Não consigo me despedir desta que se tornou uma das minhas séries de romance de época favorita. Os Excêntricos foi uma surpresa inesperada, com personagens femininas fortes, determinadas, além de seu tempo, sem medo de irem à luta, que fazem suas vontades valerem, assim como suas vozes serem ouvidas, me conquistou desde o primeiro volume até o último, sem nunca deixar de me surpreender e encantar.

Conheça a série Os Excêntricos

Courtney Milan foi muito perspicaz na maneira como escolheu introduzir debates feministas, assim como fatos históricos – ainda que com liberdades criativa -, tornando a leitura muito mais interessante e relevante, nos tirando dos salões londrinos e nos colocando em faculdades, jornais, estufas, manifestações… é de uma imensidão linda e poderosa.

E para encerrar com chave de ouro, somos reapresentados a Free, ou melhor, Frederica Marshall, irmã de Oliver, protagonista do segundo livro da série – O Desafio da Herdeira -, lá já era possível vislumbrar um pouquinho do que poderíamos esperar de Free, que se tornou uma mulher notável. Uma sufragista, que foi para a faculdade, criou seu próprio jornal, feito por mulheres e para mulheres, se tornando dona e editora, alguém com visão, determinada a dar voz aos menos favorecidos, esquecidos, que precisavam ter suas histórias contadas, assim como, trazer a luz questões importantes, como o a busca pelos direitos das mulheres e o poder do voto.

Obviamente que ser uma mulher forte, que “pensa” e incentiva as demais mulheres a pensarem, incomodou muito gente, pessoas poderosas que gostariam de manter as coisas exatamente como elas eram; dispostas a tudo para calar uma voz que ecoa. Que mais que silenciá-la quer vê-la definhar, arruinada. Só que Free conhece os riscos de ser quem é, e esta determinada a não permitir que nenhuma ameaça a tire de seu propósito e objetivo. E no meio deste caos que ela irá conhecer o Sr. Clark, um homem solitário, misterioso, que aparece com a intenção de “ajudá-la”, porém, deixando claro que essa ajuda é para seu próprio benefício, e vingança.

(…) Free suspeitava que o Sr. Clark era o tipo de salafrário que a faria se sentir muito, muito bem antes de casualmente destruir a sua vida.

Edward Clark, passou por situações as quais não desejaria a ninguém. Membro de uma família aristocrática complicada, que o abandonou a própria sorte quando ele mais precisou, em um lugar devastado pela guerra sem nenhum auxílio. Se vê retornando para a Inglaterra depois de anos, a fim de ajudar um velho amigo, e de quebra, se vingar do seu próprio sangue. Ele não é mais o jovem que foi embora e abandonado, em sua luta por sobrevivência precisou desenvolver certas habilidades, habilidades estas que até podem ser tidas como duvidosas, ele não nega sua canalhice, que é um vigarista, um falsificador procurado, mas ele jamais prejudicaria um inocente.

E a Srta. Marshall parece estar bem no centro dos tumultos, e ele poderia ajudá-la, ela não precisa saber quem ele é, nada sobre seu passado, afinal, Free é apenas um peão em sua grande vingança, ou isso é o que ele gostaria de ser verdade.

Em um intricado emaranhado de destinos, Free e Edward viram-se compelidos a unir suas forças, como se tudo conspirasse para entrelaçar seus caminhos em um propósito comum. Free está acostumada a manter seus olhos bem abertos, ciente do risco que corre ao confiar em qualquer um, e ainda que o próprio Edward ressalte seus defeitos e o quanto é inconfiável, ela é incapaz de resistir ao magnetismo que emana de sua presença, não conseguindo evitar baixar a guarda e se tornar uma aliada, mais que isso, se vê presa na aura de sedução e mistério, que insistem em embaralhar suas emoções.

Edward do outro lado, se vê deslumbrado, encantado, preso pela pequena notável, tão inteligente e sagaz, com uma mente afiada, sempre o desafiando e se mostrando páreo em uma boa luta. Ela o domina, e isso é inaceitável.

Que livro bom. O Escândalo da Sufragista, transcende o romance e as questões políticas, se revelando uma leitura envolvente que incita reflexões importantes e profundas, principalmente sobre o papel da mulher na sociedade e os muitos desafios que elas enfrentavam na época. Courtney Milan, segue oferecendo, diálogos perspicazes, personagens bem desenvolvidos, cenários bem construídos, e o pano de fundo histórico que enriquecem a trama. Adicionando ainda segredos do passado que acrescentam uma camada extra de complexidade, enquanto o romance floresce de maneira autêntica, livre de clichês.

Free é o tipo de personagem que cativa o leitor desde o início. Uma jovem que mesmo diante de todas as adversidades, das dificuldades e obstáculos que encontra no caminho, segue acreditando, porque é aos pouquinhos, são os pequenos passos, alguém precisa começar, precisa seguir independente dos dedos apontados, das ameaças e do perigo. Ela exala essa força, e ainda que tenha medo, ele não a domina, porque o propósito é maior.

Edward é um personagem interessante, um aristocrata que se viu sendo renegado, deixado a própria sorte e precisando mais que encarar o mundo a sua volta, enfrentar a si mesmo, uma batalha dolorosa, que o levou a aprender uma profissão, a fazer o que era preciso para sobreviver. Sempre respeitando, ouvindo, sendo um homem que mesmo carregado de dores e negações, até pessimista em relação as pessoas, consegue encontrar motivos para seguir, cuidar e proteger os seus.

Eu poderia dizer que temos aqui um slow burn, um romance que é construído pouco a pouco, que vai crescendo, florescendo e amadurecendo com o passar da convivência, no encontro do respeito, no ganho da confiança, no abrir das vulnerabilidades e acolhimento do outro exatamente como ele é. Um relacionamento onde eles se tratam como iguais. Precisando enfrentar segredos e revelações estarrecedoras.

— Claro que o senhor não quer pensar no assunto. É obvio que o senhor não quer pensar em nada. Porém, apesar da sua ignorância cultivada com tanto cuidado, vai ter que compreender que uma mulher tem o direito de dizer não.

Deixo uma menção honrosa aos personagens secundários, um carinho ao espaço dedicado a uma personagem em especial, que irá viver seu próprio romance – quando você ler, você vai entender. E a toda pesquisa, e fatos históricos que só enriqueceram ainda mais a trama. Eu amei, e recomendo fortemente a leitura a todos que gostam de um bom romance de época.

Avaliação: 5 de 5.

  • The suffragette scandal
  • Autor: Courtney Milan
  • Tradução: Caroline Bigaiski
  • Ano: 2023
  • Editora: Arqueiro
  • Páginas: 336
  • Amazon

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