tentando sobreviver em um mundo que tirou muito deles. Tanto Britt-Marie quanto Borg vão mudar com a chegada dela na cidade.
Depois de Gente Ansiosa, eu estava ansiosa (risos) para ler outra obra de Fredrik. Felizmente li mais um livro que me emocionou e mostrou o poder da escrita do autor. Fredrik virou, em 2022, um autor favorito, e eu preciso ler tudo que ele escreveu.
Confira a resenha de Gente Ansiosa
A primeira coisa que chama a atenção na leitura é a própria Britt-Marie. Ela é uma senhora ao mesmo tempo querida e irritante. No início do livro seu comportamento e suas falas podem afastar a empatia do leitor com ela, mas eu desde que comecei a leitura estava esperando uma evolução da personagem. Então acabei me divertindo com a maneira irritante dela de se preocupar com as coisas e de querer que tudo saia conforme ela espera.
Ela já viveu muito e está em um momento de balanço de sua vida depois do ocorrido com o ex-marido. É por isso também que ela vai evoluindo aos poucos, ela tinha uma vivência e uma visão de mundo e ao chegar em Borg encontra pessoas que são diferentes do mundo dela. Isso faz ela aprender a ver o mundo e a lidar com as pessoas.
O autor faz tudo de forma tão natural que quando vemos estamos envolvidos na história, torcendo pelos personagens e querendo que Britt continue ali. Aprendi a gostar de cada personagem mesmo nos momentos mais singelos. Isso é muito potente na escrita do autor, que apresenta todos os personagens de forma tão simples e ao mesmo tempo profunda que parece que estamos morando ali com eles. A crise econômica deixou o lugar sensível e as pessoas passando trabalho. Estabelecimentos fecharam, pessoas perderam o emprego, mas a vida continua, por isso ver esses personagens lutando contra a dificuldade é tão emocionante.
As relações são trabalhadas de modo orgânico e o autor sobre mesclar momentos de humor e de drama. Descobri que isso é o que mais gosto na escrita dele, a leveza ao trabalhar assuntos tão importantes e construir relações tão bonitas mesmo quando há uma personagem que, num primeiro momento, não se ajuda. Todos aqui estão recomeçando de alguma maneira.
“Chega uma certa idade em que quase todas as perguntas que uma pessoa faz a si mesma giram em torno de uma só coisa: como se deve viver a vida?“
Como Britt já é uma senhora com mais de 60 anos, vamos refletir sobre trajetória de vida e solidão. Além disso, estamos falando de uma personagem cheia de manias, regras e hábitos de limpeza. Esses costumes também vão ganhar um contraponto nessa nova vida. Ver a personagem questionando seus atos é até mesmo recompensador. Outro ponto interessante é o medo da morte, esse é o maior de medo de Britt, que por estar “velha”, teme morrer sozinha e ser encontrada muito tempo depois. A cada detalhezinho que conhecemos de Britt, mais vamos refletindo sobre questões que permeiam nossas vidas.
Aqui há muitas crianças, muitas delas fazem parte do time de futebol local. São crianças que falam alto, correm e se desorganizam, mas é claro que são boas crianças. É engraçado e bonito ver a amizade deles com Britt nascendo. Há outros personagens muito importantes também, me vi torcendo para que coisas positivas acontecessem e que outras tivessem outro destino. Mas o autor surpreende ao ser mais otimista que eu, mostrando o lado bom de cada um.
Britt-Marie Esteve Aqui é um livro que fala sobre sermos nós mesmos, sobre ter empatia, saber viver e ser feliz. É um livro lindo!
- Britt-Marie was here
- Autor: Fredrik Backman
- Tradução: Maira Prula
- Ano: 2019
- Editora: Fábrica23
- Páginas: 304
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