Os Bórgia foram uma nobre família italiana que ganhou notoriedade durante o Renascentismo. Durante os séculos XV e XVI, estiveram diretamente envolvidos na política e na religião e por causa disso, produziram três papas, que foram: Alfonso de Borja, conhecido como Calixto III (1455-1458), Rodrigo Lanzol Borgia, conhecido como Alexandre VI (1492-1503) e mais de um século depois Giovani Pamphilj, conhecido como Inocêncio X (1644-1655). Este último sendo um descendente de Rodrigo Bórgia.
É deste personagem que vamos falar na graphic novel Bórgia, lançada em 2023 pela Pipoca e Nanquim em uma edição linda, que é uma ficção histórica, roteirizada por Alejandro Jodorowsky e com arte de Mino Manara.
Na história, enquanto esteve no poder, os Bórgia foram acusados de diversos crimes, como: nepotismo, adultério, simonia (venda de favores divinos), roubo, estupro, incesto e assassinato. Eles são lembrados por seu governo corrupto e o nome Bórgia se tornou então sinônimo de traição, uma família cruel e bastante gananciosa.
Porém, além dos Bórgia, nesta época também existiam outras famílias de poder, que por vezes foram aliados dos Bórgia ou também inimigos. Isso a gente vai descobrir com a chegada de Rodrigo Bórgia ao papado, que levou a família a participar de uma série de intrigas e disputas entre pequenos estados que na época era uma Itália dividida.
A ideia de Rodrigo era criar um império com a liderança da Igreja Católica e não dá pra dizer que ele não era determinado. A ascensão da sua família se deu graças a sua inteligência e poder de manipulação em sair de situações que pareciam perdidas, mesmo com pouquíssimos recursos para isso. Naquela época, o papado era um posto essencialmente político. Os papas eram escolhidos de acordo com os interesses das famílias mais poderosas de cada região, o que não era o caso dos Bórgia, que tinham pouca influência dentro da igreja, mas como a gente sabe, Rodrigo deu um jeito.
Rodrigo chegou até a igreja graças a influência de seu tio, que exigia que ele cumprisse o voto de celibato, o que obviamente ele nunca cumpriu. Ele possuía várias amantes resultando em vários filhos ilegítimos, sendo alguns desses protagonistas desta HQ.
O cara era maluco, ele não queria nem saber e como ele estava no poder, ele promovia várias festas, tinha um comportamento promíscuo, inclusive promovia orgias aos 70 anos de idade e dizem que acompanhado pela sua própria filha, Lucrécia.
Vários pontos contraditórios sobre os Bórgia serão abordados nesta HQ, muitos contestados por historiadores, como grande parte do que cerca a família Bórgia. Acredita-se que muitos boatos e mentiras foram espalhadas ao longo dos anos por famílias rivais. E uma dessas possíveis mentiras seria a de que Lucrécia e César, segundo filho de Rodrigo, tiveram um romance.
Tudo isso será belamente retratado ao longo das páginas de Bórgia, que me causou muita curiosidade assim que chegou aqui em casa, primeiro por ser, como eu disse, uma graphic novel com muito contexto histórico, por mais que os autores aqui tomem diversas licenças poéticas exageradas, mas também por essa capa, que por si só já chama bastante atenção.
Alejandro Jodorowsky, entre os anos 2006 e 2010, resolveu adaptar então essa história através de uma série de quadrinhos e Milo Manara ficou encarregado da arte, este considerado um dos quadrinistas mais renomados dentro dos quadrinhos eróticos do mundo, portanto, vai ter bastante nudez neste quadrinho.
Essa não é uma graphic novel que vai agradar todo mundo, porque sim, vai ter muito objetificação do corpo feminino aqui, mas eu compreendo que é uma arte, portanto, consegui apreciar a leitura, sem me importar tanto com essa pauta, por mais que isso me cause um certo incômodo, afinal de contas, uma coisa não anula a outra.
A gente vai acompanhar esse relato desde a ascensão até a queda da família Bórgia, é uma história pesada, cheia de violência, num cenário com uma sociedade decadente, assolada pela peste, num dos períodos mais sombrios da Igreja Católica. Então sim, vale a pena a leitura.
Uma curiosidade aqui da história e que será explorada também na HQ, é que César, filho de Rodrigo, inspirou Nicolau Maquiavel a escrever “O Príncipe”, devido suas atitudes tiranas. Nicolau, que era um filósofo acreditava que egoísmo e oportunismo eram qualidades vitais para qualquer líder. Uma descrição perfeita para César aqui.
Ao final desta edição temos o posfácio escrito em 2011 pelo próprio Alejandro Jodorowsky onde ele compartilha com o leitor o processo criativo do quadrinho, a fascinação dele pela família Bórgia e como ele os considera a primeira máfia da Itália. Vale muito a pena essa leitura, principalmente pela analogia que Alejandro faz com os acontecimentos da época com os dias de hoje.
Bórgia é uma graphic novel interessante, que apresenta uma família infame em meio a intrigas políticas e disputas familiares, liderados por um patriarca que fez tudo por poder. História ou boatos, as brumas que envolvem essa família são um grande mistério até hoje.
- Borgia
- Autor: Alexandre Jodorowsky,Mino Manara
- Tradução: Fernando Paz
- Ano: 2023
- Editora: Pipoca e Nanquim
- Páginas: 228
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