Lágrimas de Aço – S. A. Cosby

28 ago, 2023 Por Carol Marçal

O que seria capaz de unir duas pessoas distintas, embora com passados similares? O que é capaz de unir dois pais em agonia? Vingança. Essa é a história de Ike Randolph e Buddy Lee, dois homens marcados por seus passados e suas escolhas de vida como pais. Dois lados de uma moeda onde a cor não influencia em seus atos de preconceito contra seus próprios filhos.

Ike, um homem que cometeu um crime e o pagou, hoje um homem de família que tenta, com custo, não ser parado a cada batida policial, sequer infringir uma multa de trânsito, afinal, infelizmente a cor de sua pele já o torna um alvo. Em contrapartida, Buddy Lee não se preocupa com muito além de manter sua bebida ao lado. Um homem que se reergueu, e um que após seu casamento fadado ao fracasso, nada fez para se estabilizar. Mas um elo os aproxima, vingar a morte de seus filhos, um casal morto de modo brutal e, até o momento, sem culpados para condenar.

“O povo ama falar de vingança como se fosse justiça, mas na verdade é só ódio com uma roupa melhorzinha.”

Em uma missão que parece ter sido ignorada pela polícia, os pais que outrora não apoiaram e acolheram seus filhos, buscam a redenção após a perda inestimável. Muitas vezes é preciso perder algo para ver o quanto era especial, assim, ambos aceitam então essa chance de, talvez, consertar os erros que cometeram enquanto seus filhos estavam vivos, indo atrás de pistas que os ajudem a solucionar — e vingar — suas perdas.

Apesar da temática muito me agradar como leitora, visto que thriller policial (romance policial) é um dos meus nichos preferidos, Lágrimas de Aço, do autor S.A. Cosby não me cativou de cara, e ainda levou boas páginas para que eu realmente me interessasse pelo assassinato brutal desse casal que sequer vemos de verdade na narrativa. A justificativa de vingança dos pais também não me convenceu, ainda mais que passaram a vida desprezando os filhos pela simples (não) escolha sexual de ambos. O livro aborda sim: preconceitos raciais, LGBTQIAP+, desigualdade social e a forma onde poder e status, por vezes, valem mais que vidas.

“Ocorreu a Buddy Lee que, com dedicação suficiente, qualquer coisa poderia virar uma arma. Até o amor. Principalmente o amor.”

Com início, meio e fim bem amarrados, o livro foi brutal e consciente, uma forma crua de ver a verdade na forma de ficção. Porém apenas me perdeu na lentidão de me apresentar a ação que realmente importa, mas com um final condizente, e não tão inesperado para aqueles que consomem esse tipo de leitura, mas ainda bom.

O autor soube trabalhar as diferenças entre seus personagens principais, assim como preconceitos no geral, e o modo como isso impacta na vida. Dando também ênfase na ideia de que não se deve deixar para sentir falta após perder, e sim valorizar e saber respeitar as diferenças de cada um.

O livro contém: violência, preconceito e causas LGBTQIAP+ — como trans e homo afetividade.