Dois Erros, um Acerto – Chloe Liese

Jamie e Bea são um casal improvável. Ele é um pediatra todo certinho e cheio de regras, ela é uma artista erótica e pura confusão. Embora completamente opostos, a irmã gêmea de Bea resolve dar um empurrãozinho e apresentar os dois em uma festa. O resultado são alguns copos de bebida derramados no rapaz e um momento constrangedoramente sedutor em um pequeno armário.

“- Eu sei que você vai ficar bem – ela diz. Mas a vida é muito curta para estar só bem.”

Depois do primeiro contato caótico, cheio de olhares de desprezo e uma boa troca de farpas que parecia não ter fim, ela esperava nunca mais ter que ver a cara de Jamie, mas seus amigos têm uma ideia diferente quando armam um encontro às cegas para os dois. Após uma semana de conversas pelo celular, sem saber que se conhecem e começando a gostar um do outro de forma inesperada, o grande encontro é um choque, não apenas pelo desaforo da mentira, mas por perceberem que não são assim tão opostos quando agem de coração aberto.

Completamente irritados por se sentirem enganados e manipulados, Jamie e Bea resolvem se vingar fingindo que estão realmente namorando para depois terminar o relacionamento de forma teatral. Eles só não contavam com o fato de que iam se apaixonar no meio do caminho.

Ainda que essa tenha sido uma leitura super gostosa e leve, alguns pontos me incomodaram e precisei tirar algumas estrelas da minha avaliação final.

O primeiro ponto é que a autora Chloe Liese tentou trazer diversidade para a trama, pois Bea, além de estar no espectro autista, é pansexual. Mas a originalidade parou por aí, pois para mim a garota é uma protagonista padrão, com o único detalhe de ter tais características jogadas ao acaso, já que nada disso é trabalhado com detalhes, ficando apenas o lado estereotipado da coisa nas páginas.

Na mesma toada, Jamie tem alguns traumas com a família e questões psicológicas que o fazem ser considerado grosseiro na maioria das interações com Bea, porém o desenvolvimento desse contexto ficou um pouco superficial, no meu ponto de vista.

Fora esses detalhes, o casal tem uma química incrível desde o início, mesmo sabendo o quanto são diferentes, ainda assim conseguindo fazer a relação funcionar.

“As pessoas não querem assumir a responsabilidade de amar algo, só esperam que seja conveniente para elas. Você tem que atender às necessidades da criatura viva e amá-la por quem ela é, e não por quem você quer que ela seja.”

Convenhamos que esse plano de vingança não faz o menor sentido, né? Quem em sã consciência acharia uma brilhante ideia fazer exatamente o que os amigos esperavam deles? Entretanto, relevando a coisa toda, a verdade é que eles arranjaram um jeitinho de se tocarem sem culpa e demonstram sentimentos intensos em praticamente todas as cenas, mesmo naquelas em que tomam algo quente juntos enquanto jogam xadrez, uma das únicas coisas em comum do casal.

Gostei da evolução do relacionamento da Bea e do Jamie, mas outros pontos da trama precisavam ser mais bem delineados, como por exemplo, a situação pela qual a irmã gêmea da Bea passa na trama. A Chloe deixou para falar sobre isso em praticamente uma conversa das duas e nada mais. Ficou à desejar, pois minha impressão foi a de que a autora buscou apenas inserir um gancho nesse livro para a continuação, que ainda não foi lançada no Brasil.

Ainda assim, foi um bom romance, com cenas divertidas, momentos intensos e que me fizeram suspirar e ansiar pela sequência para, enfim, conhecer a história de Jules.