O Guia da Donzela para Anáguas e Pirataria é a continuação de uma das minhas leituras mais divertidas do ano até agora, o romance histórico LGBTQIA+ O Guia do Cavalheiro para o Vício e a Virtude. Sua história começa logo após os acontecimentos do primeiro livro, mudando apenas o enfoque: a protagonista passa a ser a personagem Felicity, segunda filha do Lorde Montague.
Nesta história, o amor de Felicity pela medicina faz com ela parta em uma viagem que tomará rumos inesperados e que fará com que ela questione o que verdadeiramente significa ser mulher.
Em muitos sentidos este livro segue a narrativa do primeiro da série. Primeiramente, pela inserção de diversas cenas cômicas, que fazem com que a história seja divertida de acompanhar. Em segundo lugar, por ter uma pitada de fantasia adicionada aos elementos históricos. Outro ponto em comum entre ambos é serem livros que se passam durante viagens, marcados pelas diversas cidades que o/a protagonista visita rumo a seu objetivo final.
Por último, por serem histórias de desenvolvimento de personagens, na qual o/a protagonista muda percepções importantes acerca do mundo e de si mesmo(a).
As semelhanças entre as narrativas se interrompem nesse ponto, já que as descobertas de Felicity são completamente diferentes das de Monty, protagonista do primeiro livro, principalmente devido às grandes diferenças entre suas personalidades e suas vidas, apesar de serem irmãos. Felicity teve sua vida marcada pelo fato de ser mulher. Seus pais não desejavam nada para ela além de um bom casamento, de forma que ela passou sua vida toda se sentindo invisível. Seu gosto pela ciência e seu desejo ardente por se tornar médica não encontram espaço na sociedade europeia do século XVIII, fortemente marcada pelo que hoje entendemos que é o machismo.
O início da jornada de Felicity está relacionado à tentativa de realizar seu desejo de poder estudar e trabalhar, apesar de todos ao seu redor a desqualificarem. Ocorre que a personagem, marcada pela sua própria forma de sofrimento, acaba não percebendo que existem experiências diversas de ser mulher, experiências essas também afetadas pelo machismo, porém de outras formas. Em sua viagem, ela entra em contato com algumas dessas outras formas de ser mulher, o que a faz questionar sua forma de se comportar e muda de maneira radical como ela lida com seus projetos de vida.
É por estas reflexões, assim como pela escrita cativante de Mackenzi Lee, que está leitura foi extremamente interessante e prazerosa, tanto quanto a do primeiro livro. Faço, no entanto, a pequena ressalva de que esperava um pouco mais de ação no início da história, influenciada pelo ritmo do primeiro livro desta série. As aventuras ocorrem apenas a partir da metade de O Guia da Donzela para Anáguas e Pirataria, o que pode fazer com que o ritmo da primeira parte seja um pouco mais lento. Ainda assim, recomendo fortemente este livro, principalmente para fãs de histórias envolvendo protagonismo feminino com personagens fortes e interessantes.
- The Lady's Guide to Petticoats and Piracy
- Autor: Mackenzi Lee
- Tradução: Mariana Kohnert
- Ano: 2021
- Editora: Galera Record
- Páginas: 378
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