Hirosuke Hitomi é um escritor sem muito sucesso. Ao saber da morte de um antigo colega, Genzaburo Komoda, ele vê a possibilidade de ter seu maior sonho realizado: a construção de um parque paradisíaco. Por ser muito parecido com Komoda, Hirosuke decide forjar sua morte e elabora uma volta dos mortos como Komoda. Ao conseguir convencer a todos, ele começa os planos de gastar toda a fortuna pertencente ao ex-colega para construir uma ilha paradisíaca, com muito erotismo.

Eu gosto muito de me aventurar pelo desconhecido. Quando o assunto é leitura, descobri que ler mangás é sempre uma experiência nova. E foi nessa junção de desconhecido/mangá que eu decidi ler O Estranho Conto da Ilha Panorama, de Suehiro Maruo.

Assim, além de conhecer Maruo, tive conhecimento de outro autor. Edogawa Ranpo é considerado o escritor que mais influenciou e revolucionou o cenário da literatura popular e de mistério no Japão, é tido como um dos principais autores japoneses de suspense e do gênero policial. Suehiro Maruo, considerado o maior artista de seu tempo quando se trata da arte do cruel e da atrocidade (o estilo de arte Muzan-ê, como dizem no Japão), adapta neste mangá o livro de Ranpo, O Estranho Conto da Ilha Panorama.

Como eu não sabia de nada sobre a trama, fiquei surpresa ao folhear as páginas e encontrar nudez. Logo após a leitura, tive o conhecimento de que Suehiro Maruo é um dos mangakás que trabalham com o estilo artístico Eroguro, uma mistura de erótico e grotesco. Eu nunca tinha lido nada gráfico com uma temática erótica, então foi uma experiência bem diferente. 

Como temos aqui um homem e seu sonho de parque erótico, é meio óbvio que encontraremos muitas mulheres nuas. Isso pode ser incômodo para muitas pessoas, mas eu não me incomodei pois estava compreendendo os desejos e motivações do protagonista. Aqui o fetiche pelo corpo feminino ganha às páginas do mangá e, em poucos casos, os homens estão na mesma situação que as mulheres. Muito pelo contrário, eles são as pessoas que visitam a ilha para se divertir no paraíso. Outro ponto que pode chocar é a parte visual das cenas de sexo, pois o mangaká não poupa detalhes ao desenhar os atos sexuais. 

Mas isso não faz parte de toda a obra. Temos antes toda uma contextualização dos acontecimentos e muitos personagens aparecem. Eu me vi muito curiosa com tudo que estava acontecendo nas primeiras páginas, porque temos uma pessoa diferente tomando o lugar de outra que morreu. Com isso, quando Hirosuke Hitomi começa a falar e fazer coisas diferentes do que o Genzaburo Komoda fazia, eu não conseguia acreditar que ninguém estava desconfiado. É muito interessante ver como ele se comporta dentro desse cenário, pois percebemos nele um misto de medo e encantamento que chega a extrapolar as páginas do mangá.

Voltando à arte, preciso ressaltar o talento do mangaká. Os detalhes são muito bonitos e a anatomia dos corpos também ganha detalhes. Quando estamos na ilha Panorama, também ficamos maravilhados com o cenário, é tudo muito bem detalhado e cheio de referências. É uma leitura visual muito bonita, que encanta e choca. A leitura é rápida, pois os balões de fala não apresentam nada muito complexo.

A Pipoca & Nanquim fez um ótimo trabalho ao colocar as referências de cenários e esculturas que aparecem na ilha. O desfecho chega rápido e eu fiquei surpresa com o final, pois não achei que seria daquela maneira. Para quem não se importa com a nudez, O Estranho Conto da Ilha Panorama é uma ótima leitura.

Avaliação: 3 de 5.

  • パノラマ島綺譚
  • Autor: Suehiro Maruo
  • Tradução: Drik Sada
  • Ano: 2023
  • Editora: Pipoca e Nanquim
  • Páginas: 292
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