Órbita de Inverno – Everina Maxwell

03 ago, 2023 Por Carol Marçal

Um universo grandioso, intrigas políticas e um vasto leque de representatividade. Bem-vindo à Iskat, lar do príncipe Kiem, neto da Imperadora. Desregrado, visto como inconsequente e por muitos àquele que serve apenas como mau exemplo, e, infelizmente, para azar de sua avó, talvez o único com poder de solidificar uma aliança abalada ao aceitar os desígnios da imperadora e casar com um homem que mal conhece.

Conheça também conde Jainan, o outro lado do elo, representante de Thea. Um verdadeiro nobre ao se entregar a um casamento arranjado, tudo para que sua terra tenha maiores chances e impedir que seu povo se rebele em busca de uma “liberdade” infundada que não trará benefícios ao povo. 

Um casamento planejado, com todas as chances possíveis de dar certo… Exceto, claro, que conde Jainan já fora casado com um representante de Iskat, primo de seu atual noivo, com um outro pequeno porém, seu marido morreu sob circunstâncias um pouco estranhas num acidente, fazendo algo no qual era exímio. E para fechar com chave de ouro, os primos representantes de Iskat são como dois lados de uma moeda: um visto como o melhor dos dois, e o outro na sombra da comparação.

Nesse épico espacial, delicie-se com as muitas camadas da sociedade, do governo quase autocrático de Iskat, das mentiras por trás dos panos e dos tabloides apontando cada falha pública daqueles que nem erram tanto assim, escondendo, claro, os reais problemas.

“Gênero era algo simples em Iskat: qualquer pessoa usando ornamentos de sílex era mulher, ornamentos de madeira eram para homens, e vidro —  ou nada —  era para as pessoas não binárias.”

Órbita de Inverno é um livro com camadas, mas absurdamente leve e fluido na leitura. Desde seu sistema político e a correlação de Iskat e seus demais planetas secundários até a explicação de gêneros na história. Com tradução de Vitor Martins, o livro não perde seu denominador comum e sua narrativa neutra, deixando aqui um agradecimento ao cuidado com a tradução. 

O livro de Everina Maxwell é envolvente, intrigante e com aquele clichê que, quando bem escrito, cativa o leitor e o faz torcer ensandecido por um final feliz para o casamento arranjado. Uma boa pedida para aquelas maratonas literárias ou para quem gosta de arredondar os números de leitura no final do ano, ou também para aqueles que apenas se interessam por um bom clichê com épico espacial, viagens em naves e descrições paradisíacas de locais inimagináveis até o momento. 

Deixo aqui minha mais querida recomendação para esse slow burn de qualidade, e um romance de estreia! Com personagens cativantes, e não apenas os dois vistos como principais, como muitos outros ao longo da narrativa. Desde mulheres no poder, como aquelas realmente fortes independente do cargo que ocupam na hierarquia. 

“A dor até que tinha utilidade, pensou. Colocava as coisas em perspectiva. Havia certa pureza na maneira como ela atravessava as tangentes emocionais, fazendo você lembrar que poderia ser pior.”

Atente-se que no livro você poderá deparar com certos gatilhos como: abuso físico e psicológico, traumas do passado que deixam cicatrizes e marcam não só uma pessoa, mas suas ações e o modo como se envolve com terceiros. Apesar de ficcional, os temas abordados são de grande valia e peso emocional.

Avaliação: 4 de 5.

  • Winter's Orbit
  • Autor: Everina Maxwell
  • Tradução: Vitor Martins
  • Ano: 2022
  • Editora: Suma
  • Páginas: 360
  • Amazon

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