Jane Fairfield é totalmente focada e determinada em obter sucesso em sua missão. Apesar de estar na idade casadoura e obter um dote ostensivo ela permanecerá solteira afim de seguir protegendo sua irmã mais nova do tutor. Para isso, ela não mede esforços e está disposta a absolutamente tudo, até mesmo jogar o perigoso jogo da aristocracia, e se comportar como uma verdadeira mulher tolinha.

Ela pode nunca ter tido bons orientadores, não ter frequentado escolas de etiqueta, mas sabe exatamente o que quer e por isso não teme ser ridicularizada, humilhada e motivo de chacota para as pessoas que a cercam, desde que os pretendentes se mantenham a longas distâncias. Sim, ela fala alto, sorri quando não é adequado, interrompe discussões as quais uma dama jamais deveria se envolver e faz de tudo para incomodar, seja se utilizando de artifícios comportamentais, até a escolha mais pavorosa de cor, ou combinação de cores mais espalhafatosas já ousadas em serem usadas; assim como, os modelos mais extravagantes que seu dinheiro pode pagar, tudo a fim de se tornar um repelente humano, afastando todos que estão apenas interessados em seu dinheiro, mas que jamais tolerariam uma mulher como ela.

Oliver Marshall é o filho ilegítimo de um duque. E apesar de reconhecer seu meio-irmão Robert, com muito amor, ele renega o progenitor. O único homem que merece ocupar este cargo em sua vida, e ser chamado de pai é Hugo Marshall, um fazendeiro que se casou com sua mãe e o criou como filho, o ensinando e orientando para se tornar o homem que hoje ele é.

Oliver, sabe melhor do que ninguém o que se sentir um impostor, estar em um lugar e não pertencer a ele, já que sentiu isso ativamente na própria pele ao longo dos anos na escola e depois na faculdade, ali ele também aprendeu que para obter a posição que almeja juntos aos lordes, terá que enfrentar muitos desafios, aprender a ser discreto, a falar nas horas certas, ele sabe o que deseja; poder, provar para todos que um dia o humilharam ou silenciaram, que eles estavam errados, dar voz para o povo, para as classes mais baixas, os verdadeiros trabalhadores. Ele só não esperava se deparar com uma garota impossível, e que ir ao seu socorro – ainda que ela não o tenha solicitado, e talvez ele tenha que salvá-la dele mesmo -, seria um caminho sem volta, podendo tanto atrapalhar seus planos, quanto os dela.

“(…) A voz dele estava sufocada. — Porque não importa quantas vezes eu diga para mim mesmo que nunca faria algo assim, não posso confiar nos meus instintos. A isca que está pendurada à minha frente é tentadora demais. Estou lhe dando a chance de fugir antes que minha ambição supere meu bom senso.”

Caros leitores, O Desafio da Herdeira, é o segundo volume da série OS EXCÊNTRICOS, e irei aqui já deixar a recomendação para quem leiam os livros na sequência, isso tornará a sua experiência de leitura mais proveitosa. Aqui temos um romance de época, slow burn, e eu amei isso na história.

Jane é uma personagem forte, que não teme enfrentar os homens da aristocracia, assim como as mulheres que a julgam tola. Ela pega cada situação complicada em sua vida, e dentro de todas as limitações que enfrenta como uma mulher da época e as resolve por ela mesma. Protege quem ela ama com todas a suas forças e artimanhas, disposta até mesmo a abraçar si mesma, se ninguém, mas o fizer. Inteligente, com uma língua afiada, e muito sincera, é impossível não se sentir intimidado, tanto quanto fascinado com sua ferocidade. Sim, como você já deve ter suspeitado, ela rouba a cena, o livro acaba sendo sobre ela.

Oliver é um homem que sofreu no passado, carregando o peso de ser um filho bastardo, frequentando ambientes os quais os nobres julgam serem apenas para eles. Ele tentou lutar contra todo o preconceito, mas a vontade de receber a aprovação foi maior e com isso ele aprendeu a se moldar, e o pior é que mesmo adulto ele ainda acredita precisar da aprovação destas pessoas e com isso… acaba não medindo suas escolhas, sejam elas certas ou erradas. Oliver quer pertencer.

