Acho que a maioria das pessoas da minha idade, que viveram ali pelos anos 80 e 90, tiveram algum contato com essas quatro figuras. Raphael, Donatello, Michelangelo e Leonardo, as tartarugas lutadoras, capitaneadas pelo genial Mestre Splinter, saindo dos bueiros para combater o crime.
Nessas quase quatro décadas de história, os personagens ninjas criados por Peter Laird e Kevin Eastman tiveram sua primeira aparição em 1984 e depois disso já apareceram nos cinemas, séries, videogames e em diversos produtos. No Brasil, as Tartarugas Ninja retornam em quadrinhos pela editora Pipoca & Nanquim.
Em O Último Ronin teremos uma verdadeira despedida das tão maravilhosas Tartarugas, apenas uma delas permanece viva e é através dela que descobriremos tudo que aconteceu com as outras, como chegamos neste momento quase apocalíptico e, somente ela, poderá dar um final menos trágico para todo este enredo (A Pipoca & Nanquim também lançou as histórias que precedem essa).
Não vou falar qual a tartaruga que será responsável por tudo isso, porque, pra mim, este era um dos grandes pontos altos da história, saber quem ainda estava vivo e quem poderia salvar o mundo vingando a morte dos seus outros irmãos.
Acho que muito da história gira em torno desta questão, todo o cenário fúnebre que permeia a trama é muito especial, envolve nossas lembranças infantis, que remetem a bons momentos junto com os personagens nas suas mais diversas mídias, tornando a obra uma grande despedida, com um peso emocional muito forte, ligado exclusivamente à tragédia. O Último Ronin é daqueles livros que desde o começo sabemos que por mais que haja um final positivo, a história em si não trará nada para comemorarmos, ninguém sairá dela vencedor.
Falando um pouquinho da qualidade da arte, quero dizer que tudo nela é fabulosa, com quadrinhos bem preenchidos, cores que chamam nossa atenção e um desenho muito nítido, que apesar de retratar tartarugas humanas e robôs, consegue deixar tudo muito vívido, sem nada abstrato ou com aqueles borrões que muitas vezes estragam esse tipo de publicação para mim.
Até nas cenas de ação, que são inúmeras, vemos a qualidade das mãos dos responsáveis, que trabalham muito bem em conjunto, até na divisão dos quadrinhos nas suas páginas, algo que é bem difícil de encontrarmos com tamanho esmero.
Junto com a tartaruga sobrevivente vamos relembrando tudo que aconteceu com seus irmãos, os vendo partir aos poucos, desenvolvendo em detalhes como ocorreu cada despedida, e aqui temos mais um ponto positivo para quem gosta dos mistérios que a literatura nos oferece, a dúvida sobre quem será o primeiro ninja a nos abandonar. Essa questão vai tomando nossa mente e nosso coração, inflando ele de um sentimento angustiante que em poucos quadrinhos eu senti, algo arrebatador.
Outro sentimento que tive lendo O Último Ronin, e confesso que foi bem difícil de me libertar dele, foi o de incredulidade, estes personagens são entidades para mim, durante um bom tempo fiquei duvidando que eles tivessem morrido. Isso me causou até um certo receio com a história, pensando que ela não apresentaria credibilidade suficiente para que eu aceitasse o fato de que eles teriam morrido mesmo, mas o enredo é tão bom e profundo, que logo na segunda morte eu já estava sentindo como se aquilo fosse realmente uma despedida.
A partir desta compreensão, a obra ficou ainda mais penetrante, o medo crescia e as páginas passavam cada vez mais rápido, fazendo eu devorar a HQ.
Em meio a todas despedidas, temos alguns personagens que surgem, e uma delas foi especial e ajudou muito no desenvolvimento da história, deixando tudo mais crível, mais emocionante, construindo um cenário perfeito para o adeus.
O Último Ronin é perfeito, em todos aspectos, é daquelas histórias que a gente encerra e fica se deliciando com o que foi contado, mas desta vez com um sentimento de pesar enorme. Juro que fiquei imaginando durante toda história que em algum momento tudo mudaria, uma guinada drástica traria de volta as tartarugas e eles acabariam bem e felizes, como acontece na maioria das vezes.
Mas para ser especial não se pode repetir coisas que acontecem normalmente, precisa ser diferente, e o final do legado de Tartarugas Ninja consegue ser exatamente isso, marcando de uma forma única uma franquia de muito sucesso. Comecei a leitura sem acreditar que me despediria de verdade deles, sem comprar em nada a ideia de despedida, agora, ao terminar ela, não sei se conseguirei pegar algo relacionado aos personagens novamente, para mim o encerramento foi feito, o ponto final foi dado com perfeição e a história de Michelangelo, Donatello, Rafael e Leonardo está acabada.
- Teenage Mutant Ninja Turtles: The Last Ronin
- Autor: Kevin Eastman, Peter Laird
- Tradução: Jeremias Giacomo
- Ano: 2023
- Editora: Pipoca e Nanquim
- Páginas: 228
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