Onze Portas Para a Escuridão – C. J. Tudor

15 out, 2023 Por Clara Vieira

A história de como Onze Portas Para a Escuridão, coletânea de contos escritos pela inglesa C. J. Tudor, surgiu é no mínimo interessante. Tudor estava trabalhando em um novo romance em meio a pandemia, no ano de 2020, e lidando não somente com o isolamento e as escolas fechadas – já que a autora tem uma filha – mas também com o esforço de realocar seu pai em uma casa de repouso mais próxima a ela, e com a venda da casa da família e compra de um novo apartamento para sua mãe.

Foi assim que a autora acabou odiando tudo que tinha escrito: seu novo livro lembrava-a de todos aqueles momentos. Ele acabou sendo descartado e, em seu lugar, surgiu essa coletânea de contos, lançado no hiato entre as publicações dos romances escritos por Tudor. 

Tudo isso foi relatado pela autora na introdução desta obra publicada no Brasil pela Intrínseca. Vale dizer que a edição está belíssima, com uma ilustração temática por capítulo. Os leitores são convidados a mergulhar em onze histórias de terror, diversas delas marcadas por um cenário pós apocalíptico que em muito se relaciona com o contexto no qual elas foram escritas.

Podemos ver essa correlação também a partir dos breves comentários presentes antes de cada conto, nos quais C. J. Tudor relata quais foram suas inspirações para que aquelas narrativas surgissem. Esse foi um dos meus aspectos preferidos do livro: perceber como uma história incrível pode surgir a partir de um acontecimento aparentemente trivial. A transformação do simples em fantástico efetuada pela autora foi algo que me cativou profundamente. 

Sobre os contos em si, acredito que preciso fazer uma ressalva antes de tudo. Sempre acho difícil avaliar coletâneas de contos, porque acabo sendo afetada de formas muito diversas por cada uma das narrativas. Não se trata de falta de uniformidade na escolha das histórias selecionadas, no entanto, mas nas minúcias que fazem com que eu goste muito mais de umas do que de outras. No caso de Onze Portas Para a Escuridão, a tessitura entre os contos é extremamente evidente. Todos são envolventes, tem em sua atmosfera tensa e sombria, e a maioria tem um pano de fundo apocalíptico. Além disso, os comentários da autora que introduzem os contos, mencionados anteriormente, ajudam a construir as conexões entre eles, gerando um livro extremamente coeso. 

Meus contos preferidos foram “Eu não sou o Ted” e “A Loja de Cópias”, sucintos e impactantes. “Fim da Linha no Mar” foi sinistro na medida certa, ao se apropriar de elementos tradicionalmente associados a diversão e felicidade, e torná-los assustadores. Gostei também de “Blues da Fuga”, que me envolveu e surpreendeu.

Alguns outros contos foram interessantes, mas me pareceram próximos demais dos clichês de terror. Foi o caso de “O Prédio”, “Negócio Fechado” e “Poeira”. E “Ilha das borboletas” me pareceu interessante, porém incompleto, gostaria que a autora tivesse desenvolvido melhor alguns aspectos dele. “Gloria” envolve uma personagem de O Que Aconteceu com Annie, livro anterior da mesma autora, e, apesar de não ter nenhum spoiler, acredito que teria sido mais fácil de me conectar a esse conto se já tivesse lido essa outra obra.

“O Último Encontro” e “O Leão” foram os contos de que menos gostei. Sou fã de histórias de terror em seu aspecto potente de trabalhar o medo ao evidenciar o que nos assusta, porquê e como, e por isso fico atenta às metáforas e críticas escondidas nas tramas com o disfarce de monstros, fantasmas e alienígenas. Isso não significa que toda história de terror precisa ter um aspecto profundo por trás dela, mas, quando tem, não somente presto atenção nele, mas o valorizo. Foi justamente nesse sentido que não gostei desses dois últimos contos mencionados: tenho críticas a aquilo que está em suas entrelinhas, mas que não posso explicitar mais profundamente sem dar spoilers.

Conheça outros livros de C. J. Tudor

Acredito que aqueles que já leram outros livros de C. J. Tudor e os apreciaram tem grande probabilidade de gostar desta coletânea da mesma forma. Os fãs de Stephen King também tem grandes chances de se satisfazer com a leitura, já que o autor é uma referência explícita para Tudor em um dos contos. Por fim, se você for fã de livros de terror, e deseja uma leitura rápida e envolvente, pode ser interessante dar uma chance para Onze Portas Para a Escuridão.

Avaliação: 3 de 5.

  • A Sliver of Darkness
  • Autor: C. J. Tudor
  • Tradução: Carolina Candido, Fernanda Cosenza, Mariana Moura, Thiago Peniche
  • Ano: 2023
  • Editora: Intrínseca
  • Páginas: 288
  • Amazon

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