Três jovens, vários traumas, dois assaltantes e alguns reféns. A soma perfeita para o caos, desespero e uma pitada de autoconhecimento para aqueles que, com o passar dos anos aprendeu a sobreviver. Essa é a trajetória de Nora, uma garota de dezessete anos que achou que a maior complicação do dia seria ir ao banco com seu ex-namorado, e sua atual namorada, apenas uma passadinha para depositar o dinheiro que eles arrecadaram em uma festa beneficente. Tudo certo até que tudo o que poderia dar errado, simplesmente dá.
Tem, claro, um pequeno detalhe sobre a vida de Nora que os assaltantes deveriam saber, ela não é o tipo que perde. Levando uma vida de golpista desde pequena, ela sempre teve um plano muito fixo em mente: sobreviver. E agora com a vida das duas pessoas que ela considera família em risco, ela não quer perder nada, ela não pode. Com nada mais que uma tesoura, isqueiro e zero plano em andamento, ela se vê cara a cara com o perigo, e com seu passado.
“Detesto aquele ditado de “o que não mata fortalece”. É uma babaquice. Às vezes, o que não mata é pior. Às vezes, o que mata é preferível. Às vezes, o que não mata te estraga de um jeito que é difícil sobreviver com o que sobra. O que não me matou não me engordou; o que não me matou me tornou vítima.”
Com momentos de aflição, comédia e uma boa dose de surtos, Tess Sharpe nos entrega uma leitura para os fãs de thriller jovial com um peso bem colocado e temáticas que vão muito além do que a capa nos permite sequer pensar.
As Garotas Que Eu Fui é um retrato da sobrevivência, do abuso e de como uma vida moldada por alguém que deseja apenas lucrar, pode se tornar algo fugaz. Afinal, como saber quem você realmente é, se você tem mais identidades do que roupa no guarda-roupas? Existe um limite, um interruptor para cada pessoa que você já foi, ou todas podem ser uma parte inerente e crucial? O que fazer quando, após uma vida moldada por trapaças, precisa levar uma vida tranquila e sem atrair atenção?
“Eu disse a mim mesma que as garotas que eu tinha sido antes não importavam. Aprendi do pior jeito que eu estava errada.”
Pesado em doses suportáveis, As Garotas Que Eu Fui levanta temas importantes e atuais. Leitura indicada para jovens e qualquer leitor que não veja problemas em ler algo realmente bom, bem escrito e com reviravoltas interessantes.
Deixo, claro, o alerta levantado para aqueles com uma maior sensibilidade quando a leitura explora abuso e agressão, física, psicológica e/ou sexual. Todos aqui com mais do que o intento de trazer choque ao leitor, mas algo que realmente agrega na leitura. Além de trabalhar magistralmente com tópicos femininos e LGBTQIAP+.
Para quem busca um livro para maratonas, ou para quem gosta de apreciar um capítulo por noite antes de dormir. Não tem erro! Deixo mais que uma indicação, deixo uma proposta de aventura. Uma impossível de largar. E deixo também um recado: procure ajuda em casos de violência. Denuncie.
As Garotas Que Eu Fui em breve terá uma adaptação na Netflix estrelada por Millie Bobby Brown.
- The Girls I've Been
- Autor: Tess Sharpe
- Tradução: Laura Folgueira
- Ano: 2022
- Editora: Rocco
- Páginas: 352
- Amazon