A população de Seattle-Portland ficou décadas sob o regime autoritário de Delegação. Aqui nesse contexto, as pessoas usavam um implante ocular, o Insight, que permitia que a Delegação soubesse de tudo da vida dos cidadãos. Esse controle era assustador, pois quem não vivia de acordo com as regras, que possuíam até slogan: “o que é certo é certo”, era punido.
Felizmente, esse mundo cruel ficou para trás. Uma revolução conseguiu derrubar do poder a Delegação e assim todos puderam se livrar do Insight. Muitas pessoas faziam parte desse regime autoritário, e elas foram enviadas para uma prisão chamada Abertura. Longe da população central, lá eles vivem suas vidas normalmente, como uma espécie de bairro. Entre esses está Sonya Kantor, garota-propaganda oficial da Delegação. Inesperadamente surge para ela, a possibilidade de sair dali e ser livre para sempre. Sua missão não será fácil, ela precisa encontrar uma menina que desapareceu há anos. Com algumas pistas em mãos, Sonya, sai da abertura pela primeira vez em dez anos.
“Me parece que se todas as suas escolhas se baseiam em desafiar um sistema, você é tão submetido a esse sistema quanto alguém que obedece a ele.”
Acredito que o ponto de destaque dessa trama seja o fato de acompanhar uma protagonista que é considerada vilã. Ela fazia parte de um regime que controlava tudo e todos. Sendo assim, eu estava curiosa para ver se ela tinha uma visão de quem não acredita mais no que defendia, ou se estava numa posição na qual não tinha escolha quando era a garota-propaganda, ou se ainda acreditava que o melhor era o regime anterior.
Então, assim, temos outro elemento interessante da trama, a própria protagonista. Sonya é uma personagem que me deixou curiosa o tempo todo. Ela me passava a impressão de não ser verdadeira e que faltava algo em suas atitudes. Em alguns momentos, duvidei de suas reais intenções. Até me perguntei se isso não era de propósito feito pela autora, pois Sonya queria ser livre acima de tudo, então suas atitudes poderiam ser feitas com base nisso. Com isso, para mim, ficou mais difícil criar um sentimento empático com ela.
Sonya mostra que sabe muito mais do que imaginamos para uma simples garota-propaganda. É a partir das reflexões e de suas conversas com outros personagens que vamos compreender melhor como era o mundo antes e como ele é agora. Conforme a narrativa avança, vemos a ligação da família de Sonya com a Delegação e compreender melhor a trama política desse contexto. Confesso que achei a vida dela muito tranquila e que o modo como ela vai seguindo as pistas e descobrindo algumas coisas para achar a menina desaparecida é muito fácil.
Os debates sobre as questões tecnológicas são ótimos, e eu me vi em vários momentos compreendendo os dois lados na história. O avanço tecnológico não para, e nos questionar sobre limites é sempre pertinente. Aliado a isso, vamos ver os efeitos da vigilância e a manipulação sobre o povo. Esses temas não são inovadores (1984 tá aí há muito tempo), mas há questões sobre valores éticos e morais muito interessantes.
Garota-propaganda é uma distopia que bebe de outras, mas que inova ao mostrar uma visão diferente sobre quem conta a história. Livro ideal para quem gosta do gênero e para quem adora refletir sobre a tecnologia, seu avanço e os aspectos éticos sobre seu uso.