Quando criança, Auren foi resgatada das ruas pelo Rei Midas e salva de um destino extremamente cruel. Sem família para cuidar dela, a garota estava refém das circunstâncias, sobrevivendo como podia. Então, após ser acolhida pelo monarca, ele fez dela sua preciosa, tocando-a com seu poder, dourando seu corpo, mostrando sua preferência.
Que importância tem o fato de sua gaiola ser de ouro maciço, se você não pode sair dela?
Invejada e cobiçada, ela é mantida em uma gaiola dourada, atendendo unicamente ao Rei, a quem ama e jurou servir. Entretanto, esse homem de hábitos lascivos faz parte de uma corte poderosa e ascendeu ao trono pelo casamento, que parece ir de mal a pior. Midas mantém diversas mulheres em seu domínio, prontas para atenderem seus desejos carnais, mas jamais toca aquela que lhe deu a coroa. Parece, inclusive, evitá-la a todo custo.
A aparente tranquilidade do reinado é posta à prova quando a guerra bate à porta e a segurança conquistada pode terminar num piscar de olhos e levar Auren novamente aos horrores de antigamente, pois nem mesmo seu amado rei pode agora protegê-la.
Em primeiro lugar, quero dizer que eu não era o público alvo desse livro e, portanto, minhas opiniões são baseadas apenas na experiência que tive durante a leitura.
Dito isso, resolvi me aventurar em Gild pelo hype e descobrir o porque tanta gente tem falado dessa história em todas as redes sociais, principalmente no Tik Tok. O problema é que encontrei um enredo fraco que me incomodou muito com o tratamento dado às mulheres desse universo, onde a maioria é chamada de “montaria”, por servirem ao harém do Rei Midas, além de serem alvos constantes de violência, tanto física quando psicológica.
Aliás, essa narrativa parece girar incessantemente em torno do medo da protagonista em ser violentada, fazendo com que todos os personagens masculinos sejam agressores em potencial. Não existe uma quantidade grande de mudanças no cenário mas, por mais que elas aconteçam, parecia que eu estava lendo a mesma coisa sob uma ótica diferente.
Logo nas primeiras páginas, Auren demonstra alegria em estar na sua posição, enjaulada e isolada, mesmo temendo Midas em alguns momentos. A protagonista se sente verdadeiramente grata pela clausura, algo que me arrepiou desde o começo. É bem assustador ver como ela está perdida nesse romance deturpado, justificando qualquer atitude de Midas e encontrando o lado bom de toda situação, por mais absurda que seja.
Outra coisa é o fato de Auren não ter amizades, muito menos com qualquer outra mulher. Todas as outras garotas a tratam mal, com ignorância, desprezo, e uma boa dose de inveja. A solidão é uma grande constante em sua vida e tive muita pena da personagem durante a leitura.
Perdi as contas de quantas vezes li mulheres sendo espancadas, usadas, desprezadas e tratadas como lixo nesse livro e, portanto, diante desse cenário extremamente incômodo, não consegui me “divertir” com a leitura. Acho que, na minha visão, já basta a realidade atual sobre esse assunto.
A narrativa também traz uma cena bem gráfica de abuso, que me deixou mal pela brutalidade com que foi descrita. Ainda não sei dizer se ela era “necessária” para o desenvolvimento do enredo.
Sei que muita gente gostou dessa leitura e que pretende dar sequência na série. Eu, claro, parei nesse aqui. Portanto, não recomendo e alerto sobre os gatilhos.
- Gild
- Autor: Raven Kennedy
- Tradução: Débora Isidoro
- Ano: 2023
- Editora: Astral Cultural
- Páginas: 288
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