Uma garota com um futuro brilhante, Tarryn está se formando em literatura em uma renomada faculdade de Boston. É lá que ela conhece um professor muito atencioso, daqueles que irá fazê-la se apaixonar ainda mais pelo curso.
Jack é casado há mais de uma década, apaixonado pela esposa mas, as vezes a fidelidade é posta à prova, afinal, são tantas alunas deslumbrantes, que se sentem fascinadas pela sua inteligência e por toda influência que possui na faculdade, que ele pensa em fraquejar.
Os dois irão se conhecer, se aproximar, se envolver. Ele a indica para a pós-graduação, ela, saída de um relacionamento traumático, se vê agradecida e mais apaixonada do que estava pela literatura.
Mas, um belo dia, a garota aparece caída em meio ao prédio onde mora. Tarryn está morta, tudo aparentemente está claro, pela dificuldade da faculdade, pela pressão que os alunos da graduação sentem, pelo namoro que acabou de um jeito ruim, pelos desafios que o começo da vida adulta impõem… não lhe faltavam motivos para fazer aquilo consigo mesma.
A detetive designada para acompanhar a remoção do corpo é Frankie Loomis, uma mulher experiente, mãe de duas adolescentes, o que faz a cena se tornar traumática para ela. As filhas viverão os mesmos problemas de Tarryn em breve e ela não poderá mantê-las algemadas embaixo de suas asas. A cena chama a atenção da detetive, sua competência a impede de simplesmente assinar o final do caso como suicídio. Tarryn tem marcas no rosto que parecem ter vindo antes da queda, algo no caso diz que mesmo com tantos problemas, a garota não seria capaz de cometer aquele ato.
Obsessão Fatal é um livro incrível! Tess Gerritsen é daquelas escritoras que assim que o anúncio de um futuro livro seu é feito eu o coloco imediatamente no carrinho de compras, há anos a tenho como uma referência da literatura policial. Esta leitura foi ainda mais especial, foi a primeira vez que li um livro seu com olhar crítico, com embasamento, e não apenas pelo entretenimento, como fazia antes de fazer um curso avançado de escrita.
Pude notar várias técnicas que aprendi durante o curso sendo empregadas de forma brilhante pela autora. Suas viradas narrativas acontecem no tempo certo e a forma como o enredo é criado segue muito a fórmula de sucesso dos grandes best sellers. Por fim, ela ainda consegue descrever várias cenas usando o show don’t tell com perfeição.
Entretanto, Tess Gerrietsen e Gary Braver pecam muito no final. A história segue uma coerência perfeita, começando as investigações com o ex-namorado da universitária, revelando aos poucos a personalidade nada fácil da vítima, que não conseguia se conformar nada com o final do namoro. Vamos descobrindo aos poucos como era a relação dela com o professor e como as coisas vão evoluindo. Tudo era muito crível… até o final.
A resolução do caso joga toda coerência fora, atirando longe qualquer preocupação com a credibilidade e o cuidado que existiu durante todo seu desenvolvimento. Não é que o final seja imprevisível ou surpreendente, ele é impossível. E nada me deixa mais insatisfeito como leitor do que isto.
Mas saliento, o livro não fica ruim, ele traz elementos muito interessantes e bem destacados, como a história de Medéia, que tem coerência com o texto. O que mais gostei foi a personalidade dos personagens, desde o professor e sua esposa até a própria detetive protagonista, que pega uma dor que deveria se tratar como algo unicamente profissional, e a abraça, criando esse elo com a vítima, alguém que ela nunca havia visto enquanto estava viva.
O melhor de tudo, é conhecer a ambiguidade que a própria Tarryn nos demonstra. Ela é uma jovem linda, que tinha muitas qualidades e acabou com uma morte aterrorizante. Mas sua personalidade não era cem por cento ilibada. Perseguia o namorado depois do fim do relacionamento, surtava com facilidade e, talvez, dependendo de como você ler a história, tenha seduzido o professor. Essa dualidade, em fatos tão conflitantes, da um ar muito interessante à história, causando várias discussões na mente do leitor, que quer saber quem era a verdadeira Tarryn e do que ela seria capaz.
Falando exclusivamente de Tess Gerrietsen, ela ficou conhecida pela série policial da dupla Rizolli e Isles, duas mulheres que resolvem crimes juntas e fazem sucesso até na TV. Seu texto sempre fortalece as mulheres, colocando-as como protagonistas e isso nunca dá errado.
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Desta vez ela se alia a um segundo escritor para um romance apartado da série. Gary Braver é autor de “Visões da Morte”, thriller lançado em 2012 aqui no Brasil. Nunca tive interesse em ler seus livros, então não posso dizer qual dos dois autores foi o responsável de fato por “estragar” minha leitura com este final assombroso.
De qualquer maneira, mesmo com o final terrível o livro ainda vale a pena. Se ele tivesse sido coerente com o restante da história, o livro provavelmente teria sido favoritado por mim, ganhando aquelas cinco estrelas especiais. Com esta grande decepção ele perdeu algumas, infelizmente.
- Choose Me
- Autor: Tess Gerritsen e Gary Braver
- Tradução: Ângelo Lessa
- Ano: 2023
- Editora: Record
- Páginas: 322
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