Olof Hagström tinha apenas catorze anos quando confessou o assassinato da jovem Lina Stavred, a jovem havia desaparecido durante o verão, e sem um corpo ou arma encontrados, a investigação ficou à mercê de testemunhas que confirmaram que Olof foi o último a ver Lina com vida. A pequena cidade ficou em polvorosa com a possibilidade do crime e sua brutalidade, uma ferida que nem o tempo foi capaz de cicatrizar.
Vinte e três anos se passaram, Olof impulsivamente retorna para a cidade, mais precisamente para a casa de seu pai, com quem nunca mais teve contato desde sua condenação, e a cena que se desdobra a sua frente é assustadora, o corpo do seu pai morto está nu, sob o chuveiro ligado. Não há nenhum indicio de um suspeito, nenhuma pista, a não ser… sim o próprio filho, afinal de contas ele é um assassino, não é mesmo?
“Todos têm segredos, pensou Eira, ainda mais aqueles que repetem continuamente que não os têm.”
Eira Sjödin é assistente de polícia, e está designada para investigar o mais recente caso de assassinato na cidade de Adalen, sua cidade natal, local para o qual ela retornou há pouco tempo por questões familiares.
Olof é um nome já conhecido por ela, o rapaz que confessou ter matado Lina, e agora o principal suspeito na morte do próprio pai. Eira ainda se lembra de como a cidade ficou quando Lina desapareceu, e vai precisar se despir de suas próprias certezas para ajudar no caso, e quanto mais ela mergulha nessa investigação, mais complicada ela se torna, um caso vai acabar levando ao outro, e o que antes parecia não ter ligação, de repente se tornam uma mesma peça de um quebra-cabeça que parece não ter fim.
Eu amo thrillers nórdicos, principalmente os que como este focam principalmente na construção minuciosa do enredo, dedicando tempo para apresentar ao leitor um leque de possibilidades, uma investigação que vai seguir por vários caminhos distintos, mas que ao longo do desenrolar se cruzam até que possamos chegar a um desfecho. O foco não é trazer uma grande reviravolta, um impacto profundo com alguma revelação, na verdade vamos obtendo as informações junto com a protagonista é quase como se estivéssemos investigando junto com ela. E A Raiz do Mal brilha em sua estrutura muito bem pensada, uma teia gigantesca de segredos, mentiras e mistérios inquietantes.
“(…) Passados tantos anos, ela ainda achava que podia sentir o que ele sentia, como se não houvesse limites entre duas pessoas, nem pele, nem segredos. Como se fosse obrigação dela carregar a maldade ou o amor dele, ou a incapacidade para tal, ou o que quer que fosse.”
O ponto alto desta leitura, além do que já mencionei sobre a construção do enredo minuciosa, é a forma como a autora desenvolve seus personagens. Tudo sobre eles é ambíguo, e essa incerteza que suas personalidades entregam nos faz desconfiar de tudo e todos o tempo todo. O que também faz com que os enxerguemos com mais clareza e até humanidade, já que na vida sabemos que não existe pessoas perfeitas, ter defeitos, e qualidades faz parte da nossa natureza.
Errar, faz parte do processo evolutivo humano, só que aqui, como também na vida, os erros podem acabar com a vida de alguém, de uma forma que talvez seja impossível ser reparada. E fica os questionamentos, quanto vale a liberdade? Qual o tamanho do egoísmo humano? O que é certo ou errado?
Deixo aqui essa indicação de leitura, para quem ama o gênero e não tem problema com enredos mais densos, com gordura, que vão se alongar um pouquinho mais, mas que vale cada página lida. Eu só não dei cinco estrelas para a leitura pela inquietação que o desfecho desta história me deixou, talvez eu quisesse um final mais utópico e menos verossímil – risos.
E vou deixar ainda uma curiosidade aqui, o livro é inspirado em uma história real, que não irei abordar para não dar spoilers, mas está no posfácio, então leiam!
- Rotvälta
- Autor: Tove Alsterdal
- Tradução: Fernanda Sarmatz Akesson
- Ano: 2022
- Editora: Trama
- Páginas: 384
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