Jane e Oliver são como água e óleo, suas personalidades, assim como seus comportamentos e a forma como lidam com as situações, não poderiam ser mais diferentes, contrárias, opostas, mas ainda assim, eles se entendem e se reconhecem como ninguém jamais conseguiu. É a convivência, a aproximação – ainda que duvidosa -, que permite que ambos se conheçam, e se olhem de verdade, por baixo de toda a fachada, e isso tira um pouco do fardo que eles arduamente tem carregado, e essa afinidade que acabam desenvolvendo se dá porque eles compartilham algo em comum em meio a tantas diferenças; eles fingem e sustentam coisas em si mesmos por tanto tempo, que se esqueceram de quem são de verdade. Agora, ou eles despertam para o que está diante de seus olhos, ou sacrificarão o que possuem de mais valioso. É um romance que de fato merece ser acompanhado.

— Tenho algo para lhe dizer — murmurou ela, e ele se aproximou para ouvir o segredo.
— Não sou uma praga. Não sou uma peste. E me recuso a ser uma peça que será sacrificada pela glória maior do seu jogo.

Ela não o estava tocando. Então por que parecia estar? Oliver quase conseguia sentir a pressão ilusória da mão dela contra seu peito, o calor dos lábios dela contra seus lábios. Quase conseguia saborear o cheiro dela, aquele traço leve de lavanda. Era como se ela o tivesse tirado da órbita, e ela não conseguia recuperar o equilíbrio.
— Se a senhorita não é nenhuma dessas coisas — disse ele —, então o que é?
— Eu sou flamejante.

Fugindo um pouco do nosso casal protagonista, preciso fazer algumas menções. Vocês se lembram que eu falei no início que temos aqui um romance de época slow burn, ou seja, temos um romance de desenvolvimento mais lento, ou seja, não é instantâneo, com isso acrescento que temos construção de história, desenvolvimento de personagens, muitas camadas, acompanhamos mais que os protagonistas, e o enredo se abre, ampliando o alcance e dando voz a mais personagens.

Emily é a irmã da Jane, e uma peça fundamental na história, ela luta contra uma doença que não foi devidamente diagnosticada, e seu tutor é um homem complicado. Free é irmã do Oliver, uma jovem de dezesseis anos, cheia de sonhos e vontades quase “impossíveis”, sua determinação é encantadora e eu já estou louca para conhecer mais dela nos futuros lançamentos da série. Tivemos também a luta pelo direito do voto e voto feminino. Sebastian, já conhecido por nós do primeiro livro, e uma condessa que é espirituosa – amo eles. E claro, tia Fredy… que plot twist maravilhoso e emocionante.

Conheça mais sobre a série Os Excêntricos

Eu amei essa leitura, me envolvi com os personagens, com suas causas, vibrei, sofri, torci, fiquei com ranço, perdoei… foi uma delícia. Eu amo histórias encorpadas, que abracem mais que somente o romance, e tragam reflexões e discussões necessárias, como por exemplo; aceitação, ser quem você é, independentemente se for agradar ou não, se abraçar, conquistar seu próprio espaço, sem que para isso precise prejudicar ninguém. Foi lindo. E eu amo histórias slow burn, amo construção, desenvolvimento, então funcionou perfeitamente pra mim. Já ansiosa por mais livros desta série.

Avaliação: 4.5 de 5.

A Editora Arqueiro lançou o conto O Caso da Governanta gratuito. E eu recomendo imensamente que você o leia antes de dar continuidade na série OS Excêntricos. Caso você ainda não tenha lido nenhum dos dois livros, o leia antes de começar, te garanto que não irá se arrepender e terá informações valiosas sobre o passado dos nossos personagens.

  • The Heiress Effect
  • Autor: Courtney Milan
  • Tradução: Caroline Bigaiski
  • Ano: 2022
  • Editora: Arqueiro
  • Páginas: 368
  • Amazon

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