Holly, finalmente, ganhou seu livro solo. A personagem apareceu pela primeira vez na trilogia Mr. Mercedes, como uma coadjuvante de Bill Hudges. Já naquela oportunidade roubou a cena para si, se sobressaiu e viu sua importância tomar conta de toda história, a ponto de no último volume da série, “Último Turno”, se tornar a peça mais importante do desfecho do enredo.
Depois da trilogia ela ainda apareceu em “Outsider” e teve um conto próprio, protagonizando sua primeira história, em “Com Sangue”, o livro de contos lançado em 2020, que dá título ao livro.
Os fãs pedem um livro só seu desde a trilogia, quando ganhou seu conto próprio, ficou evidente que o amor de todos fãs estava recebendo sua retribuição e que o desejo era também do seu criador, que sabia muito bem o peso daquela personagem.
Minha análise sobre a leitura é algo secundário neste caso, é repleta de paixão e muito parcial, já que Holly está no topo das minhas personagens favoritas de toda a literatura. A obra precisaria ser muito ruim para que eu não a amasse, e ela está longe de ter defeitos, é perfeita do começo ao fim.
Holly Gibney é a dona da agência de detetives “Achados e Perdidos”. E um novo trabalho irá mexer com seus sentimentos. Uma mãe está desesperada após a filha simplesmente sumir e sua única esperança é de que Holly consiga encontrá-la e dar fim a todo seu sofrimento. Algo na história que Penny Dahl lhe conta, a toca de uma maneira profunda, Holly sente que pode sim ajudar essa mãe, mesmo que ela não tenha ideia do que precisa fazer para realizar este desejo.
As investigações são bem profundas, o que passa um realismo bem interessante para a história. As coisas para a detetive não são nada simples, ela parte do nada para tentar buscar informações que possam lhe dar um norte sobre o que fazer naquele caso. Mas mesmo com uma investigação minuciosa, que deixa o leitor em uma tensão sobrenatural, o livro é perfeito por outros pequenos detalhes, que simplesmente arrebatam nosso coração.
Arrisco dizer que este é o livro mais crítico de Stephen King, pelo menos nos últimos dez anos. Ele aponta o dedo e dá nomes às pessoas que quer atingir com suas críticas, encaixadas com uma perfeição extrema no seu enredo, elaborando um desenvolvimento crescente a partir de cenas arrasadoras e emocionantes.
Logo no começo do livro teremos a morte de uma personagem importante. E não é uma simples morte. Essa pessoa é vítima da COVID-19 e era uma negacionista, por não ter se vacinado acaba arrebatada pela doença. King foi muito ativo nas críticas ao governo de Trump, e não deixa de potencializá-las no seu livro. Audacioso, sabe como colocar as palavras, dando a visão dos dois lados, mostrando que até entende como pessoas foram enganadas durante a pandemia, com falsos profetas que queriam ditar como deveriam agir, sem nenhuma comprovação científica, apenas pelo fanatismo.
Holly cresceu, vem potencializando sua importância a cada história, e apaixona qualquer leitor. A obra que leva seu nome está à sua altura, é enorme, maravilhosa do começo ao fim, com o caso principal recebendo a devida importância em torno de tudo que acontece em seu enredo. É daquelas leituras que quando fechamos o livro temos certeza de que valeu a pena a espera.
Mesmo que as séries não sejam o carro chefe do escritor, fica a torcida para que Holly ganhe novas histórias, que seja bem explorada, como já tem sido. Nos despedimos da pandemia, de Donald Trump (por enquanto), e de outras coisas mais, algumas reais, outras tiradas da cabeça de Stephen King nessa obra maravilhosa, tomara que com Holly não seja um adeus.
- Holly
- Autor: Stephen King
- Tradução: Regiane Winarski
- Ano: 2023
- Editora: Suma
- Páginas: 448
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