Três mulheres, Siobhan, Miranda e Jane, três encontros, um no café da manhã, um no horário do almoço, e outro durante um jantar, todos no Dia dos Namorados e nenhum deles bem-sucedido. O segundo elemento do encontro, não comparece. Seria apenas coincidência, ou um acaso do destino? Antes de responder a esta pergunta, que tal conhecermos um pouquinho mais sobre cada uma destas mulheres e seu companheiro ausente, de um dia tão especial.

Siobhan nasceu em Dublin, uma mulher linda, inteligente e muito bem-sucedida, ela é life coach, com uma agenda lotada, sem tempo para férias, distrações ou sequer um relacionamento sério. Ela está sempre em Londres a trabalho, e é em uma destas ida a cidade que ela conhece o charmoso e atraente Joseph, um homem interessante, gentil, compreensivo, que parece querer o mesmo que ela, descomplicação – e é assim que eles acabam envolvidos em um caso sem compromisso, onde ambos seguem felizes.

Miranda é uma mulher espetacular, linda, talentosa, com duas irmãs gêmeas que são pura travessura, ela é arborista, escalar árvores é o que a faz feliz, sim, ela é completamente apaixonada por seu trabalho e por seu namorado, Carter. Eles são opostos, enquanto ela é toda simples, natural, aventureira, ele segue impecável em seus ternos, sempre muito elegante, com um sorriso irresistível nos lábios, capaz de fazer seu coração palpitar apenas com uma piscadela. É em seus braços que ela encontra a segurança de um relacionamento fácil, sólido, e que pode ser o ideal, aquele para a vida toda.

E então temos Jane, uma jovem que está fugindo de algo, recém-chegada a Winchester, encontrou motivação se tornando voluntária em um brechó beneficente. Apaixonada por livros, ama ler, mas existe uma regra que ela segue à risca… e é justamente os livros que a leva até o misterioso Joseph Carter, um homem lindo, encantador, inteligente, que parece perfeito demais para ser real, com quem ela estreita uma amizade, que resulta em um pedido inusitado, e por consequência em emoções conflitantes, será que eles vão conseguir se manter apenas como amigos?

“(…) Às vezes só conseguimos contar certas verdades quando estamos prontos.”

Estas três mulheres, Siobhan, Miranda e Jane, não têm conhecimento uma da outra, mas um mistério as une: o homem com quem estão se relacionamento, e que as deixaram plantadas no Dia dos Namorados. Como pode isso ser possível? Será que ele esconde segredos sombrios? Será que está brincando com todas elas? Quem é Joseph Carter e que poder é este que ele tem sobre estas três mulheres?

Mesa Para Um, começa com uma premissa muito instigante, três mulheres, três encontros, e três bolos, e ao que tudo indica, vítimas do mesmo homem, Joseph Carter. E meu pensamento logo de cara foi: Qual é a deste homem? O que ele está fazendo com estás três mulheres? E então a autora passa a nos contar as histórias destas mulheres, cada uma delas dando voz a sua própria trama e você se vê fascinado por cada uma delas, pois de fato, elas não possuem nada em comum, a não ser o homem que as une.

E neste tempo todo, eu aqui do outro lado, vendo essas mulheres incríveis e tentando entender qual a motivação deste homem “perfeito” que nos está sendo apresentado como um ser evoluído, maduro, inteligente, amoroso, respeitoso, estar se relacionando com as três e… já entenderam minha indignação?

A leitura que para mim tinha começado muito interessante, se tornou torturante, porque a cada capítulo eu ficava mais brava com Joseph Carter e queria a todo custo entrar na história, sacolejar as protagonistas e dizer a elas que parecem de aceitar suas desculpas, até que… em mais ou menos 80% da história o plot twist veio e tudo começa a fazer sentido.

Beth O’Leary é genial na construção dos seus livros, cada detalhe é muito bem pensado, este em específico merece uma salva de palmas. E agora escrevendo esta resenha, eu até entendo por que MESA PARA UM, desperta opiniões tão diversas com pessoas amando ou odiando, porque realmente é uma leitura que demanda paciência do leitor.

Ao longo de todo o enredo, a autora vai deixando pequenas pistas, pecinhas que se você for um exímio observador, já irá ir reunindo-as, ainda que eu não te garanta, que você vá conseguir montá-las antes que a autora faça isso por você. E é somente quando tudo está alinhando que vem a surpresa e o deslumbre com o que a autora fez aqui, com o cenário que ela criou e a forma como ela foi, palavra por palavra desenhando um desfecho inesperado.

MESA PARA UM, é uma história comovente, que retrata tantos temas reais e importantes, ainda que a autora não se aprofunde, até porque esta não é sua intenção, é para ser um texto fluido, quase que cotidiano, abordando dificuldades, violências, confrontos, anulação, que as mulheres têm na vida, no trabalho, nos relacionamentos e como isso impacta no interpessoal, nas defesas que são levantadas, na maneira como até não enxergamos determinados comportamentos. Tudo é muito sutil, delicado, mas feito com propriedade, a fim de gerar identificação, que você possa olhar para elas e se ver ali. É uma história de encontros e desencontros, de como é especial, e bonito, ser capaz de guardar coisas boas daqueles que passam por nossas vidas, de como o amor nos atravessa e às vezes mais de uma vez e que ele pode sim surpreender, mas que também pode deixar marcas que precisam ser enfrentadas e ressignificadas.

Aqui não falei muito sobre o Joseph Carter em si, pois ele é a chave desta história e não quero soltar spoilers ou deixar qualquer pista do que está por vir. E sim, eu indico a leitura, com algumas ressalvas e elas vão justificar a minha nota, o começo da leitura como já falei é instigante, só que a minha empolgação foi se esvaindo, e eu passei a achar tudo cansativo, enrolado, chato, a única coisa que passava na minha cabeça era o quanto a história parecia se tratar de três mulheres totalmente iludidas e apaixonadas, sendo enganadas pelo mesmo homem. E nada parecia justificar isto, e eu só segui persistindo porque não abandono leituras, porque de fato começamos a ter reviravoltas e respostas na segunda metade, já caminhando para o final, é em oitenta porcento da trama. E quando acontece é surpreendente, as pontas soltas se conectam, cria-se algo interessante e o livro volta a ser fluido, só que eu já estava tão saturada, que não consegui nem me emocionar ou se quer ter aquela palpitação, o arrepio não veio, eu só queria concluir a leitura.

Como eu já disse, seja um leitor paciente, aprecie cada palavra, cada momento que a autora está te oferecendo porque no final vai valer a pena. Finalizo dizendo que falei, falei, falei e não falei nada, pois não tem como falar daquilo que foi feito para se sentir. Então, dê uma chance, pode ser que você ame essa leitura.

Avaliação: 3 de 5.

  • The no-show
  • Autor: Beth O'Leary
  • Tradução: Paula Di Carvalho
  • Ano: 2023
  • Editora: Intrínseca
  • Páginas: 336
  • Amazon

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