Sam e Maggie, um casal perfeitamente normal, moram em um bairro perfeitamente normal, com um cachorro, chamado Winston, perfeitamente normal. Eles moram em um bairro com casas iguais, pessoas praticamente iguais e que levam uma vida aparentemente tranquila. Contudo, o cachorrinho Winston está morto, e a vida perfeitamente normal parece ser uma mentira.
Sam e Maggie, assim como todos em sua cidade, são vigiados constantemente. Sendo assim seus movimentos e suas falas devem ser cautelosos. Eles precisam constantemente reprimir sentimentos, tentar esquecer as lembranças. Claramente, algo de muito sinistro acontece neste bairro. Ao conhecer o vizinho Charlie, a vida pacata desse casal vai tomar um rumo perigoso.
Em uma sociedade controladora que pune rigorosamente os que questionam e se rebelam, o que acontece quando, na realidade, não está tudo bem?
Mike Birchall se inspira na obra de George Orwell, 1984, para construir essa história. Ela é a série de horror mais popular na plataforma Webtoon. Aqui também temos uma realidade distópica na qual os personagens (todos com cabeças de gatos fofos) são vigiados constantemente. No site do Webtoon, a série já passou de 60 episódios, e nesse primeiro volume temos os 16 primeiros, além de um conteúdo extra. A edição está muito caprichada, com o papel tipo de revista, o que torna o livro mais pesado que o normal.
A leitura de HQs foi um caminho sem volta em minha vida. Eu quero ler tudo que vejo, mas sofro com o fato de não saber ler em inglês. Então, preciso esperar que conteúdos que saem em plataformas de leituras online, como Webtoon, sejam traduzidos e publicados no Brasil. Está Tudo Bem me chamou atenção na hora por trazer como referência meu livro favorito, 1984; apresentar características fofas em um cenário distópico e prometer horror.
Nesse primeiro volume da série, não me decepcionei, mas esperava mais. Já conseguimos perceber a fiscalização constante e opressiva nas primeiras páginas. Mesmo que as cores sejam neutras e que as caras dos personagens sejam fofinhas, o clima de tensão está evidente. Eu gostei muito que as expressões faciais dos personagens não mudam, então eu mesma ia inventando, na minha imaginação, as reações dos rostos ao que acontecia. Além disso, acredito que também seja esse fato a colaborar para a estranheza da narrativa.
“Você é um amor de pessoa e eu não te mereço.”
Sam e Maggie possuem dois vizinhos tão estranhos quanto eles. Fica evidente que algo rola nas duas casas. Conseguimos ter uma ideia das preocupações de Sam e Maggie, mas o outro casal parece mais suspeito. Quando percebi que o cachorro estava morto a alguns dias, tentei compreender os motivos dele ainda estar dentro de casa. Mesmo que ainda seja um mistério para mim, consegui ter uma ideia melhor desse mundo opressor com as atitudes deles perante a esse fato. Há um momento mais importante de socialização desses personagens que deixa tudo ainda mais suspeito.
Há um vizinho mega suspeito, Charlie. Tudo sobre ele é estranho. Além disso, ele é, de certa forma, o responsável pelo “desastre” na vida desses dois casais. O tempo todo, eu só conseguia pensar que cada fala, cada movimento dos personagens é friamente calculado e que eles estão se precavendo de algo. Por isso, sabemos pouco sobre eles. O passado é um mistério, e o presente começa a fazer sentido aos poucos.
Obviamente não temos um desfecho para a história. Na verdade, percebemos que a trama está só começando. A narrativa acaba em um momento de ápice, e eu fiquei chocada com o que aconteceu, foi rápido e eu fiquei surpresa com o final. Não achei que os personagens se comportariam daquela maneira. Não se deixem enganar pela fofura dos personagens, Está Tudo Bem veio para mostrar que a vida de aparências pode ser sufocante.
- Everything Is Fine (#1)
- Autor: Mike Birchall
- Tradução: Érico Assis
- Ano: 2023
- Editora: Suma
- Páginas: 272
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