O multiverso já foi explorado na literatura, em séries e em filmes. O legal desse tema é que ele pode ser abordado de muitas maneiras, já que não há provas de sua existência. O que eu mais gosto de ver em histórias que trazem essa realidade é a ideia das ramificações de nossas vidas. Gosto de pensar que em outra dimensão, eu escolhi outro caminho e depois dele mais outro e assim eu tenho várias versões de mim. O conceito do “e se…” sempre me pega, e foi por isso que eu gostei tanto de tudo em todo lugar ao mesmo tempo.
Evelyn Wang (Michelle Yeoh) é uma imigrante chinesa, ela tem uma lavanderia, que está falindo; um casamento prestes a fracassar; e uma filha difícil de se comunicar. Ela tenta lidar com tudo isso em sua vida quando seu marido (Ke Huy Quan) – de outra dimensão – aparece para ela pedindo sua ajuda. Todos os universos estão correndo perigo, e ela é a única que pode salvá-los. Assim Evelyn terá que acessar suas outras versões e buscar os conhecimentos necessários para a evitar a destruição total.
Tudo Em Todo Lugar ao Mesmo Tempo já é o filme mais premiado da história, superando o incrível senhor dos anéis. Com onze indicações ao Oscar, incluindo de Melhor Filme, o longa é um dos favoritos na maioria das categorias em que concorre. Contudo, o filme não agradou todo mundo, trazendo o absurdo em seu contexto de multiverso, há quem diga que o filme é uma louca salada de fruta e que não dá para entender nada. Felizmente, essa não é minha interpretação.
Eu não conhecia os trabalhos anteriores de Michelle Yeoh, mas terminei Tudo Em Todo Lugar ao Mesmo Tempo querendo conhecer. A atriz faz um belo papel no filme, e os prêmios que ela ganhou não me deixam mentir. É muito impressionante como ela consegue absorver cada momento, cada realidade e transformar isso numa atuação belissíma. Era como se eu tivesse sentindo ali com ela cada sentimento novo, cada nova descoberta. Conforme, ela vai descobrindo suas novas versões e acompanhando-as com ela mesma, um misto de incertezas toma conta de tudo. Aquela pergunta: E se? surge constantemente, e ela se vê refletindo mais do que nunca sobre as decisões que teve e o rumo que sua vida tomou. O filme faz tudo isso de uma forma tão louca, que no final, eu tava em prantos por causa dessa mulher.
É fazendo relação com as escolhas dela que preciso falar de seu marido, Waymond Wang (Ke Huy Quan). Esse ator que não teve grandes papéis, mas mostra aqui que ele é um grande ator. É impressionante como ele fica perfeito trabalhando com Michelle. Seu personagem é ingênuo e sensível, além disso, quando tudo começa, percebemos a preocupação dele com a esposa Sua outra versão, que está no comando da equipe que tenta salvar as dimensões é quase o oposto dele, mais seguro de si. A relação dos dois vai ser um dos pontos trabalhados na trama e juntos eles vão protagonizar as cenas mais lindas do filme.
Com direção de Dirigido por Daniel Kwan e Daniel Scheinert, o mais legal desse filme é que ele foge do convencional até mesmo para um tema tão revolucionário, as realidades aqui variam de simples mudanças na nossa vida, como não casar, e vai até uma realidade em que a protagonista é uma pedra (um momento de ótima reflexão do filme, inclusive). Fazendo relação com esse questionamento, temos uma protagonista que não está satisfeita com sua vida. Isso já é um motivo para refletir sobre suas escolhas.
Além disso, gostei muito de como a filha dela, Joy (Stephanie Hsu) é retratada no filme. Seu papel é de suma importância na linha “original” e no problema a ser resolvido pela mãe. Acho que foi através dessa personagem que os diretores mais trabalharam nas metáforas. Há claramente uma barreira entre as duas, então ver como elas lidam com isso é muito interessante. Não posso escrever também de Deirdre (Jamie Lee Curtis), a funcionária pública que lida com os documentos da família. Ela é uma vilã estranha e engraçada, mas chega um momento que até por ela senti empatia.
Pode parecer estranho, ou não, mas por mais absurdo que seja, as realidades nas quais as pessoas têm dedos de salsichas ou são pedras, emocionam tanto quanto as outras. Sei que muita gente não gostou do filme, por essa e outras maluquices, a própria rapidez das trocas de cenas e realidades pode deixar qualquer um confuso. Contudo, conforme vamos adentrando a trama, até o absurdo ganha empatia. E isso acontece lentamente, e quando vi eu estava completamente envolvida. Tem um momento muito engraçado também que faz intertextualidade com o filme Ratatouille. É tudo tão louco que ou você se entrega ou nada fará sentido. Eu escolhi me entregar!
Quando olho para o filme depois de ter assistido a ele há algum tempo, percebo que se assistisse novamente ia gostar ainda mais. Acho que esse filme tem muito a dizer e talvez eu tenha perdido algo no meio de toda loucura.
Tudo Em Todo Lugar ao Mesmo Tempo pode ser um filme que não agradou muitas pessoas, mas com certeza é um filme que sempre será lembrado. Podemos ver toda a trama de forma mais simplificada ou se aprofundar nas muitas reflexões presentes no longa. Mas uma coisa é certa, ele já virou um marco na história do cinema.
- Everything Everywhere All At Once
- Lançamento: 2023
- Com: Michelle Yeoh, Ke Huy Quan, Jamie Lee Curtis
- Gênero: Ficção Científica, Ação, Comédia
- Direção: Daniel Scheinert, Daniel Kwan