Lady Hazel Sinnett tem um sonho, se tornar cirurgiã. Contudo, em Edimburgo, no século 19, isso era quase impossível para uma mulher. Isso não vai ser um empecilho para ela quando começa a estudar na Sociedade Real de Anatomistas, fingindo ser um homem. Mas sua felicidade ao estudar o que mais gosta não dura muito, pois ela acaba sendo descoberta. Para sua alegria, ela consegue fazer um acordo com o dr. Beecham, estudar sozinha para fazer o exame e, assim, se passar, o doutor deixará que ela continue com seu sonho.

Mas fora da sala de aula, Hazel vai encontrar a dificuldade de não ter o necessário para adquirir o conhecimento que precisa: cadáveres. Por sorte, ela vai poder contar com Jack Currer, um ressurreicionista (ele rouba corpos dos cemitérios e vende para os estudantes). Além desses problemas pessoais, Hazel precisa cuidar de uma doença que assola a sociedade de Edimburgo, a febre romana. Ao começar a estudar, a compreender mais a doença, outro mistério vai chegar ao conhecimento da futura cirurgiã, tão perigoso quanto a febre.

Livros com elementos góticos e com questões que envolvem o desenvolvimento da medicina e da anatomia sempre me chamam a atenção. Eu fico impressionada em como a parte “primitiva” da medicina era assustadora. As primeiras cirurgias e o modo como os médicos conduziam seus tratamentos é chocante e ao mesmo tempo fascinante. Graças aos experimentos loucos, hoje a medicina é extremamente avançada. Então, esse cenário gótico com essa primitividade médica vai acompanhar essa trama.

Um dos pontos positivos do livro é exatamente nessa parte de descoberta médica, já que uma doença assola a cidade e ninguém sabe a cura. Então, vamos ter Lady Hazel disposta a fazer de tudo para achar a cura. Além disso, a parte das aulas de anatomia são um show à parte, gostei muito de como a autora descreve os detalhes. A ideia de roubar corpos para pesquisa é meio assustadora, mas ver o modo como isso era importante para estudo me fez ficar maravilhada. Nessa época, os médicos acreditavam em coisas absurdas e faziam as maiores atrocidades quando o assunto é compreender o copo humano.

“Um tratamento é bom. Uma cura seria melhor ainda.”

Outro tópico da trama é um mistério envolvendo a morte de ressurreicionistas. Como Hazel está envolvida com Jack e com cuidados médicos, ela vai acabar investigando isso também. Acredito que foi aqui nessa parte que a autora mais pecou no clichê. Conforme avançamos na história, fica óbvio algumas coisas que irão acontecer. Inclusive, na parte médica, também conseguimos prever algumas decisões da autora.  

Obviamente, sabemos que a trama vai possuir romance, mas foi a relação de Hazel com seu prometido, Bernard, que eu mais gostei. Mesmo não sendo uma relação amorosa, eles estão “destinados” a ficarem juntos, pois assim foi determinado por seus pais. Hazel é muito determinada, preocupada e disposta a resolver os problemas que estão acontecendo. Bernard me pareceu um homem que, mesmo achando que os sonhos de sua prometida não vão adiante, está disposto a repensar no que acredita e quem sabe apoiá-la. É interessante o modo como a autora trouxe ele, pois mesmo inserido numa sociedade machista, ele não é de todo “mal”. Já Jack se mostra um ótimo amigo e companheiro leal.

A partir da protagonista, a autora vai discutir o papel da mulher nessa época e o que era esperado dela. Era esperado que as moças dedicassem suas vidas a arrumar bons casamentos, então o fato de Hazel querer estudar, ser uma cirurgiã (enfermeira até vai), é quase impossível para época. Conseguimos fazer relações com muitas profissões atuais que ainda são consideradas para homens ou para mulheres. Vamos ver isso, em muitas falas da própria protagonista, que ao tentar resolver as situações sabe que ela como mulher não vai ganhar o crédito ou atenção necessária. Até mesmo em seu ato de se disfarçar de homem mostra como ela está consciente de seu papel nessa sociedade.

Mesmo com momentos previsíveis, Em Anatomia: Uma História de Amor, Dana Schwartz, traz uma pegada de Medicina dos Horrores e mescla com mistério e história de amor. Ideal para fãs de tudo que o século 19 tinha de mais gótico.

Avaliação: 3 de 5.

  • Anatomy: A Love Story
  • Autor: Dana Schwartz
  • Tradução: Guilherme Miranda
  • Ano: 2023
  • Editora: Intrínseca
  • Páginas: 320
  • Amazon

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