Colheita de Ossos – Pablo Zorzi

Um município do interior de Santa Catarina, área rural e pacata, que explode de um dia para o outro quando corpos começam a ser encontrados em meio às lavouras. Como se um assassinato já não fosse o bastante para mudar a aura de paz do local, eles ainda trazem detalhes macabros para contar como aconteceram: os corações das vítimas foram arrancados, tornando tudo ainda mais assustador.

O escolhido para lidar com toda confusão formada é o policial Hugo Martins, que precisará se debruçar sobre os crimes para evitar que a população entre em parafuso. Com o passar do tempo ele nota que a tendência é que os acontecimentos piorem, ao que tudo indica, ele pode estar em busca de um serial killer, algo que aquela cidade nunca esteve preparada para lidar.

Quem me acompanha sabe que comecei a fazer um curso para virar escritor (quem sabe em breve não vemos algo meu resenhado por aqui), e um dos primeiros passos para aprender a escrever é aprender como se lê um livro, seus nuances, suas viradas narrativas, a personalidade dos personagens, a maneira como as cenas são ambientadas… uma série de detalhes que fazem um livro virar um best seller.

Em A Colheita dos Ossos temos um livro perfeito nos aspectos narrativos, é incrível como Pablo Zorzi consegue usar todos elementos de uma escrita para construir o cenário, os personagens e o suspense que giram em torno do seu enredo.

O livro é um primor em muitos aspectos da crítica literária, a começar pela forma como o ambiente é descrito, sempre usando de técnica para mostrar as cenas e não conta-las, fazendo a imersão do leitor nelas ser muito maior. É como se a gente assistisse a cena de perto, sabendo onde está cada objeto dela e a fisionomia exata de cada personagem.

Ahh e os personagens, outra coisa fabulosa são as características de Hugo, e da maioria daqueles que o cercam. A gente sabe seus trejeitos, vai aprendendo como sua mente reage aos fatos, ao ponto de depois da metade do livro já esperarmos a atitude dele, nos fazendo adivinhar como ele irá lidar com as situações e, mais uma vez, nos fazendo ter uma conexão com a história.

Todos estes detalhes, tão importantes para um livro, levam tempo para serem construídos, exigem linhas, páginas, capítulos, para que seu alicerce esteja pronto, e acabam tirando um pouco do espaço que deveria haver para sua ação aconteça com maior intensidade.

Esta é minha única ressalva com a obra, eu queria mais crimes, mais espaço para passar mais tempo ao lado de Hugo, e do assassino, uma briga maior entre eles, uma dificuldade mais intensa para que as coisas fossem ainda mais fortes e para que mais corpos fossem encontrados.

Porém, esta é uma crítica completamente infundada da minha parte, causada pela delícia que foi ter a experiência de ler mais um bom livro de Pablo Zorzi, que conheço há anos. E posso dizer, sem nenhuma dúvida, que ele chegou no ponto mais alto de sua escrita até agora, está perfeito, ao ponto de mais 100 páginas de história serem necessárias para apaixonar ainda mais o leitor.

O livro, para quem sonha em se tornar um escritor, é daqueles que além de entreter, ensina, e não é pouco viu?! Você precisa pega-lo e analisar minuciosamente as técnicas que o autor utiliza, transportando-as para a história que tem na sua cabeça. A forma como ele cria os ambientes realmente me deixou chocado, é de uma profundidade digna do cinema, onde a gente parece estar assistindo ao que nos é contado através das palavras.

Tenho certeza de que Pablo Zorzi não irá parar por aqui, sua carreira literária está no começo, e muito em breve irá se tornar um dos melhores escritores do país, nossa literatura precisa de pessoas assim, de autores com técnica e com sabedoria para criar histórias que fazem o leitor se sentir como um personagem, se arrepiando a cada novo acontecimento da trama.

Colheita de Ossos que foi lançado primeiramente pelo selo de inéditos da TAG, agora ganha uma edição muito mais bonita, com uma capa lindíssima da Astral Cultural, mesma editora que lançou seu livro anterior O Homem de Palha.