Amêndoas – Won-pyung Sohn

08 jun, 2023 Por Alessandra Paccola

Yunjae nasceu com uma condição rara que afeta as amígdalas cerebrais, a incapacidade de entender e demonstrar sentimentos. Sua mãe as chamava de “amêndoas”, incentivando o garoto a consumir a iguaria de mesmo nome para ajudar no seu desenvolvimento e, quem sabe, ajustar sua mente à normalidade. Na escola, ele é visto como uma “aberração”, mas, ainda assim, é a sua indiferença a tudo o que mais incomoda as pessoas ao seu redor, pois nada nem ninguém parece afetá-lo.

Alegria, tristeza, amor, medo – todas essas coisas são ideias vagas para mim. As palavras “emoção” e “empatia” são apenas letras sem sentido impressas em papel.

Entretanto, após um atentado trágico em que a assiste sua família ser brutalmente atacada, sua mãe fica acamada e inconsciente em um hospital e agora ele está sozinho para tentar lidar com o mundo e precisará aprender como conviver, mesmo que não entenda a mecânica por trás de todas essas convenções sociais.

Uma amizade inesperada surge quando ele conhece um rapaz que é seu oposto, incapaz de conter todos os sentimentos que transbordam em seu peito, principalmente a raiva, que parece não deixar o amigo em paz, gerando muita encrenca e problemas na escola.

Won-pyung Sohn teve seu nome mais conhecido no Brasil após ter seu livro indicado por um dos integrantes do BTS, e que alegria poder ler essa história incrível, sensível e cheia de reflexões de uma autora sul-coreana que merece a atenção dos leitores.

As pessoas fingem não ver tragédias distantes dizendo que não há nada que possam fazer, mas também não intervém em uma acontecendo por perto, porque ficam assustadas demais.

Embora Yunjae seja um protagonista incapaz de expressar e entender os sentimentos, é extremamente carismático e tem uma evolução inteligente ao longo da trama, que tenta mostrar o olhar de alguém como ele para situações diversas que vivenciamos todos os dias na vida.

Foi uma das minhas leituras favoritas desse ano e me mostrou como a literatura asiática é cativante e com um ritmo diferente do que estamos acostumados, mas não menos fascinante de se acompanhar. A sensação é de caminhar com o protagonista para um enredo que mistura de forma única a sensibilidade e o lado cru da realidade, ainda que os capítulos sejam bem curtinhos e “direto ao ponto”.

Gostei de como a autora resolveu trabalhar a condição de Yunjae e das escolhas do personagem para lidar com o fundo branco que é sua mente após a perda de duas pessoas que eram seus guias na vida. Inclusive, no começo da narrativa, vemos a mãe dele fazendo um esforço monumental para tentar tirar um sorrido do filho, sem sucesso, mas, mesmo aborrecida com tudo isso, jamais deixou de orientá-lo e instruí-lo, a fim de que ele tivesse uma melhor qualidade de vida e “sobrevivesse” sem que ela precisasse estar por perto.

Uma leitura altamente recomendada, que precisa estar na lista de desejados de todos. Se ainda não leu, ou não conhecia esse livro, faça um favor a si mesmo e corra atrás dessa história!