Isobel é a melhor em sua profissão moralmente questionável: ela é uma arquiteta de Paraísos Artificiais, uma coleção das melhores memórias de uma pessoa, a serem revividas infinitamente por sua consciência depois de seu falecimento. Isobel acredita na importância de seu trabalho, e tenta garantir um pós vida perfeito para aqueles que veem seu futuro próximo marcado pela morte.
A vida perfeitamente organizada da protagonista é profundamente mudada quando se apaixona por um de seus pacientes, que está em estado terminal. Tudo toma um rumo ainda mais drástico quando na mesma noite em que esse paciente morre, a esposa dele é assassinada. Isobel se vê enredada em uma trama que fará com que ela questione toda a vida que levou até então.
Essa é a sinopse de “O Paraíso das Lembranças”, obra que mistura ficção científica e mistério, escrita por Holly Cave e publicada recentemente pela editora Rocco.
Fui fisgada pelas reflexões que essa sinopse prenunciava: quais as implicações de tentarmos tomar controle do paraíso, e do que nos acontece após a morte? Essa pergunta toma consequências ainda maiores quando pensamos que o único critério para garantir o paraíso passa a ser financeiro. Podemos ainda questionar a escolha de abrir mão do que quer que possa acontecer conosco após a morte para ter a certeza de passar a eternidade revivendo o passado. Será que essa realmente é uma boa decisão?
Sem dúvida “O Paraíso das Lembranças” toca nessas temáticas. Ocorre que esta narrativa tratou de tanta coisa que me pareceu que nada foi desenvolvido com profundidade. É um livro de ficção científica, mas não consegui entender completamente como Isobel executava sua função como arquiteta.
Esta história também contém um mistério, que gira em torno de um assassinato. O encaminhamento desta questão me pareceu bastante óbvio, no entanto, e em torno da metade do livro já imaginava como ele iria acabar. Certos trechos me fazem crer que essa foi uma escolha narrativa da autora, que não estava interessada em criar suspense, e sim em trabalhar certos traços psicológicos de suas personagens. Trata-se de um aspecto que pode tanto agradar quanto prejudicar a experiência de leitura, a depender da expectativa em torno da história.
Por fim, existem ainda as questões de natureza filosófica nas quais esta narrativa resvala, mas não se aprofunda. Ainda assim, “O Paraíso das Lembranças” me proporcionou algumas reflexões interessantes a partir de uma análise da personagem principal, tão preocupada com que tudo seja perfeito, e de suas alterações de comportamento quando os acontecimentos acabam escapando do seu controle.
Isso me faz crer que essa pode ser uma boa escolha para um clube de leitura, por exemplo, ou qualquer outro contexto em que o leitor possa debater os temas trabalhados nesta história e expandir as reflexões que ela propõe.
- The memory chamber
- Autor: Holly Cave
- Tradução: Elisa Nazarian
- Ano: 2023
- Editora: Rocco
- Páginas: 352
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